
A empresária Sílvia Calabresi Lima, de 49 anos, acusada de torturar e manter em cárcere privado uma menina de 12 anos, admitiu em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, que era a mandante dos maus-tratos e alegou que estava “educando” a garota. “Na minha cabeça, eu não estava torturando. Eu achava que estava educando”, afirmou. A menina L., de 12 anos, foi encontrada por policias no dia 17 acorrentada e com marcas de tortura. Sílvia está presa no Centro de Prisão Provisória, na Grande Goiânia, sem contato com as outras detentas. O advogado de Sílvia, Darlan Alves Ferreira, disse que pedirá um laudo psicológico, na tentativa de provar que ela não agia em plena consciência. Sílvia, porém, declarou: “Eu não sou louca.”
A comerciante concordou em falar na presença de dois advogados e de um tio do marido. Sílvia, que tem três filhos, mas mora com apenas um, de 3 anos, já foi acusada por outras quatro menores de maus-tratos e tortura. “Eu já morri! Minha vida já acabou. Já sei que eu vou ficar aqui, tenho noção disso. Eu não sou louca. Devo, vou confessar em Juízo o que eu fiz, mas vou desmentir o que eu não fiz. Tenho consciência de que daqui eu não saio, quero pagar, vou pagar, como toda presa. Eu estou escrevendo um caderno. Já sei que não vou sair daqui. Só que eu não queria ficar em isolamento. Eu queria ficar junto com as presas”, disse durante a entrevista.
A menina de 12 anos torturada por Silvia disse, em depoimento prestado na semana passada à delegada Adriana Accorsi, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia, que um filho da comerciante e a empregada da casa também participavam dos maus-tratos, ajudando a amarrar e agredir. Mais: a empregada mantinha um diário relatando as agressões. No depoimento, a menina deu outros detalhes de sua dramática rotina nos últimos dois anos. Conforme a garota, outras pessoas da família sabiam dos abusos, mas não denunciavam a empresária.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, a delegada Adriana Accorsi afirmou que pretende encerrar o inquérito policial na quarta-feira, com o indiciamento de pelo menos quatro pessoas. Ela acredita na tese de omissão em caso de tortura, crime punido com quatro anos de prisão. “Agora dizem que ela (Sílvia) é louca. Se fosse louca, também maltrataria os três filhos e isso não aconteceu.”
A delegada diz que os maus-tratos não eram segredo, mas viraram assunto proibido na família. “O engenheiro Marco Antonio (marido de Sílvia), sabia, pelo menos, do trabalho doméstico (escravo) de todas as meninas menores de idade”, disse a delegada. “Tanto que foi ele quem nos revelou a história da menina A., de 10 anos, natural de Adelândia, que viveu na casa deles há seis anos.”