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Ministro da Agricultura é alvo de rede de intrigas dentro do governo Lula

Escalado para reconstruir pontes com o agronegócio, Carlos Fávaro entra na mira de petistas, aliados e de parlamentares que cobiçam seu cargo

Por Ricardo Chapola e Leonardo Caldas
Atualizado em 4 jun 2024, 10h20 - Publicado em 2 jul 2023, 08h00

O lançamento do Plano Safra, na terça-feira 27 foi um evento pensado para marcar a reaproximação entre o governo e o agronegócio. Foram convidados para a solenidade empresários rurais, parlamentares e nada menos que catorze ministros. Ao anunciar a liberação de 364 bilhões de reais para financiar grandes e médios produtores, Lula ressaltou que não tratará o agronegócio de maneira ideológica, não vai insuflar o ódio e pretende ampliar ainda mais as linhas de crédito para a categoria nos próximos anos. Antes, fez rasgados elogios ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. “Desde que vi o Fávaro, achei que ele, por ser um homem ligado ao agronegócio, por pensar do jeito que pensava, poderia ser o meu ministro da Agricultura. Se vocês não acreditam em destino, se não acreditam na relação química entre os seres humanos, eu acredito. O Fávaro tem sido uma dessas coisas boas que aconteceram num governo que não é um clube de amigos”, disse o presidente. O enaltecimento não era por acaso.

Nos últimos dois meses, Fávaro tem sido alvo de um bombardeio de intrigas, maledicências e até de dossiês que circulam dentro do próprio governo. Os petardos vêm de várias direções. O PT, por exemplo, tem atuado em várias frentes para fragilizar o ministro. Um grupo de servidores ligados ao partido reuniu documentos que mostrariam supostas irregularidades praticadas por diretores do Ministério da Agricultura. O material foi encaminhado ao ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. Um dos funcionários encarregados da coleta de material contra Fávaro contou a VEJA que assessores do ministro estariam envolvidos num esquema de liberação ilegal de licenças de fabricação de agrotóxicos e favorecimento a empresas. Esses assessores, de acordo com o dossiê, foram nomeados para os respectivos cargos durante o governo passado e mantidos em seus postos pelo ministro. Fávaro foi informado sobre as denúncias, as considerou inconsistentes, nada fez e, por conta disso, está sendo acusado pelos petistas de conivência.

CONFLITO - Alexandre Padilha: promessa de cancelar emendas liberadas pelo ministro
CONFLITO - Alexandre Padilha: promessa de cancelar emendas liberadas pelo ministro (Mateus Bonomi/Anadolu Agency/Getty Images)

Como disse Lula, o governo não é um clube de amigos. Nos últimos dias, no gabinete do ministro Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), esteve em discussão a recente liberação de 140 milhões de reais do orçamento do Ministério da Agricultura para a recuperação de estradas em áreas rurais e a compra de equipamentos agrícolas. Desse total, 130 milhões foram direcionados para sete cidades de Mato Grosso, o estado de Carlos Fávaro. O ministro não consultou os partidos, nem os deputados e senadores aliados. Foi acusado de usar os recursos para semear a própria candidatura ao governo estadual. Resultado: furiosos, alguns parlamentares bateram na porta da SRI para reclamar. Disseram que Fávaro teria descumprido um acordo informal feito entre o governo e o Congresso e ameaçaram uma rebelião. Para contornar o problema e sem consultar o ministro, a equipe de Padilha estuda uma forma de cancelar os empenhos e rever a destinação dos recursos. É improvável que isso aconteça.

Os ataques a Carlos Fávaro são produto de uma disputa que envolve o PT e os aliados, principalmente os parlamentares ligados ao chamado Centrão. O Ministério da Agricultura é uma vitrine, uma fonte de poder. Uma decisão do ministro tem o poder de influenciar o voto de pelo menos 200 deputados, a chamada bancada do agronegócio. Além disso, a pasta conta com um orçamento de 14 bilhões de reais. Outro alvo de cobiça são os cargos de segundo e terceiro escalões, especialmente as superintendências nos estados, indicações muito disputadas por políticos e empresários. Fávaro, que é do PSD, tem recebido críticas do próprio partido por não atender pedidos de correligionários.

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COBIÇA - O deputado Sérgio Souza: o MDB lançou até nome de eventual sucessor
COBIÇA – O deputado Sérgio Souza: o MDB lançou até nome de eventual sucessor (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Nos bastidores, há uma pressão para que Lula inclua o ministro na minirreforma ministerial prevista para o segundo semestre. Parlamentares e líderes de partidos da base, como o MDB, demonstram explicitamente o interesse pelo cargo, apresentando até o nome do candidato a sucessor: o deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR). A legenda já possui outros três ministérios na Esplanada. Souza foi presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, cotado para o posto no período de transição e ainda tem como trunfo a proximidade com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de quem foi suplente no Senado.

Ciente de que está caminhando sobre brasas espalhadas pelos próprios aliados, o ministro disse a VEJA que não está nem um pouco preocupado. Segundo ele, sua missão principal — a reaproximação do governo com o agronegócio — está sendo bem-sucedida. As críticas que recebe sobre a liberação das emendas e a distribuição de cargos, afirma, também não são motivo de qualquer aflição. “Sou alinhado ao presidente Lula e não faço nada sem que o presidente saiba. Construí com minha equipe o maior Plano Safra da história. Acho que essa é a resposta”, disse. As guerras mostram que, quando inimigos diferentes atacam ao mesmo tempo em diversos flancos, a chance de derrota do alvo é considerável. Na política, não é diferente. Dependendo do nível do cerco, as resistências acabam sendo minadas — por melhor que seja a química com o comandante da tropa.

Publicado em VEJA de 5 de Julho de 2023, edição nº 2848

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