Flordelis: ‘Eles tinham problemas’
Deputada desconfia que Lucas, um de seus filhos preso pela polícia e envolvido com o tráfico de drogas, possa ter assassinado o marido, Anderson
Nada mudou de lugar na casa da deputada federal e cantora Flordelis dos Santos Souza, 58 anos, desde que o marido, o pastor Anderson do Carmo, foi assassinado ali, no domingo 16. O Honda preto que ele guiava instantes antes de morrer continua estacionado na garagem, atingido por dois disparos e com um vidro estilhaçado. Suas roupas seguem dispostas em cabides no quarto onde provavelmente foi rendido. Na propriedade em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro, é um entra e sai de filhos — Flordelis tem 55, 45 deles sob o mesmo teto, a maioria adotada. Enredada em uma trama ainda cercada de mistérios que fisgou dois de seus filhos — Lucas, 18 anos, e Flávio, 38, ambos em prisão temporária —, a parlamentar também ingressou no rol dos investigados, assim como todos na casa. Com a expressão de quem dormiu pouco — “agora, só com remédio” —, ela falou com exclusividade a VEJA.
Até aqui, a senhora vem negando a participação de seus filhos no crime. Continua pondo a mão no fogo por eles? Não vou acusar ninguém sem ter provas.
Mas desconfia do Lucas? (Assente com a cabeça.) Ele não morava com a gente desde o ano passado. Aí aparece nas câmeras da rua com duas mochilas por volta das 3 da manhã. Entra e sai da casa em minutos, de mãos vazias. O Lucas não tinha o hábito de aparecer sem avisar.
Qual seria a razão para seu filho querer matar o pai? Eles tinham problemas por causa dos erros do Lucas. Aos 14 anos, meu filho roubou uns relógios que o irmão colecionava, pôs para vender e nós descobrimos. Como a situação era grave, meu marido bateu nele como corretivo. Hoje está no tráfico.
Lucas costumava visitar a família? Pouco. Eu sempre dizia: “Vem, filho, vem no almoço que seu pai não está”.
A polícia já localizou as mochilas que ele carregava? Sim.
Havia dentro algo que possa incriminá-lo? Prefiro não falar. O processo está correndo em segredo de Justiça.
E Flávio, que chegou a confessar o crime, a senhora acha que está envolvido? Não sei. A história não bate. Ele foi um dos primeiros a chegar ao meu quarto depois dos tiros. Saiu atrás da polícia, mas não encontrou a patrulhinha. Já preso, me deixaram falar com ele rapidamente no telefone. Chorava, chorava, e só disse: “Quero que as pessoas te deixem em paz, mãe”.
Há algum motivo para Flávio querer matar o pai? Não que eu saiba. Essa história de que o Anderson cuidava do nosso patrimônio com mãos de ferro não faz nenhum sentido. Aliás, ele administrava o dinheiro com a ajuda de três filhos.
E a hipótese de que seu marido a traía? É verdade que a pessoa traída é sempre a última a saber, mas a gente vivia grudado, no Rio, em Brasília. Ele me assessorava o tempo todo. Não consigo acreditar nisso.
Alguma outra ideia do que pode ter motivado o crime? Chegou a mim extraoficialmente outra tese levantada pela polícia: a de que Anderson mexeu com duas de nossas filhas, molestou as meninas. Pensei por um instante: “Será que fui casada com um homem que não conhecia?”. Mas, mesmo se ele fosse um monstro, mereceria a prisão, e nunca a morte. Depois, conversei com minhas filhas, que negaram com muita firmeza terem sido abusadas.
Um filho seu disse na delegacia que a senhora colocava remédios na comida de Anderson, em conluio com três filhas. Procede? Não. O que dávamos a ele todo dia era um medicamento contra ansiedade.
Segundo a polícia, esse mesmo filho afirmou que a senhora e suas filhas teriam dado 10 000 reais a Lucas para ele executar o crime. O que tem a dizer sobre isso? Para os que acham que eu matei meu marido, peço que me deem um motivo para fazer isso. Eu não ganhei nada com a morte dele. Só perdi.
A senhora sabe qual de seus filhos a está incriminando? Não tenho ideia.
Não é estranho que seu celular e o de Anderson tenham desaparecido juntos? É estranho, sim. E não aconteceu só com os nossos. O celular do Flávio também está sumido, além de outros itens: alguns relógios e uma pulseira de ouro do Anderson e um pouco de dinheiro.
Seu marido tinha inimigos? Ele era sanguíneo, muito temperamental. Se ouvia alguma ofensa, revidava. Que eu me lembre, a única pessoa que sei que chegou a ameaçá-lo de morte foi um ex-genro.
Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641
NOTA DA REDAÇÃO
Um comunicado divulgado pela assessoria da deputada Flordelis dos Santos Souza levanta dúvida sobre o conteúdo desta entrevista no que se refere às declarações dela a respeito do filho Lucas dos Santos, que se encontra preso.
VEJA reitera o que publicou e divulga aqui o áudio.
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