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Escândalos não abalam popularidade de Bolsonaro: ‘Pretendo ser candidato’

A capacidade de resistência do ex-presidente foi quantificada em um novo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Valmar Hupsel Filho Atualizado em 4 jun 2024, 09h34 - Publicado em 8 fev 2024, 20h03

A longa lista de investigações que atingem Jair Bolsonaro ganhou um capítulo novo na quinta, 8, na forma de uma operação da Polícia Federal autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que intimou o ex-presidente em sua casa de praia, em Angra dos Reis, a entregar o passaporte em 24 horas. A ordem está relacionada à apuração de responsabilidades sobre a tentativa de golpe de Estado após o resultado das eleições de 2022. O entorno do capitão também foi duramente atingido, com quatro prisões e vinte mandados de busca e apreensão. Na véspera, Bolsonaro havia discursado em cima de um trio elétrico diante de uma multidão de apoiadores em São Sebastião, no Litoral Norte, mesmo após a PF desmarcar o depoimento agendado para aquele dia, como peça de um outro inquérito que investiga uma suposta importunação dele a uma baleia durante um passeio de jet ski. O fato de estar no alvo de um caso assim serviu de gancho para reclamar do que classificou de um cerco a ele. “Querem uma condenação criminal para me tirar do combate, em definitivo, em 2026”, afirmou. “Se há democracia no país, minha inocência será reconhecida.”

QG - O capitão em sua casa em Mambucaba: conversas diárias com eleitores
QG - O capitão em sua casa em Mambucaba: conversas diárias com eleitores (Ranier Bragon/Folhapress/.)

Paradoxalmente, esse assédio judicial, que inclui de investigações de importunação de uma baleia à participação em golpe de Estado, passando também por venda de joias do patrimônio público e apuração de responsabilidade sobre um esquema ilegal de espionagem da Abin, não produziu até agora nenhum estrago visível na popularidade do ex-presidente. Em certa medida, até o ajudou a voltar a insuflar parte de sua massa de eleitores com a narrativa de perseguição política. A capacidade de resistência dele foi quantificada em um novo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas. Entre os dias 24 e 28 de janeiro, a empresa ouviu 2026 eleitores em todos os estados  e questionou em quem eles votariam para presidente se a eleição fosse hoje, colocando o capitão como uma das opções. No cenário principal, Lula alcança 36,9% e Bolsonaro, 33,8%, um empate dentro da margem de erro, que é de 2,2 pontos percentuais. Na simulação de uma hipotética reedição do segundo turno de 2022, há um novo empate dentro da margem de erro: Lula tem 43,9% e Bolsonaro, 41,9%. “Os números mostram que o quadro político continua extremamente polarizado”, diz o diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. “Isso é bom para os dois. Por isso é que nem Lula nem Bolsonaro desceram do palanque”, afirma.

arte Bolsonaro

Encomendada pelo PL, o partido de Bolsonaro, a pesquisa foi feita principalmente para medir a popularidade do ex-presidente — evidentemente, o cenário de uma nova disputa presidencial entre Lula e Bolsonaro não é factível hoje, devido à inelegibilidade do ex-presidente. Ainda que seja pouco provável uma reviravolta nesse decisão, os aliados do ex-presidente confiam no retorno do capitão a tempo de disputar novamente o Palácio do Planalto. “Nosso candidato vai ser ele”, diz Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. “Se não puder ser candidato, ele que vai escolher quem será.” Bolsonaro é um dos mais confiantes numa virada. Questionado no dia do comício em São Sebastião pela reportagem de VEJA sobre a possibilidade de ser candidato em 2026 (confira a entrevista), respondeu: “Pretendo, sim. E olha que a gente tem muita coisa que pode acontecer aí”.

