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Investigação revela duas organizações criminosas na gestão de Crivella

Além do grupo do empresário Rafael Alves, Ministério Público afirma que ex-chefe da Casa Civil Paulo Messina atuava junto com vereadores

Por Cássio Bruno Atualizado em 14 set 2020, 22h30 - Publicado em 14 set 2020, 21h44

O Ministério Público do Rio de Janeiro afirma na denúncia de corrupção, na Operação Hades contra o prefeito Marcelo Crivella, candidato à reeleição pelo Republicanos, que havia mais um grupo criminoso em atuação durante sua gestão. Além da quadrilha que contava com a participação do empresário Rafael Alves, os promotores apontam um outro concorrente: o ex-chefe da Casa Civil do município Paulo Messina, hoje rompido politicamente com Crivella. Messina lançou nesta segunda-feira, 14, sua candidatura à prefeitura da capital pelo MDB. A vice na chapa é a psicóloga Sheila Barbosa, do mesmo partido. Desde 2006, o MDB foi comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral e pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Jorge Picciani, presos em ações decorrentes da Operação Lava Jato.

“Ademais, analisando o contexto das milhares de mensagens entre RAFAEL ALVES e FAULHABER foi possível verificar que há uma disputa aberta por espaço no governo municipal, tendo como pano de fundo a obtenção e ganhos provenientes de corrupção. De um lado, temos o grupo formado por RAFAEL ALVES, FAULHABER, MAURO MACEDO e outros. De outra banda temos o grupo liderado por PAULO MESSINA, Chefe da Casa Civil, que juntamente com vereadores do MDB e de outros partidos estariam ocupando e controlando cargos que lhes garantiriam somas de propina”, escreveram os promotores.

PAULO MESSINA
Troca de mensagens entre Rafael Alves e Marcelo Faulhaber (Reprodução/VEJA.com)

Messina, no entanto, não foi denunciado nem é investigado pela força-tarefa do MP. Marcelo Faulhaber era marqueteiro da campanha de Marcelo Crivella, em 2016. Hoje, Faulhaber é estrategista de Eduardo Paes (DEM), ex-prefeito que concorrerá novamente ao cargo. Mauro Macedo, primo do bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal, atuava como o tesoureiro de Crivella, então candidato à prefeitura naquele ano. Faulhaber e Mauro foram alvos da Operação Hades.

Paulo Messina é matemático e professor na PUC-Rio. Em 2016, ele foi reeleito vereador pelo PROS. Antes de chegar ao MDB, passou também pelo PRTB. Messina assumiu a Casa Civil de Crivella em janeiro de 2018, mas reassumiu o mandato por um pequeno período para apoiar o prefeito na votação de um pedido de impeachment na Câmara Municipal no ano seguinte. Mas saiu do governo em junho de 2019 e, atualmente, ocupa uma das 51 cadeiras da Casa.

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Mesmo sem cargo na prefeitura do Rio, Rafael Alves tinha forte influência na gestão de Marcelo Crivella, com direito a uma sala na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, identificada pelos promotores como “QG da propina” de um esquema de corrupção com consentimento do prefeito. No local, funciona ainda a Empresa Municipal de Turismo (RioTur), que teve como presidente o irmão de Rafael, Marcelo Alves.

De acordo com o MP, “o cerne da insatisfação de Rafael Alves está no fato de que o MDB foi adversário nas eleições”, tendo o empresário “contribuído financeiramente para campanha (de Crivella) e, por isso, acredita que deve ocupar espaço maior do que lhe foi entregue, para, assim, obter ganhos ilícitos ainda mais robustos”. Em 2016, o MDB (à época, PMDB) lançou a candidatura de Pedro Paulo, atual deputado federal pelo DEM, à sucessão do ex-prefeito Eduardo Paes. Pedro ficou em terceiro lugar.

Os promotores lembraram ainda que Rafael Alves e Marcelo Faulhaber estavam incomodados com o prestígio de Paulo Messina. “Vale registrar que ainda dentro do contexto de disputa por espaço no governo RAFAEL ALVES e MARCELLO FAULHABER se mostram incomodados com o prestígio dado por MARCELO CRIVELLA ao grupo político capitaneado por PAULO MESSINA. Nesse sentido, em meio a revelação de frustração e insatisfação com os rumos da recém iniciada gestão municipal e do descumprimento de parte dos acordos espúrios entabulados ainda na época de campanha, ambos comentam sobre a personalidade do alcaide e fazem transparecer uma aparente incapacidade gerencial e política para comandar a prefeitura e compreender que os adversários de outrora receberam espaços na nova administração, mas continuavam com suas práticas criminosas. Isso, contudo, não significa dizer que havia uma preocupação de RAFAEL ALVES e FAULHABER com a lisura da administração, mas sim em minimizar os efeitos de uma eventual concorrência nos esquemas criminosos”.

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Outro lado

Em nota, Paulo Messina respondeu o seguinte: “Essa interpretação é desastrosa e completamente errada! Apesar de o MP não me considerar investigado, e ter me chamado somente na condição de testemunha, o órgão manifesta interpretação que prejudica o único agente público que agiu com correção nessa história. Era eu, Paulo Messina, quem impedia que os pagamentos de Despesas de Exercícios Anteriores (DEAs) fossem autorizados. Basta olhar no D.O (Diário Oficial) para constatar que os pagamentos passam a ser autorizados a partir do momento em que eu deixo a secretaria da Casa Civil! Em suas mensagens trocadas com terceiros, Rafael Alves demonstra justamente toda a sua contrariedade em relação ao gestor que estava impossibilitando a prática do seu esquema criminoso. Inclusive, há mais de um ano que denuncio o pagamento de DEAs publicamente no plenário da Câmara Municipal”.

Marcelo Crivella tem negado qualquer ato de corrupção na prefeitura. VEJA ainda não conseguiu contato com Rafael Alves e Marcelo Faulhaber.

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