Imóvel de presidente da Alerj levanta suspeita de enriquecimento ilícito
Ex-governador Anthony Garotinho rompe com Rodrigo Bacellar e revela que ele proprietáro de imóvel avaliado em 8 milhões de reais em Teresópolis

Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e principal aliado do governador Cláudio Castro (PL), o deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL) é um dos proprietários de uma mansão avaliada em cerca de 8 milhões de reais, em Teresópolis, na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro. O imóvel fica em um condomínio luxuoso, no bairro de Quebra Frascos, tem cerca de 500 metros quadrados – distribuídos em três pisos – e é equipado com elevador.
Nos últimos meses, a casa passou a ser frequentemente utilizada pelo político para receber colegas da Alerj, secretários de governo, empresários e prefeitos, em reuniões de articulação das eleições de 2024, conforme VEJA apurou. Bacellar chegou a ser visto embarcando em um helicóptero, no heliponto da Lagoa, para se dirigir ao imóvel. A aeronave pertence a um empresário que presta serviços ao governo do estado.
A vida de luxo chama atenção por ser incompatível com os rendimentos do deputado, que, nas eleições de 2022, declarou um pátrimônio no valor de 793 mil reais à Justiça Eleitoral. A situação tem sido denunciada pelo ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, em seu blog e perfil do Instagram. “Tic tac”, ele escreveu anunciando que estava de posse de uma bomba prestes a explodir.
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Antes de vir a público, a ameaça chegou ao Palácio Guanabara, na última sexta-feira, dia 04. Garotinho desembarcou no Rio em posse de um dossiê contra Bacellar que levanta dúvidas quanto aos sinais de seu enriquecimento, e pode respingar em Castro. Foi recebido pelo secretário de transportes do estado, Washington Reis. O motivo: o descumprimento de um acordo em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, comandado por seu filho Vladimir. O governador teria se reunido com vereadores para orientar a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentária que trouxe uma modificação incômoda: a redução de 30% para 10% da capacidade de remanejamento de verbas pelo prefeito, o que engessa o orçamento do município. Garotinho se irritou com a atuação de Castro. O presidente da Câmara dos Vereadores de Campos é Marquinhos Bacellar, irmão do presidente da Assembleia do Rio.
O episódio estremeceu ainda mais as relações entre o governador e o presidente da Alerj, que já não andavam das melhores. Há cerca de vinte dias, o governador demonstrou descontentamento com o lançamento da pré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil) à Prefeitura da capital, em 2024. A iniciativa foi desenhada por Bacellar. Declarações recentes dadas pelo deputado sobre a atual administração também causaram mal estar entre os dois, segundo assessores que atuam no Palácio Guanabara.
Bacellar foi secretário de Governo de Castro e é o responsável pelas indicações de, ao menos, seis pastas do atual governo.
Em nota, o presidente da Alerj informou que o imóvel estava em processo judicial quando foi adquirido, “inclusive prestes a ser leiloado devido a inúmeras dívidas”. Afirmou ainda que tem toda a documentação que comprova, “de forma trasparente, a legalidade da negociação da parte que cabe a ele”.
“Muito se viu no Brasil, nos últimos anos, condenações midiáticas e ilações sobre bens e imóveis. Todos os bens do deputado Rodrigo Bacellar são condizentes com sua remuneração, com todas as informações transparentes e disponíveis em seu imposto de renda, sem nada a esconder”, diz a nota.
Na declaração de bens ele informou , no entanto, os seguintes valores: 150 mil reais em participação societária, 150 mil reais em espécie, e aplicação em renda fixa no valor de 493 mil reais.
Trajetória impulsionada por Castro
Aos 43 anos, Bacellar começou sua trajetória política em sua cidade-natal, a partir legado deixado pelo pai, vereador eleito para três mandatos na Câmara Municipal de Campos. A casa, inclusive, é hoje comandada pelo irmão de Bacellar, Marquinho.
Em 2018, o deputado estadual se elegeu pela primeira vez à Assembleia Legislativa do Rio e ganhou destaque no processo de impeachment contra o ex-governador Wilson Witzel, no fim de 2020. A queda aproximou Bacellar do então vice-governador, Cláudio Castro, que assumiria o comando do estado. Pouco depois, em maio de 2021, o parlamentar foi nomeado secretário de Governo, o que ampliou o caminho para o poder.
Bacellar ficaria no posto até meados de 2022, quando teve de deixar a secretaria para se candidatar à reeleição na Alerj. Após um breve retorno à pasta, voltou a ocupar o cargo de deputado e conquistar a presidência da Assembleia, em fevereiro de 2023, com apoio do governador. Nas eleições do ano passado, o parlamentar foi um dos principais articuladores da reeleição de Castro, graças ao trabalho de articulação com prefeitos e lideranças regionais. Com perfil conciliador, se tornou presença frequente em agendas (algumas bastante festivas) ao lado do chefe do Palácio Guanabara.