Merz obtém maioria para virar chanceler da Alemanha após revés histórico em 1ª votação
O líder conservador foi o primeiro no período pós-guerra a perder uma eleição no Bundestag, revés que escancara divisões em sua coalizão

Na segunda tentativa, deu certo. O líder conservador alemão Friedrich Merz conseguiu obter a maioria dos votos no parlamento, o Bundestag, para se tornar chanceler nesta terça-feira, 6, após fracassar na primeira rodada. Embora tenha sobrevivido ao processo, não foi sem custo: além de inédito no período pós-guerra na Alemanha, o revés inicial mostrou que sua coalizão está partida, um constrangimento para aquele que prometeu representar estabilidade política e econômica em um momento de turbulência global.
Merz, de 69 anos, que liderou a União Democrata Cristã (CDU) à vitória nas eleições federais em fevereiro e assinou um acordo de coalizão com o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, obteve apenas 310 votos na câmara baixa, o Bundestag, seis a menos que a maioria absoluta. A votação foi secreta, mas isso significa que pelo menos 18 parlamentares da coalizão não o apoiaram.
Após horas de incerteza no Bundestag, todos concordaram em realizar uma segunda votação, que Merz venceu com 325 votos, nove a mais que o necessário. Outros 297 parlamentares votaram contra, três se abstiveram e outra cédula de votação foi declarada inválida.
De acordo com a Constituição alemã, não há limite para o número de votações, mas, na prática, outra derrota significaria uma dor de cabeça para seu partido e sua coalizão. Além de humilhante: nenhum candidato a chanceler nos 76 anos de democracia alemã do pós-guerra havia perdido no parlamento.
A presidente do Bundestag, Julia Klöckner, havia inicialmente falado em fazer uma segunda votação na quarta-feira, 7, mas o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, disse que era importante prosseguir.
“A Europa precisa de uma Alemanha forte, por isso não podemos esperar dias”, disse ele à TV alemã.
Tensões latentes
O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar nas eleições de fevereiro com 20,8% dos votos, havia pedido novas eleições após o fracasso inicial de Merz. A líder da legenda, Alice Weidel, escreveu no X (ex-Twitter) que a votação mostrou “a base frágil sobre a qual a pequena coalizão foi construída entre os (conservadores) e o SPD, que foi rejeitada pelos eleitores”.
A CDU venceu as eleições de fevereiro com 28,5% dos votos, precisando de pelo menos um parceiro para formar um governo com maioria. Na segunda-feira passada, assinaram um acordo de coalizão com o SPD, que obteve apenas 16,4%. Mas ambos os partidos perderam apoio desde o pleito: o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar e recentemente foi reconhecido oficialmente como uma organização extremista de direita, passou a liderar as últimas pesquisas de opinião.
Analistas avaliam que a recusa inicial em apoiar Merz indica que, mesmo que a coalizão assuma o poder na Alemanha, há um problema potencial à espreita em suas fileiras. A relação entre os aliados deve ser prejudicada, o que agravaria os conflitos já latentes. A política no país passa por um período de turbulência desde que o “governo tripé” liderado por Olaf Scholz, do SPD, colapsou em novembro passado. Enquanto isso, uma guerra comercial desencadeada pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça causar um terceiro ano de recessão na economia alemã.