Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Minas Gerais é palco de complexa articulação política para 2024 e 2026

O cenário no estado é confuso, com vários grupos disputando espaços e pouca clareza de, ao fim, para onde penderá o segundo maior colégio eleitoral do país

Por Valmar Hupsel Filho Atualizado em 3 jun 2024, 16h32 - Publicado em 2 jun 2024, 08h00

Por sua localização, tamanho, importância econômica, características de sua população e grau de influência dos vizinhos, Minas Gerais é considerado por muitos a síntese do Brasil. O norte do estado é parecido com o Nordeste, enquanto a economia do oeste tem mais a cara do agro do Centro-Oeste. Já o sul é mais espelhado com São Paulo, e o leste, com o Rio. Isso se reflete na formação da sociedade de diversas formas, como nos sotaques e costumes. E também no comportamento nas urnas. Nas disputas presidenciais, a sentença do eleitor local sempre se confundiu com a do país — desde a redemocratização, nunca um político chegou ao Palácio do Planalto sem a unção dos mineiros. Se isso continuar valendo para as próximas eleições, pode-se esperar muita incerteza: o cenário no estado é hoje bastante confuso, com vários grupos políticos disputando espaços e pouca clareza de, ao fim, para onde penderá o segundo maior colégio eleitoral do país.

O jogo truncado no estado pode ser muito bem simbolizado pela sua capital, Belo Horizonte, o terceiro maior município em eleitores do país. Nada menos que dez pré-candidatos almejam a cadeira hoje ocupada pelo prefeito Fuad Noman (PSD), que vai tentar um novo mandato. A pesquisa mais recente, feita pela AtlasIntel no final de abril, traz o deputado estadual Bruno Engler (PL), nome do bolsonarismo, na liderança, seguido pelo deputado federal Rogério Correia (PT), o candidato de Lula (veja o quadro). Mas outros levantamentos apontam diferentes cenários, alguns mais pulverizados, e todos indicam poucas certezas sobre favoritismos.

arte Minas

Analistas arriscam, no máximo, apontar a possibilidade de um embate final no segundo turno entre direita e esquerda. Para Malco Camargos, doutor em ciências políticas e diretor do Instituto Ver, os nomes que saem na frente são aqueles que têm maior recall de campanhas anteriores — Engler foi ao segundo turno em 2020, enquanto Correia tem dois mandatos de deputado estadual e dois de federal consecutivos. Já Noman nunca disputou uma eleição (era vice e assumiu em 2022 após o prefeito Alexandre Kalil sair para disputar o governo). Em sexto lugar, com 5%, é o prefeito de capital em pior situação na largada.

No páreo estão candidatos apoiados por cabos eleitorais nacionais de peso, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), além de caciques locais, como o governador Romeu Zema (Novo) e o deputado Aécio Neves (PSDB). Embora haja muitos padrinhos, o peso deles na eleição ainda não produziu grandes resultados. A candidata de Zema, a secretária estadual de Planejamento, Luisa Barreto, tem 1,6%. “O que caracteriza até agora a disputa é a ausência de candidaturas fortes que representam o poder municipal e estadual, além da limitada influência de lideranças regionais e nacionais”, avalia Camargos.

ESTRATÉGIA - Bruno Engler (PL): a principal aposta é na ligação com Bolsonaro
ESTRATÉGIA - Bruno Engler (PL): a principal aposta é na ligação com Bolsonaro (Daniel Protzner/ALMG/.)

Os principais campos políticos do país hoje, a direita bolsonarista e a esquerda, estão fragmentados na disputa. Engler e Correia se apresentam como pré-candidatos de Bolsonaro e de Lula, mas há concorrência dentro dos campos que representam. A esquerda tenta se aglutinar — hoje, além de Correia, há a deputada federal Duda Salabert (PDT) e a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL). No dia 23 de maio, os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, e do PDT, Carlos Lupi, e seus pré-candidatos fizeram uma reunião para tentar um acordo. “A ideia é juntar forças para garantir ao menos um nome do campo no segundo turno”, diz Correia. Para o PT, a candidatura na capital mineira é considerada estratégica porque seria a única das três maiores cidades do Sudeste onde o PT teria candidato próprio, já que decidiu apoiar Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo e estará com Eduardo Paes (PSD) no Rio. Esses apoios, mais os dados ao PSB em Curitiba e no Recife, são o maior argumento petista para liderar a esquerda em Belo Horizonte.

