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‘Fui escolhido a dedo’, diz Mário Peixoto sobre investigações no Rio

Preso em Bangu 8, empresário ataca força-tarefa da Lava-Jato e nega envolvimento em corrupção no governo Wilson Witzel

Por Cássio Bruno 31 Maio 2020, 17h22

Alvo da Operação Favorito, o empresário Mário Peixoto, de 61 anos, decidiu falar pela primeira vez depois de ser preso. Em nota enviada a VEJA, Peixoto atribuiu a ação da Polícia Federal à guerra política entre o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No texto, ele ataca ainda a força-tarefa da Lava-Jato no estado, responsável pela denúncia de irregularidades na atual gestão em que aparece no centro das acusações.

“No meu entendimento, está muito claro que existe um pano de fundo político nesse caso. O distanciamento político do governador com o presidente criou um cenário propício (tempestade perfeita) para que eu, que sou tido como apoiador de sua candidatura desde seus claudicantes 2% de intenção de voto (na eleição de 2018), fosse usado como instrumento para atingir politicamente o governador do estado do Rio de Janeiro”, escreveu.

A estratégia de Mário Peixoto é a mesma adotada por Wilson Witzel. Em um dos trechos do pronunciamento na última terça-feira, após ser alvo de busca e apreensão da Operação Placebo, o governador declarou: “O que aconteceu comigo vai acontecer com outros governadores considerados inimigos. Narrativas fantasiosas, investigações precipitadas. O mínimo de cuidado na investigação do processo penal levaria aos esclarecimentos necessários. Ao contrário, o que se vê na família do presidente Bolsonaro, a Polícia Federal engaveta inquéritos, vaza informações”.

Mário Peixoto está preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, na Zona Oeste da capital. O local é onde ficam os presos da Lava-Jato. Com empresário, na Ala E, também estão o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Paulo Mello (MDB), detido na mesma ação, e Luiz Roberto Martins, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como operador financeiro de Peixoto. Já na Ala A, ficam o ex-governador Sérgio Cabral e o seu ex-secretário Wilson Carlos.

No último dia 14, o empresário foi preso em casa, na cidade paradisíaca de Angra dos Reis, na Região da Costa Verde fluminense. De lá, ele seguiu para a delegacia da PF no município para prestar depoimento. A operação contou com o apoio de duas equipes de policiais federais – uma por terra e outra pelo mar. De acordo com os agentes, Mário Peixoto não resistiu ao cerco montado naquela madrugada. Ao todo, foram expedidos 42 mandados de busca e apreensão pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

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Na semana passada, o Tribunal Regional Federal da Segunda Região (TRF-2) negou liberdade a Mário Peixoto. A decisão foi do desembargador Abel Gomes. No pedido, o empresário argumentou que se enquadrava no grupo de risco para Covid-19. O magistrado discordou. Segundo as investigações, Peixoto é dono de empresas que fecharam contratos com o governo estadual desde a administração Sérgio Cabral. Os procuradores afirmam que os negócios continuaram com Wilson Witzel.

Uma das suspeitas é de que o empresário Mário Peixoto é sócio oculto de Organizações Sociais (OS) prestadoras de serviços, como o Instituto Unir Saúde. A força-tarefa aponta que essas entidades participaram de esquemas de corrupção em várias áreas do governo, entre elas a da saúde. Na denúncia, Peixoto também é citado por ter influência em outra OS, o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas).

“Não tenho nenhuma relação com o Iabas e, portanto, com a construção de hospitais de campanha. Não tenho nenhuma relação com a compra de respiradores. Não participei de nenhuma licitação emergencial para tratamento do Covid-19. Não tenho nenhuma relação com a empresa Unir. Sequer sei em que ramo atua e não existe nenhuma possibilidade de eu estar ligado a esta entidade”, afirmou Peixoto.

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Os procuradores disseram que o empresário Luiz Roberto Martins Soares seria o outro dono da OS Unir junto com Mário Peixoto. Em interceptação telefônica realizada em 24 de março deste ano, Martins comemora a decisão que permitiu a contratação da Unir por Witzel. No grampo, haveria uma suposta referência ao governador. “O ‘zero um’ do Palácio (Guanabara) assinou aquela revogação da desclassificação da Unir”, disse Martins para o ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier. Ele é pai de Felipe Bornier, atual secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude. No dia anterior da ligação, a decisão de Witzel, liberando a Unir, saiu no Diário Oficial.

A prisão de Mário Peixoto ocorreu, de acordo a PF, porque havia suspeita de que o grupo dele tinha interesse em contratos para a construção de sete hospitais de campanha no estado do Rio para tratar pacientes com coronavírus. Segundo as investigações da força-tarefa, o empresário pagou ainda vantagens indevidas a conselheiros afastados do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), deputados estaduais e outros agentes públicos. Ele foi delatado por Jonas Lopes Neto, filho do ex-presidente do TCE-RJ Jonas Lopes. Neto afirmou que Peixoto pagava um mensalão de R$ 200 mil para o órgão, entre 2012 e 2013. Além de negar as irregularidades, o empresário diz a VEJA que foi “escolhido a dedo”.

“Nada pedi e nada recebi do governador. Gravações foram cortadas e colocadas fora de contexto e estão atribuindo coisas que nunca fiz. Estou preso sem comprovação de que tenha feito algo de errado. Parece óbvio que fui escolhido a dedo para ser investigado”, atacou Peixoto.

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Nos bastidores, Mário Peixoto tem influência no governo Witzel e no meio político. É amigo de seu ex-advogado, Lucas Tristão, atual secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, homem forte do governador. Nas últimas semanas, Witzel demitiu três secretários: Edmar Santos (Saúde), André Moura (Casa Civil e Governança) e Luiz Cláudio de Carvalho (Fazenda). Mas manteve Tristão. No sábado, o então secretário de Polícia Civil, Marcus Vinícius de Almeida Braga, pediu demissão após desgaste com o chefe. Witzel e a primeira-dama Helena são investigados.

Em maio de 2014, Mário Peixoto se casou no castelo Orsini-Odescalchi, uma construção medieval do século XV na Itália. Em 2006, o local já havia sido cenário para a união dos atores Tom Cruise e Katie Holmes. O casamento de Peixoto ocorreu nos jardins. A festa contou com a participação de 50 convidados. Na lista, estavam Paulo Melo, que foi padrinho, e o também ex-presidente da Alerj Jorge Picciani.

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