Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

MP revela maior esquema de manipulação de resultados no futebol do país

Escândalo levou catorze pessoas ao banco dos réus e envolveu clubes da elite

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h44 - Publicado em 6 Maio 2023, 08h00

Já eram 23h30 do dia 17 de outubro do ano passado quando chegou a proposta indecente via WhatsApp: “Tomou um vermelhinho no primeiro tempo, já era. Serão 400 000 reais a mais na fortuna”. O receptor da mensagem era o zagueiro Joseph Maurício, 28 anos, do Tombense (MG), clube que disputa a Série B do Brasileiro. A oferta em questão: ser expulso contra a Chapecoense (SC) dali a quatro dias. “Coisa grande, né?”, respondeu o jogador. Apesar de tentado pela sondagem, ele acabou rejeitando o negócio. Duas semanas depois, Joseph recebeu uma segunda oferta: cometer um pênalti no primeiro tempo contra o Criciúma (SC), em 5 de novembro. Aos trinta minutos da primeira etapa, ele abraçou um adversário na área após cruzamento. Pênalti marcado, gol dos catarinenses e um PIX de 150 000 reais na conta de Joseph. Ele nega a acusação, mas está no banco dos réus com mais treze pessoas acusadas de integrar o maior esquema de manipulação sob investigação no país e que já atinge até partidas envolvendo clubes da elite nacional.

A reportagem de VEJA teve acesso a diálogos em poder do Ministério Público de Goiás, responsável por investigar o caso, que mostram como funcionava o esquema (veja alguns deles abaixo). A Operação Penalidade Máxima 1 começou quando o presidente do Vila Nova (GO), Hugo Jorge Bravo, tomou conhecimento de que um de seus jogadores, Marcos Vinicius Alves Barreira, o Romário, estaria envolvido em manipulações de resultados e em situação muito delicada. Ele teria contraído uma dívida com uma quadrilha após pedir 10 000 reais adiantados para entregar a um colega de time, comparsa no esquema. O dinheiro foi destinado, mas a promessa de pênalti não foi cumprida e o bando deixou de arrecadar 500 000 reais. Com o “rombo”, o grupo criminoso, liderado por Bruno Lopez de Moura, o BL, não conseguiu arcar com outros compromissos e deixou descontente uma parte dos executores do plano.

À medida que o MP puxou o fio da meada, ficou claro que os tentáculos iam além do futebol goiano. Mesmo com a investigação, o grupo continuou manipulando apostas em 2023 e chegou aos campeonatos estaduais de São Paulo, Paraíba, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Dos seis jogos da Série A de 2022 sob suspeita, quatro já tiveram confirmações de irregularidades, segundo os investigadores: Santos x Avaí, Santos x Botafogo, Palmeiras x Juventude e Goiás x Juventude. Os atletas investigados são os zagueiros Paulo Miranda (Juventude) e Eduardo Bauermann (Santos) e o meia Gabriel Tota (Juventude). Eles negam ter participado do esquema.

arte manipulação

A quadrilha de Bruno Lopez começou a atuar em meados de 2022 e era dividida em núcleos: intermediadores, apostadores, administrativo e financiadores. Tudo era tratado via Whats­App. Depois que os intermediadores faziam o primeiro contato e acertavam os valores, os financiadores entravam em cena para disponibilizar o valor da “entrada”. Um desses era Zildo Peixoto Neto, primo de Camila Silva da Motta, esposa e sócia de Bruno Lopez na BC Sports Management. Em depoimento, Neto contou que o grupo se cotizava para conseguir os recursos. “O Bruno disse que um jogador do Novo Hamburgo (RS) pediu 15 000 reais de adiantamento para cometer um pênalti. Ele mandou 6 000 reais, eu mandei 6 000 e o Ícaro (outro investigado) mandou o restante. Em outro caso, eu mandei 7 500 reais para um jogador do Vila Nova”, disse.

Continua após a publicidade

A operação conduzida em Goiás é a maior, mas não é a única. Em São Paulo, por exemplo, a polícia investiga ao menos dezoito casos de fraudes envolvendo jogos do Brasileirão Feminino e de torneios menores da Federação Paulista. Para tentar obter uma visão mais abrangente do problema, o Congresso instalou em abril a CPI das Apostas Esportivas, cujo objetivo é juntar o maior número de apurações.

A atuação de grupos criminosos vem na esteira da vertiginosa expansão do mercado de apostas esportivas no Brasil. O setor, que movimentava 2 bilhões de reais em 2018, agora projeta 20 bilhões de reais para este ano. A estimativa é que cerca de 1 000 sites atuem no país. Embora eles permitam apostas em vários esportes, é no futebol que têm ganhado visibilidade — dezenove dos vinte clubes da Série A são patrocinados por empresas do tipo. O crescimento também está na mira do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que vai regulamentar a atividade e passar a cobrar impostos. A terra sem lei que virou esse negócio bilionário, de fato, exige toda a preocupação possível das autoridades. O jogo tem de ser limpo.

Publicado em VEJA de 10 de maio de 2023, edição nº 2840

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.