À ESQUERDA - Boulos, Marta e Lula: nacionalização da disputa municipal
À ESQUERDA - Boulos, Marta e Lula: nacionalização da disputa municipal (Roberto Casimiro/Fotoarena/Agência O Globo/.)
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arte Bolsonaro

Se não acontecer nada que precipite uma reviravolta, o levantamento do Paraná Pesquisas mostra que a força de Bolsonaro como cabo eleitoral em 2026 será fundamental a qualquer nome que tente se cacifar no campo da direita. Prova maior disso é que o instituto testou o cenário no qual a ex-­primeira-dama Michelle Bolsonaro seria a candidata. Quando entra na lista, Michelle aparece com 23%, enquanto Lula tem 37,6%. A ex-primeira-dama supera Ciro Gomes (9,3%), Romeu Zema (6,5%), Ratinho Jr. (5,1%), Ronaldo Caiado (1,9%) e Helder Barbalho (0,9%). Na disputa direta apenas com Lula, Michelle alcançaria 38,7%, ante 45,4% do petista. O desempenho dela é superior ao do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), quando ele a substitui na lista. Ele aparece com 17,4%, numa distância maior de Lula (37,4%). Ciro (10,3%), Ratinho Jr. (6,2%), Zema (5,8%), Caiado (2,1%) e Helder (1,1%) completam a lista. Num hipotético segundo turno, Lula teria 45,8% e Tarcísio, 34,6%.

Tanto o ex-presidente quanto Lula terão um novo teste sobre a capacidade deles como cabos eleitorais nas eleições municipais de 2026, sobretudo em São Paulo, onde estão concentradas as maiores atenções. Na maior metrópole do país, Lula apoia o psolista Guilherme Boulos e, recentemente, num gesto para forçar a nacionalização do pleito, trabalhou para trazer de volta ao PT Marta Suplicy, ex-secretária de Ricardo Nunes, prefeito do MDB em campanha à reeleição com o apoio de Bolsonaro. Para o capitão, uma das missões prioritárias do ano é derrotar Boulos e a esquerda em São Paulo. A despeito desses apoios de peso, a tendência é que a influência deles numa eleição como a paulistana não seja decisiva. O levantamento do Paraná Pesquisas aferiu o grau de influência que o apoio de Bolsonaro tem sobre a decisão de um eleitor votar em um candidato ou candidata, e 29,2% disseram que aumenta, 42,6% que não altera e 25,3% que diminui. No caso de Lula: 31,6% disseram que aumenta, 35,4% não altera e 31,3% diminui. O PL tem outras pesquisas que corroboram essa impressão de peso relativo dos cabos eleitorais nas cidades. “Uma eleição municipal não tem tanto esse critério de direita ou esquerda. O eleitor quer saber se tem merenda na escola, se tem médico no posto de saúde, se tem vaga na creche”, dizem fontes ligadas a um marqueteiro do partido.

ALTERNATIVA - A ex-primeira-dama Michelle: testada como herdeira do marido
ALTERNATIVA - A ex-primeira-dama Michelle: testada como herdeira do marido (Partido Liberal/Divulgação)
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arte Bolsonaro

O Paraná Pesquisas ainda perguntou aos eleitores se entendiam que Bolsonaro foi injustiçado pela decisão do TSE que o tornou inelegível. A maioria (48,4%) faz coro às queixas do ex-presidente de que a decisão foi injusta. Um exemplo de como Bolsonaro investe cada vez mais na narrativa de perseguição está relacionado à recente busca que a PF realizou na casa de praia de sua família em busca de provas do envolvimento de Carlos Bolsonaro no escândalo da Abin de espionagem de adversários políticos. Na ocasião, um veículo de imprensa divulgou que um computador da Abin havia sido apreendido em poder do Zero Dois. A informação foi corrigida horas depois, mas o ex-presidente reclama do caso até hoje. Antes do comício de São Sebastião, ele vinha mantendo abertas as portas de sua casa de praia em Mambucaba, em Angra, para conversar com eleitores sobre seus temas preferidos, como o potencial do nióbio, e posar para fotos. Esse comportamento informal e o gosto de falar como povão no “cercadinho”, como o próprio capitão batizou o QG de Mambucaba, causa ainda alguma perplexidade entre os aliados, que anseiam por uma agenda mais profissional de encontros políticos e de ações de campanha. “Mas ele sempre fez tudo ‘errado” e deu certo”, pondera um aliado, lembrando dos tempos em que ele chegou ao Palácio do Planalto fazendo campanha com um celular e sendo seguido por uma entourage que cabia dentro de uma Kombi. Boa parte dos brasileiros nunca irá esquecer alguns dos muitos erros de seu governo, com destaque para a tragédia dos 700 000 mortos durante a pandemia. É preciso ainda ver até que ponto as investigações sobre ele podem de fato incriminá-lo. A certeza do momento é a de que, no país polarizado, como mostra a pesquisa, o “cercadinho” tem se mostrado mais resistente do que muitos imaginavam.

