“Estamos no escuro”, diz irmã de brasileira presa por tráfico na Tailândia
Mariana Coelho fala da surpresa da família e sofre com a falta de informação

Como você soube que Mary, sua irmã, estava presa na Tailândia? Recebi um áudio dela por WhatsApp contando. Fiquei sem entender nada. Precisei de um tempo para assimilar a informação. Ela saiu de Pouso Alegre (interior de Minas Gerais) dizendo que ia a Curitiba encontrar um rapaz que conheceu pela internet. Nunca poderia imaginar toda essa situação.
Houve alguma mudança no comportamento dela antes da viagem? Não, a vida da Mary seguia normal. Ia à escola, tinha aulas de direção — ela queria muito tirar a carteira de motorista. A única coisa fora da curva foi ter pedido demissão da churrascaria onde trabalhava, mas disse que era muito longe e estava cansada de pegar dois ônibus para chegar. Logo em seguida começou a mandar currículos para outros lugares. Ainda está cheio de currículo dela impresso aqui em casa.
A Mary é ambiciosa? Não, de forma alguma. Ela é muito brincalhona, descontraída e ingênua. Desde pequena, sempre foi avoada, nunca teve noção de perigo. E nunca foi o tipo de pessoa que pensa em dinheiro acima de tudo.
Por que você acha que ela resolveu se arriscar? Não sei. Talvez não tivesse conhecimento dos riscos. Às vezes acho que foi enganada, que puseram as drogas na mala sem consentimento. Acredito que, se ela soubesse, não teria ido parar com cocaína do outro lado do mundo. Mary tem só 21 anos, não teria inteligência para planejar uma coisa dessas.
Como a família está reagindo? Os dias estão difíceis, quase impossíveis. Estou vivendo no automático, trabalhando porque tenho contas para pagar e dois filhos para sustentar. Minha mãe está em choque. Ela tem câncer, saúde debilitada, e não fala com ninguém sobre o assunto.
Acha que a Mary deve ser punida? Já que a droga estava na mala dela, acredito que sim. Mas poderia ficar presa aqui no Brasil. Seria muito doloroso para a família, mas muito menos do que ela estar em outro país com possibilidade de ser condenada à morte. Ninguém merece pagar com a vida, independentemente do que tenha feito. Ninguém tem direito de tirar a vida do outro.
Tem esperança de que ela volte para o Brasil? A última vez que nos falamos foi no dia 13 de fevereiro. Não sei se a Mary está bem, se está viva. Converso com o Itamaraty via e-mail, mas até hoje só disseram que está presa, não me mandaram uma mensagem sequer explicando a situação. Estamos no escuro, sem saber de nada. Mas não podemos perder a esperança. É ela que nos move.
Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780