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Marina Silva: “Governo Bolsonaro promoveu o genocídio dos povos indígenas”

Ministra do Meio Ambiente diz que ex-presidente cometeu crime de lesa-pátria e afirma que reservas indígenas, agora, terão "presença perene do Estado"

Por Felipe Mendes 22 jan 2023, 14h41

Reconhecida como uma das principais lideranças mundiais em defesa do meio ambiente, Marina Silva voltou do Fórum de Davos, na Suíça, com o desafio de reestruturar os órgãos de controle ambientais, como o Ibama e o ICMBio, para reprimir as incursões de grileiros nas terras indígenas. Neste sábado, 21, uma comitiva interministerial reforçada com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deparou-se com uma situação de descaso e negligência do poder público nos últimos anos em relação aos povos Yanomami, em Roraima. Os indígenas foram encontrados com sinais de desnutrição — especialmente as crianças — e diversas doenças. A ministra do Meio Ambiente aponta, em entrevista a VEJA, que o ex-presidente Jair Bolsonaro era conivente com a situação e que deve responder por crimes de lesa-pátria e contra os direitos humanos.

Marina diz que a situação dos povos indígenas é de calamidade pública e demanda prioridade por parte do governo, em um trabalho conjunto com outras pastas, como o Ministério da Defesa e o da Justiça. “O que nós temos ali é uma situação de emergência de cunho humanitário, moral e ético. Parte significativa do que está acontecendo com os Yanomami é em função do garimpo criminoso, que destrói os estoques naturais de alimentos para os indígenas”, afirma. “Os estoques deles são os rios, são as matas, é o modo de vida que foi se destruindo propositadamente pelo governo Bolsonaro, que praticou crime de lesa-pátria, com propósito genocida, de eliminação de determinados grupos. Essa situação é fruto de uma ação calculada, planejada e criminosa.”

A ministra afirma que desde a vitória de Lula sobre Bolsonaro nas urnas ela tem dialogado com as lideranças Davi Yanomami e Maial Paiakan Kayapó, que estão auxiliando o governo com a situação das terras indígenas. “Estamos no início das ações. Obviamente que começamos pelo que é emergencial, porque a fome não tem como esperar, a desnutrição não tem como esperar, há uma mortandade no meio do povo indígena e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, está tomando todas as providências, junto com a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, com a Joenia Wapichana, pela Funai, e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias”, ressalta. “Não se trata de uma incursão sazonal. É algo que precisa ter presença perene do Estado. Vamos realizar um trabalho de forma estruturada nessas regiões.”

Há, segundo a ministra, defasagem nos números oficiais deixados pela gestão de Bolsonaro sobre crianças indígenas mortas por inanição. Estima-se que quase 100 crianças Yanomami entre 1 e 4 anos faleceram em 2022 devido, em sua maioria, a desnutrição, pneumonia e diarreia. “Os levantamentos ainda estão sendo feitos, usando dados oficiais, que no caso do governo Bolsonaro eram subestimados; e de organizações indígenas como a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)”, explica. “O apagão de dados do último governo era mais uma estratégia genocida. Não se sabe a quantidade de indígenas que morreram por Covid, a quantidade de indígenas que tiveram problemas de desnutrição devido à contaminação por mercúrio… Agora, o mais importante, neste momento, é o socorro emergencial para aqueles que estão em uma situação extrema de fome, de desnutrição, de doenças, de malária, que são mazelas que se cruzam com a vida dessas pessoas e as eliminam.”

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Curiosamente, um dos principais medicamentos para o tratamento da malária [doença que atinge os povos indígenas] é a cloroquina, comprada em níveis recordes pelo governo federal nos últimos anos sob a falsa prerrogativa de combate aos sintomas da Covid-19. “O Bolsonaro usou a falácia da cloroquina para matar muita gente, porque ela não protegeu ninguém da Covid, e deixou de usar a cloroquina para salvar quem poderia ser salvo com ela. Agora, a melhor forma de combater a malária dentro da floresta é não tendo o garimpo, não tendo remoção de terra, não tendo poços de água parada que viram criadouros de mosquitos da malária”, aponta a ministra.

Marina revela que o governo está se estruturando para montar um conjunto de ações de responsabilidade pelos atos contra Bolsonaro em esferas nacionais e internacionais. “Existem várias ações que já estão tramitando, tanto internamente, como em foros internacionais, e elas terão curso, terão continuidade. São várias ações já feitas em relação a essa prática genocida do governo Bolsonaro. E as responsabilizações terão de ser feitas”, afirma ela.

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