FRENTE - Rogério Correia (PT) e Bella Gonçalves (PSOL): em busca de união
FRENTE - Rogério Correia (PT) e Bella Gonçalves (PSOL): em busca de união (@RogerioCorreia_/X/.)

Atrás dos candidatos de direita e esquerda, o centro tenta se organizar. Mas há problemas. Um deles é a incerteza em torno do PSD, partido de Noman, de Kalil e do ministro de Minas e Energia e senador Alexandre Silveira. Noman tem como principal desafio se tornar conhecido do eleitor. Ele aposta em obras da prefeitura, mas o apoio de Kalil, considerado fundamental, não está garantido. “Respeito a posição dele e qualquer decisão que tomar não vai abalar nossa amizade”, diz o prefeito. Já Kalil lembra que não teve o apoio de Noman quando disputou o governo. “Ele disse que estava ocupado com a prefeitura”, relembra. Isso, segundo ele, o deixa à vontade para tomar a decisão que quiser. Kalil deixou a prefeitura com alta aprovação e é considerado ainda hoje o principal cabo eleitoral em Belo Horizonte. Ele sabe disso, e tem conversado com pré-candidatos de todas as siglas, “menos do campo bolsonarista”.

Kalil, como diz o adágio popular, está “com um olho no peixe e outro no gato”. Enquanto articula para a eleição municipal, mira as disputas de 2026 e a possibilidade de formar uma frente ampla em torno de seu nome ao governo. Em 2022, ele teve o apoio até de Lula, mas foi batido por Zema ainda no primeiro turno. O ex-prefeito, no entanto, não é o único a fazer política hoje olhando lá na frente. Além de ser um estado estratégico para a eleição presidencial, Minas está com a disputa ao governo em aberto. Zema, no segundo mandato, não pode disputar a reeleição, mas tenta cacifar o vice, Mateus Simões (Novo) — que é quem articula a candidatura de Luisa Barreto à prefeitura. Zema, que já sonhou (ou ainda sonha) com uma candidatura presidencial, pode ter de viabilizar uma candidatura ao Senado como plano B. O governador tem feito sinalizações ao PL, como a nomeação da deputada estadual Alê Portela para o seu secretariado, o que é visto como abertura de possibilidade de aliança, inclusive para a prefeitura. O PL tem hoje a maior bancada de deputados federais e estaduais de Minas Gerais.

NA ESTRADA - Romeu Zema (Novo): sinalizações ao PL nos bastidores
NA ESTRADA - Romeu Zema (Novo): sinalizações ao PL nos bastidores (Dirceu Aurélio/Imprensa MG/.)

Quem também ensaia o seu voo de fênix de olho em 2026 é Aécio Neves. Governador por dois mandatos, com ótimas aprovações, ele caiu em desgraça com a Lava-Jato, mas busca de novo ganhar altura. O tucano tenta viabilizar a candidatura de seu ex-­secretário, João Leite, a prefeito, mas seu grau de influência em Belo Horizonte é baixo — o último prefeito do partido foi Eduardo Azeredo, há trinta anos. No PSDB, a candidatura própria em Belo Horizonte ainda é vista como uma “hipótese”, e as conversas giram em torno da possibilidade de Leite integrar uma chapa como vice. A ordem no PSDB é lançar o maior número de candidaturas a prefeito para recuperar o espaço perdido e alavancar um voo maior daqui a dois anos. Outro que deve tentar o governo é Rodrigo Pacheco, que articula o apoio a Noman de legendas como o União Brasil, de seu aliado no Senado Davi Alcolumbre (AP).

ALEGRIA - Aécio Neves: de volta ao tabuleiro após queda na Lava-Jato
ALEGRIA - Aécio Neves: de volta ao tabuleiro após queda na Lava-Jato (@aecionevesoficial/Instagram)

A disputa por Minas mobiliza os principais partidos por todo o estado. PT e PL terão confrontos diretos nas principais cidades, como Contagem, Uberlândia, Montes Claros, Governador Valadares e Juiz de Fora — praças onde há a possibilidade de segundo turno. No estado, o PT possui 273 pré-candidaturas a prefeitos e vice. Já o PL discute lançar candidatos em cerca de 400 cidades. A busca não é só pelo controle do grande número de prefeituras (15% do país), mas para garantir sustentação no estado que tem 17 milhões de votantes (10% do eleitorado brasileiro), que podem manter a escrita mineira e ser decisivos para os rumos do país nos próximos anos.

Publicado em VEJA de 31 de maio de 2024, edição nº 2895

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.