“Meu filho era tratado na creche como objeto degradante”, diz mãe
Diretora e professoras respondem por maus-tratos contra menino, de 3 anos, portador de paralisia cerebral no Rio de Janeiro. Polícia apura outras denúncias

“Suspeitava que ele sofria maus-tratos, mas era difícil ter certeza porque nunca tínhamos acesso às imagens das câmeras”, argumenta Flávia Louzada, sargento da Polícia Militar, e mãe de Dante, de 4 anos, portador de paralisia cerebral. Mas, ao denunciar o caso na delegacia, o HD com os registros foi apreendido, e ela enfim pôde assistir a 120 horas de gravações armazenadas no circuito interno de TV da creche-escola Tempo de Construir, em Ramos, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde o filho estudava, na época com 3 anos. “O Dante era tratado como um objeto degradante. Sinto-me culpada por não acreditar quando o meu menino chorava ao chegar perto da escola”, desabafou Flávia.
No caso de Dante, investigado por agentes da 21ª DP (Bonsucesso), a pedagoga, diretora e proprietária da creche-escola, Danieli Alves Baptista Bonel, e duas professoras, Samantha Carla Alves Cavalcanti e Vitória Barros da Silva Rosa, já foram denunciadas pelo Ministério Público por maus-tratos contra o menino à Justiça. Segundo a promotora Maria Fernando Dias Mergulhão, as professoras lidavam diretamente com o garoto, mas a diretora, que acompanhava tudo de perto, não as impedia de cometer o crime e, por isso, também foi denunciada.
“Merece destaque o fato de que, em um dos dias apurados, a vítima Dante chorou e se debateu bastante (…), chegando ao ponto de, em certo momento, (…) Samantha ter se aproximado e usado de força para conter e manter a vítima em sua cadeira, não demonstrando nenhuma empatia”, diz trecho da decisão do juiz Paulo Roberto Sampaio Jangutta, da 41ª Vara Criminal. As acusadas negam o crime. Mas outras seis mães também já registraram suspeitas de maus-tratos contra seus filhos na delegacia.
A mãe de Dante começou a ser alertada sobre os maus-tratos contra o filho por uma ex-funcionária da creche. O menino tem paralisia cerebral grau 4 que só afeta a parte motora. “Ela contou que as professoras só tratavam o garoto bem para tirar fotos. Mesmo na hora da ‘soneca’, ele ficava preso na cadeira por horas a fio. Não recebia líquido de forma adequada, tanto que cheguei a levá-lo ao hospital com infecção urinária”, revelou Flávia. Segundo ela, Dante é gêmeo com Helena, que também teria sofrido maus-tratos. Ambos estudaram na creche até setembro do ano passado. “Nossa, vendo essas imagens constatei que minha filha um dia também foi arrastada pelos cabelos. Ao contrário de Dante, ela não é portadora de necessidades especiais. Mas também sofria com as agressões. Agora, estou mobilizada com outras mães para denunciar todos os casos”, alegou.