MPT vê tática eleitoral em textos de empresas ‘preocupadas com o futuro’
Órgão criou gabinete de crise para lidar com aumento de assédio no ambiente de trabalho
O movimento realizado nas últimas semanas por empresários bolsonaristas de anunciar redução de produção e ameaçar diminuir o quadro de funcionários pode denotar uma arquitetada estratégia política para garantir a vitória do presidente da República nas urnas, segundo o Ministério Público do Trabalho.
O aumento de circulação de informes de empresários se dizendo preocupados com o futuro da empresa em caso de “mudança na condução do país” levou o órgão a criar um Gabinete de Crises, que nasce com o objetivo de atuar com celeridade nas investigações, segundo relatou José de Lima Ramos Pereira, procurador-geral do MPT, a VEJA. “É preciso apurar esses episódios com cautela, e verificar se está beneficiando algum político, mas essas ações dão uma ideia de que há uma coordenação organizada nesses casos”, diz Pereira.
Os comunicados que viralizaram em redes bolsonaristas seguem o mesmo padrão: informam os fornecedores de uma possível redução nos pedidos, em razão da “instabilidade política”. Em nenhum momento, há pedido de voto em Jair Bolsonaro (PL), mas um alerta de ordem econômica, que joga dúvidas sobre o futuro em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A intensificação do trabalho da instituição se dá em um momento de alta nas denúncias de assédio eleitoral, que atingem “números alarmantes”. “Comparado à última eleição presidencial, em 2018, nós estamos tendo muito mais denúncias. Lá, foram somente algumas ocorrências, as quais foram levadas a investigação. Já agora, são 50 denúncias, uma estatística altíssima. Posso afirmar que essas eleições estão diferentes, é um crise”, disse o procurador-geral do Trabalho.
O Ministério Público do Trabalho também suspeita de que canais falsos de denúncia estejam sendo criados para conseguir informações dos denunciantes, em forma de retaliação aos casos de crime. Para efeito de esclarecimento, há somente dois canais oficiais para relatar casos ao MPT, via site e pelo aplicativo “MPT Ouvidoria”.