“Pretendo ser candidato em 2026”

Na última quarta, 7, Jair Bolsonaro falou a respeito de temas como as decisões da Justiça que o atingem e os cenários políticos de 2024 e 2026

Por que o senhor reclama que está sendo perseguido? É a tal da pescaria probatória e estão pescando dentro de uma piscina. Querem talvez uma condenação criminal para me tirar do combate, em definitivo, em 2026. Essa perseguição comigo, enquanto é em cima de mim apenas, eu suporto. Mas e quando vêm para cima da família? O que o Carlos (Bolsonaro) tem a ver com Abin paralela? É pra desviar a atenção, porque a Abin fez um relatório responsabilizando o governo Lula por, no mínimo, omissão nos atos de 8 de janeiro.

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Tem esperança de reverter a inelegibilidade a tempo de concorrer em 2026? Não posso entender que o Supremo Tribunal Federal não me dê ganho de causa. Não vou nem citar a senhora Dilma Rousseff, que não ficou inelegível com a cassação dela por uma manobra do Senado Federal. O próprio Lula, quando tirado da cadeia, na segunda instância, depois teve condenações anuladas no Supremo Tribunal Federal e passou a ser elegível. Não quero fazer comparação com ele, não quero criticar nada, mas, no meu entender, não tem nenhum crime cometido por mim para ganhar um carimbo de inelegível.

Então sonha mesmo em poder se candidatar em 2026? Pretendo, sim, tá? Não posso acreditar que chegando ao Supremo, seis ou mais (ministros) confirmem a sanção imposta pelo TSE.

Caso não se confirme essa possibilidade, o senhor já tem em mente qual será o seu herdeiro político?  Eu quero o bem do meu Brasil. Obviamente eu pretendo, havendo a possibilidade, vir a ser candidato. Caso não haja essa possibilidade, a gente vai ter muita água até lá para pensar no assunto.

Qual é sua expectativa para 2026? Não vai dar para lançar candidato nos quase 5 700 municípios, mas acredito que em pouco mais de 2 000 cidades, sim. A gente pode fazer uns 140 deputados federais e no mínimo 20 senadores.

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O levantamento do Paraná Pesquisas mostra que sua popularidade continua dividindo a população com a de Lula, mesmo após o senhor ter sido alvo de várias investigações. Qual a explicação?  A direita acordou. Não é o bolsonarismo. Acho que esse termo aí devia ser deixado de lado. A direita acordou, o conservadorismo acordou e nós começamos a descobrir a importância da família e da liberdade. Coisas básicas.

Como avalia o desempenho até aqui do governo Lula? Torço pelo meu país. Gostaria de apresentar boas notícias deste governo, mas não tem. O debate da reforma tributária está aí aberto. Tem um monte de tributarista tentando entender isso daí. Lula diz que defende os pobres, mas está com uma sanha arrecadatória muito grande. Eu até apelidei a economia do Haddad e do Lula de “menos vacas, mais leite”. Não dá certo.

Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879

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