Laboratório falhou no controle e priorizou lucro, diz polícia no caso dos órgãos infectados
Investigação apura se havia grupo criminoso voltado à falsificação proposital dos testes
A Polícia Civil do Rio afirmou, em coletiva nesta segunda-feira, 14, que a infecção por HIV dos pacientes que receberam órgãos transplantados foi causada por uma “falha no controle operacional” do laboratório, a partir de uma orientação que buscava lucro. A empresa em questão, o PCS Lab Saleme, era até então a responsável pelos testes para verificar a presença do vírus, a partir de licitação do estado, e agora está na mira dos agentes. Um dos sócios, Walter Vieira, foi preso nesta manhã, em operação da corporação, que teve ainda outros três mandados de prisão e 11 de busca e apreensão.
As investigações foram detalhadas pelo secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, que explicou sobre a postura do laboratório no controle de qualidade de seus materiais. Segundo ele, o controle dos reagentes usados nas testagens não vinha sendo feito na frequência correta, o que interferiu nos resultados. “Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, disse Curi.
A corporação apura ainda os contratos da empresa com o governo do estado e se havia ali uma organização criminosa voltada para a falsificação de testes de maneira proposital, o que tem sido negado pela defesa do local.
“Houve uma quebra do controle de qualidade, visando à maximização de lucro e deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes”, explicou o delegado André Neves, da Delegacia do Consumidor, que está à frente do caso. “Os reagentes precisavam ser analisados sistematicamente, diariamente, e houve uma determinação, que estamos apurando, para que fosse diminuída essa fiscalização de forma semanal. E com essa lacuna, flexibiliza e aumenta a chance de ter algum efeito colateral. É esse efeito devastador que nós estamos analisando”, completou.
Ao todo, seis pessoas foram infectadas depois de receberem órgãos de dois doadores. Na operação desta manhã, foi preso além de Walter Vieira, Ivanilson Fernandes, um técnico contratado pelo laboratório e quem fazia a análise clínica do material que vinha dos pontos da central de transplantes do estado. Matheus Vieira, filho do sócio da empresa, também foi conduzido à delegacia, mas apenas para prestar esclarecimentos. Outras duas pessoas estão foragidas.
O grupo é investigado por crime contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.