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Mortalidade de botos diminui com pequena melhora no clima

Seca da Amazônia fez 178 vítimas, mas apenas duas carcaças foram encontradas na segunda quinzena de outubro

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 nov 2023, 14h23 - Publicado em 1 nov 2023, 13h24

A Amazônia atravessa a quinta maior estiagem da história da região. Sessenta municípios ainda estão em estado de emergência, segundo a Defesa Civil. A falta de água começou a se transformar em questão de Governo na segunda quinzena de setembro, data que marca o início de uma escalada de eventos dignos de um cenário apocalíptico. Por dias, a capital Manaus foi coberta por uma nuvem de fumaça, proveniente das queimadas criminosas, das proximidades.

Enquanto isso,  grandes embarcações – principal meio de transporte de carga e pessoas – encalhavam devido a falta de profundidade dos rios, comprometendo a mobilidade da população e o abastecimento. No interior, nos lagos Tefé e Coari, que desembocam no rio Solimões, as águas ferveram, levando a morte do maior símbolo da região, os botos cor-de-rosa.

Em uma semana, 10% da população desses mamíferos aquáticos morreu. Das 155 carcaças registradas no local, 84,5% eram cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e 15,5%, tucuxis (Sotalia fluviatilis). Nas proximidades, na Enseada Papucu, apenas no dia 28 de setembro, quando as águas chegaram a 40 graus Celsius, registraram 70 mortes.

Mas a situação melhorou. “A estiagem diminuiu, as águas voltaram a uma temperatura amena de 36 graus, e os botos estão morrendo bem menos”, disse a VEJA a oceanógrafa Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Até agora, o balanço está em 178 vítimas. “Desde o dia 20, encontramos apenas duas carcaças.”

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Miriam compara as mortes dos botos as dos ursos polares e morsas no Ártico, vítimas do aquecimento global. Parte desse caos ambiental se deve ao El Niño, fenômeno natural que acontece a cada cinco anos em média, que aquece o Oceano Pacífico, próximo à região do Peru. A elevação da temperatura das águas causa mudanças nas correntes marítimas e consequentemente aumenta força dos eventos climáticos, como as estiagens e as chuvas. Não por outro motivo, enquanto a  Amazônia enfrenta enfrenta uma seca histórica, o Sul do país praticamente se afoga com tanta água vinda do céu. “Das medições que temos disponíveis, nunca havíamos chegado ao patamar atual na Amazônia”, comenta Ayan Fleischmann, líder do Grupo de Pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais na Amazônia do IDSM.

A partir do alarmante recorde de mortes em Tefé, foi montada uma rede de monitoramento com o apoio de parceiros em outros lagos da região, em municípios como Manaus e Iranduba, no Amazonas, e Santarém, no Pará. Em Coari, por exemplo, a equipe da Universidade Federal do Amazonas passou a medir a temperatura do lago três vezes por semana. Além disso, estão sendo instalados sensores automáticos para aferir a temperatura da água. Amostras também foram coletadas para análise físico-química em laboratório.

Os pesquisadores sabem que não existe apenas uma explicação para o tamanho do desequilíbrio assistido na Amazônia. A contaminação das águas é uma das possibilidades levantadas, mas não comprovada, por falta de infraestrutura. Além da dificuldade de transportar a água até Manaus – o que levaria dias de barco -, problemas burocráticos com as companhias aéreas impediram que os frascos das águas seguissem para laboratórios em São Paulo. Foram várias as tentativas frustradas. “Da última vez, a colaboradora de Tefé acertou com a companhia de trocar o nitrogênio para a conservação da água, por gelo seco. Mas até chegar nesse meio termo, as amostras estragaram”, disse Miriam. “Porém análises histológicas e ultrassonográficas comprovam casos de pneumonia e parasitos nos pulmões.” Os pesquisadores ainda esperam o resultado final das necrópsias para baterem o martelo nos fatores que levaram a morte de tantos botos.

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