Irmão da primeira-dama Janja é bolsonarista – ao menos nas redes sociais
O publicitário Luiz Cláudio da Silva afirma que tudo foi obra de um hacker
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, se define como uma “petista de carteirinha”. Ela se filiou ao partido quando tinha 17 anos de idade e, desde então, sempre foi militante em defesa das mulheres e dos animais no Paraná, onde conheceu o presidente Lula, começaram a namorar em 2017, quando ele estava preso, e se casaram no ano passado. Janja também é atuante nas redes sociais. No governo, ela usa sua conta para postar registros de viagens ao lado do marido, fotos com personalidades e, vez por outra, também dispara alguns petardos. O último deles foi a replicação de um vídeo com críticas ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, indicado por Lula, que votou contra a descriminalização da maconha. Por outro lado, a primeira-dama procura manter discrição sobre a vida pessoal, fala pouco do passado e menos ainda em relação à família. Por isso, surpreende saber que Janja tem um irmão tão militante quanto ela — só que, pelo menos em suas redes sociais, um bolsonarista empedernido.
O publicitário Luiz Cláudio da Silva, 60 anos, mora em Curitiba. O perfil dele no Facebook informa que ele estudou no Colégio Militar do Paraná, tem fotos de viagens ao exterior e um histórico de publicações simpáticas a Jair Bolsonaro e hostis ao PT. As primeiras postagens começam em 2014, logo após o primeiro turno das eleições, com um vídeo do então deputado Bolsonaro anunciando seu apoio ao candidato Aécio Neves (PSDB), que seria derrotado por Dilma Rousseff (PT). Bolsonaro critica o PT pelo desarmamento da população e lança suspeitas sobre o sistema eleitoral brasileiro. “Não morro de amores pelo PSDB, mas não tenho escolha. Mesmo desconfiando das urnas eletrônicas, votarei em Aécio Neves no dia 26. Você, do voto nulo ou branco, recomendo fazer o mesmo. Pois, pior que a roubalheira bilionária dos companheiros, será o dia em que essa quadrilha, com mais um mandato, roubar de você, pobre ou rico, a sua liberdade”, dizia o então parlamentar.
Quando a Operação Lava-Jato, que levaria Lula à cadeia, já estava em ebulição, os posts do publicitário reproduziam reportagens novas e antigas que tratavam de corrupção nos governos petistas. Num deles, está escrito: “O Curitibano pode no passado e no futuro reclamar: somos contra o PT. Somos verdadeiros brasileiros. Trabalhamos e não precisamos de Bolsa Família. Precisamos de justiça, saúde, educação, segurança e de respeito”. Abaixo do texto, estava reproduzido o resultado da eleição no estado, que deu mais de 70% dos votos ao adversário de Dilma. A última publicação na página do publicitário é de fevereiro do ano passado. Ali, estava compartilhado um post de um conhecido blogueiro bolsonarista: “Negros invadem igreja construída por negros em Curitiba após um negro ser morto a paulada por 3 negros no Rio de Janeiro”. Ao final, Luiz Cláudio pergunta: “Advinha de quem é a culpa?”.
No Instagram, o perfil do primeiro-cunhado segue uma página intitulada “Fora Lula” e as dos filhos de Jair Bolsonaro, além da ex-primeira-dama Michelle. Chama a atenção o fato de as redes sociais de Janja não constarem na lista do irmão. Afinal, ela tem mais de 2 milhões de seguidores. O mistério, segundo ele, tem explicação. Procurado pela reportagem de VEJA, Luiz Cláudio diz que suas páginas foram invadidas por hackers, os verdadeiros responsáveis pelos posts contra o PT e a favor de Bolsonaro. “Eu nunca fiz campanha para ninguém. Não apoio Bolsonaro, nunca apoiei Bolsonaro. Agora, para ferrar com a minha irmã, qual é a melhor atitude? Tem coisa melhor para me ferrar do que dizer que o irmão da primeira-dama é bolsonarista? Eu votei no Lula.” Luiz Cláudio destaca que tem uma boa relação com Janja, embora não a veja há algum tempo. “Conversamos, mas não estamos nos encontrando”, diz.
Sobre o ataque do hacker, o irmão da primeira-dama afirma que só tomou conhecimento da invasão no fim do ano passado, após as eleições presidenciais, muito embora todas as suas postagens sejam bem anteriores ao pleito — vale repetir, desde 2014. Segundo ele, tudo foi imediatamente apagado. “Colocaram coisas que não têm nada a ver com a minha vida. Minha atitude foi apagar minha rede social para não prejudicar ninguém. Sou publicitário há 42 anos e sei que isso é complicado”, garantiu. As páginas e as postagens de Luiz Cláudio, no entanto, continuavam ativas até a última terça-feira. As mensagens foram apagadas, de fato, minutos depois de ele ter desligado a ligação com VEJA.
Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858