Estudantes pedem permanência da PM na USP
Ato reuniu 300 alunos na Praça do Relógio. Enquanto isso, manifestantes contrários à presença da polícia faziam assembleia regada a maconha a duas quadras, no prédio de História
Cerca de 300 estudantes de diversos cursos da Universidade de São Paulo (USP) se reuniram na tarde desta terça-feira para pedir a permanência da Polícia Militar na Cidade Universitária. A manifestação, que ocorreu na Praça do Relógio, no perímetro do câmpus, foi uma resposta aos manifestantes que protagonizaram o conflito com a PM na última quinta-feira, 27, e acabaram invadindo um prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde permanecem acampados.
Às 17h08, a manifestação desta tarde tomou forma com a chegada de um carro de som, que estacionou na frente de uma base da Guarda Universitária. Cartazes anunciavam a principal bandeira dos manifestantes: “Eu estudo na USP e sou a favor da PM no câmpus”, dizia um deles, em letras garrafais. O movimento foi organizado por um grupo de cerca de dez alunos, que mobilizaram os participantes por meio de redes sociais. Antes do início da manifestação, a página que os representa no Facebook contava com mais de 1.200 seguidores.
Marina Grilli, 22 anos, integrante do 2º ano do curso de Letras da FFLCH, criou o espaço na internet. Hoje, ela apareceu na Praça do Relógio para clamar por segurança. “Queremos a PM no câmpus, os policiais estão aqui para cumprir a lei”, disse. “Enquetes em redes sociais confirmam que somos maioria”.
Uma fila foi organizada para os interessados em discursar no microfone. Elton José Ribeiro, estudante de 40 anos do curso de Letras e um dos oradores, afirmou que impedir o trabalho da PM no câmpus não resolve o problema de alunos supostamente assediados pela polícia. “Há mecanismos legais para as pessoas que se dizem moralmente violentadas por policiais”, alertou. “Basta que procurem o Ministério Público ou a Corregedoria”.
Marcos de Camargo Vidigal, 59 anos, aluno do 1º ano do curso de Filosofia, teme por sua segurança e pela integridade da filha, que prestará vestibular neste ano. “Eu só quero poder entrar aqui e estudar sem risco de crimes”, disse. “Minha filha vai prestar o vestibular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) e eu não quero que ela seja estuprada”. Ele e o irmão, Rubens Vidigal, de 60 anos e ex-aluno da Escola Politécnica, prestigiaram o evento pró-PM. “Nem todos os jovens de hoje são ‘desmiolados'”, disse Rubens.
Integrantes do movimento contrário à presença da PM no câmpus também apareceram na manifestação de hoje. Isolados a trinta metros do carro de som, gritavam: “Fora PM!”. Um dos oradores pró-PM, Márcio Becker Góis, aluno do 2º ano do curso de Filosofia, provocou o grupo: “A ditadura militar acabou em 1985!”, exclamou. “Não podemos viver nesse delírio psicótico de que ela ainda existe”.
A manifestação na Praça do Relógio terminou com uma caminhada até o prédio da FEA, onde os estudantes fariam uma homenagem a Felipe Ramos de Paiva, morto em maio no estacionamento da faculdade, com um tiro na nuca. A morte de Felipe motivou a reitoria a pedir a atuação da PM no câmpus. O acordo com o governo do estado foi oficializado em setembro.
Às 18h42, a Praça do Relógio estava vazia. Enquanto os estudantes se dispersavam, uma assembleia promovida pelos alunos contrários à PM e favoráveis à ocupação do prédio da FFLCH começava a ganhar corpo a duas quadras dali, no prédio do curso de História.
Maconha ─ Os estudantes que protagonizaram o conflito com a PM na semana passada, e passaram a ocupar as dependências do prédio da administração da FFLCH, se reuniram no vão do prédio do curso de História no fim da tarde desta terça-feira. O motivo da reunião: dar sequência aos protestos que pedem a retirada dos policiais do perímetro do câmpus. Enquanto alunos esgoelavam frases como “Fora PM! Abaixo a repressão!” num microfone conectado a caixas de som, outros sentavam-se no chão e bebiam cerveja.
Às 19h30, num gramado bem perto do lugar reservado aos oradores, e também nos mezaninos do prédio, dezenas de alunos esfarelavam maconha nas mãos, enrolavam cigarros e fumavam à vontade. A reunião, que promete virar a noite por conta do feriado de Finados no dia seguinte, foi regada a drogas. Até o início da noite, a polícia não tinha aparecido no local.
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