Mais de 80% da população preta do Brasil já sofreu discriminação racial, diz pesquisa
Levantamento da Vital Strategies junto à Umane também destaca maior impacto do preconceito contra mulheres negras

Uma pesquisa desenvolvida pela Vital Strategies junto à Umane mostrou que 84% dos brasileiros que se identificam como pretos já sofreram algum tipo de discriminação racial. Ainda segundo o levantamento, mais da metade dessa população (51%) afirma ser tratada com menos gentileza em relação a outras pessoas. As mulheres negras, contudo, aparecem como o grupo mais afetado pelo preconceito: conforme o estudo, 72% delas reportam duas ou mais razões para as situações em que foram inferiorizadas — o que, em geral, acontece pelo gênero e pela cor de pele.
Com abrangência nacional, a pesquisa aplicou entre os entrevistados a chamada Escala de Discriminação Cotidiana, ferramenta desenvolvida para medir a percepção da discriminação vivenciada por indivíduos no dia a dia. O levantamento é parte do estudo Mais Dados Mais Saúde, realizado também em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e apoio do Instituto Devive, além do apoio institucional do Ministério da Igualdade Racial.
Quando questionados se eram tratados com menos gentileza por suas características, mais da metade da população preta respondeu positivamente, 51%. Entre os que se declaram pardos, esse percentual foi também elevado, de 45%, seguido por 14% entre as pessoas brancas, que reportaram ter vivenciado a mesma situação. O mesmo padrão se repetiu em perguntas similares.
Por exemplo: 49% dos entrevistados negros disseram ser tratados com menos respeito e 57% deles afirmaram ser mais mal atendidos, percentuais que superaram os vistos entre os que se declaram pardos ou brancos.
Outro aspecto mostrado pelo levantamento é que, normalmente, outros fatores se somam ao racial na percepção sobre as razões para que ocorra essa discriminação. Ou seja, que diferentes formas de desigualdade se combinam e afetam grupos de maneira complexa, ao considerar também aspectos como gênero, aparência e posição socioeconômica.
“É fundamental que também seja considerado o fato de que os indivíduos frequentemente ocupam mais de uma posição socialmente desfavorecida e que essas podem interagir para moldar suas experiências. Por isso, a abordagem da interseccionalidade se faz central no processo de compreensão das dinâmicas de discriminação”, explica Janaína Calu, consultora em equidade racial e saúde da Vital Strategies.
A pesquisa ouviu no total 2.458 pessoas no país entre agosto e setembro de 2024, por meio de questionários aplicados no internet. Para dar precisão aos dados, considerando que o levantamento é baseado em uma amostra da população, pesos amostrais foram criados a partir dos dados coletados pelo Censo 2022 e da Pesquisa Nacional de Saúde 2019.