Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Movimento de Dino põe Lula em situação difícil para decisão sobre STF

O candidato à vaga no Supremo disse ao presidente da República que saúde pode atrapalhar sua permanência à frente do Ministério da Justiça

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 nov 2023, 11h06 - Publicado em 3 nov 2023, 06h00

No jogo de xadrez, o xeque é resultado de um lance que deixa o rei, a peça principal do tabuleiro, numa situação difícil, quase sem saída. Talvez sem querer, foi esse movimento que o ministro da Justiça Flávio Dino fez durante uma conversa com Lula há algumas semanas, quando confidenciou ao presidente que estava sendo pressionado pela esposa a cuidar da saúde. Muito acima do peso, o ministro contou que seu médico teria lhe advertido sobre os riscos de continuar trabalhando na intensidade que o cargo exige. “Preciso mudar de hábitos, preciso mudar de vida”, explicou. Os dois discutiram então alternativas para contornar o problema. Um assessor direto do presidente relatou os detalhes do que foi falado no encontro. Segundo ele, Dino, senador licenciado, admitiu a possibilidade de reassumir o mandato no Congresso. Nas entrelinhas, porém, também disse que gostaria de ter seu nome considerado como opção para o Supremo Tribunal Federal (STF).

FAVORITO - Bruno Dantas: o atual presidente do TCU é o preferido da classe política para ocupar vaga de ministro do STF
FAVORITO – Bruno Dantas: o atual presidente do TCU é o preferido da classe política para ocupar vaga de ministro do STF (Andre Ribeiro/Futura Press)

Lula, ainda segundo o relato do assessor, entendeu o recado, mas nada disse. Nos dias que se seguiram, o nome de Flávio Dino passou a circular como favorito a ocupar a vaga aberta no Supremo com a aposentadoria da ministra Rosa Weber. O presidente também passou a ouvir de aliados, políticos e magistrados manifestações de apoio ao ministro da Justiça. Em um jantar no Palácio da Alvorada, um ministro do STF fez rasgados elogios a Dino e chegou a perguntar diretamente a Lula sobre a hipótese dele ser indicado. “E ele quer?”, desconversou o petista. “Achei que ele queria ser presidente da República”, completou em tom de brincadeira. Lula tem um carinho especial por Flávio Dino e sabe o quão importante seria ter no STF alguém que é ao mesmo tempo juiz de carreira e aliado histórico. O problema é que o movimento do ministro empurrou o presidente para o canto do tabuleiro político.

Cabe exclusivamente ao presidente da República a indicação de um ministro do STF. Depois, o escolhido é sabatinado e precisa ser aprovado pelo Senado. O processo pode ser simples e rápido ou demorado e desgastante, dependendo do perfil do candidato e do cenário político. Em junho, Lula indicou Cristiano Zanin, seu ex-­advogado particular, para o lugar do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou. Fora alguns protestos isolados, não houve turbulências. Desta vez, no entanto, os “supremáveis” que teoricamente disputam a vaga reúnem certas particularidades que tornam mais delicada a definição do nome. Além de Flávio Dino, constam como postulantes ao cargo o atual presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, e o advogado-geral da União, Jorge Messias. Dantas é o preferido de nove a cada dez políticos em Brasília. Messias, de nove a cada dez petistas. Dino conta com o apoio e a simpatia de um grupo influente de magistrados.

CORRENDO POR FORA - Jorge Messias: o advogado-geral da União conta com o apoio de nove a cada dez petistas
CORRENDO POR FORA – Jorge Messias: o advogado-geral da União conta com o apoio de nove a cada dez petistas (Fátima Meira/Futura Press)

A indicação do presidente do TCU era tida como a mais provável até surgir o nome de Flávio Dino. Tanto que, no Senado, já estavam adiantadas as articulações para a substituição de Bruno Dantas na corte de contas. Assim, a definição que parecia tender para ser simples e rápida passou a apontar na outra direção. No Congresso, houve ameaças de rebelião da própria base aliada do governo. Adver­sá­rios do ministro da Justiça passaram a espalhar rumores de que ele estaria pleiteando o cargo para escalar uma futura candidatura presidencial. Dino, aliás, já foi questionado a esse respeito. “Se um dia, talvez, eu fosse para o Supremo e pensasse em retornar à política, haveria uma premissa de que eu usaria a toga para ganhar popularidade. Isso eu não farei, ou faria. Jamais. Seria uma decisão definitiva. Ou será, sei lá”, afirmou ao jornal O Globo, deixando evidente que a indicação está mesmo no seu horizonte.

Para tentar adiar ou minimizar os prováveis desdobramentos derivados de sua decisão — desagradar à classe política, desagradar aos petistas ou desagradar à classe política e aos petistas –, Lula já considerou inclusive a possibilidade de adiar a indicação para 2024 (postergar ou fazer pouco, aliás, tem sido uma máxima deste governo). O fato é que, apelando pelo lado pessoal, Dino colocou o presidente em xeque. Em agosto, o ministro teve um pico de pressão. Exames apontaram que alguns marcadores estavam fora do normal. Os médicos então alertaram que ele precisava urgentemente fazer um regime e diminuir o ritmo de trabalho, sob pena de que algo mais grave lhe acometesse a qualquer instante. Desde então, Dino é acompanhado por uma cardiologista, segue uma dieta rigorosa e já perdeu 10 quilos. Ainda falta, porém, mudar a rotina de trabalho. Esse último lance, no entanto, depende de Lula.

Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.