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Empresário com fortes ligações políticas seria pivô de esquema ilegal de mineração, diz PF

Dono de um império do ramo, a Cedro Participações, Lucas Kallas e suas empresas têm atuação em vários negócios bilionários

Por Isabella Alonso Panho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 abr 2025, 10h51 - Publicado em 24 abr 2025, 06h55

A polêmica exploração de minério de ferro na Serra do Curral, ao sul de Belo Horizonte, que se arrasta há décadas, ganhou um novo capítulo no final de março por conta de uma grande operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). Na ocasião, foi apreendida uma série de documentos e decretado um sequestro de bens dos envolvidos no total de 832 milhões de reais, valor equivalente ao prejuízo que teria sido causado por um esquema de extração ilegal de minério usando um plano de recuperação ambiental como fachada. A investigação revelou, ainda, robustos indícios de que servidores graduados da Agência Nacional de Mineração (ANM) receberam propinas milionárias para favorecer a Empabra, responsável pela Mina Granja Corumi, onde teria ocorrido a atividade ilegal até 2018, apesar de a prática estar proibida na região desde 1990, quando a serra foi tombada como patrimônio histórico do município.

A Empabra explorou a mina legalmente de 1958 até o tombamento. Em 2008, os donos da empresa, Juarez de Oliveira Rabello, João Henrique Pereira e André Mauricio Ferreira, fizeram um PRAD (plano de recuperação da área degradada), que lhes permitia retirar o minério já extraído e estocado na mina, com o compromisso de recuperar a região. Em 2012, três empresários entraram no negócio: Lucas Prado Kallas, Luis Fernando Franceschini e Bruno Luciano Henriques. No final de 2013, os donos antigos da mina e os novos sócios começaram a discordar. Em depoimentos à PF, Rabello e Pereira disseram que Kallas e Franceschini “queriam que houvesse retirada de maior quantidade de minério, em desacordo com o PRAD”. A PF confirmou que, a partir de 2014, “análises periciais e de auditoria confirmam integralmente os fatos narrados”. “Sobressai das investigações que as irregularidades apontadas pelos trabalhos periciais coincidem com o período em que Lucas Kallas, Bruno Luciano e Franceschini assumem a Mina Corumi”, diz trecho da decisão judicial que autorizou a recente operação de busca, apreensão e sequestro de bens dos envolvidos.

CERCO - Agentes na Mina Granja Corumi: ação autorizada pela Justiça em março
CERCO - Agentes na Mina Granja Corumi: ação autorizada pela Justiça em março (PF/Divulgação)

Segundo a investigação, o esquema foi possível corrompendo-se agentes públicos. Para a PF, há fortes indícios de que servidores da ANM, ligada ao Ministério de Minas e Energia, teriam recebido propinas para dar pareceres e autorizações que permitiram à Empabra continuar atuando. Um deles é Leandro César Ferreira de Carvalho, que era gerente regional da ANM em Minas, e o outro, Claudinei Oliveira Cruz, ex-superintendente substituto em segurança de barragens de mineração. Relatórios do Coaf obtidos pela PF mostram que eles movimentaram mais de 3 milhões de reais em contas suas e das esposas, o que era incompatível com as respectivas rendas. Eles foram demitidos da ANM no dia 1º de abril, logo após a operação.

De todos os envolvidos na investigação, Lucas Kallas é, de longe, o personagem mais conhecido. Dono de um império da mineração, a Cedro Participações, ele e suas empresas têm atuação em vários negócios bilionários. Em fevereiro, por exemplo, a companhia arrematou a concessão do Porto de Itaguaí (RJ), por 3,6 bilhões de reais. Meses antes, em dezembro, a Cedro também havia vencido a concessão para construir uma malha ferroviária que liga Minas Gerais a esse porto por 1,5 bilhão de reais. Na cerimônia de concessão de Itaguaí, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rasgou elogios a Kallas. “Desde que ele foi levado à minha sala (…), eu descobri na hora que estava conversando com um empresário sério, com um empresário com uma visão nacional muito interessante, que antes de tudo ama o Brasil”, disse Lula. Kallas é também membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, que assessora o presidente da República.

As boas relações políticas do empresário vão além do petista. Ele já foi agraciado duas vezes pelo governador Romeu Zema (Novo) com as maiores honrarias de Minas Gerais: a Medalha da Inconfidência (em 2023) e a Medalha do Dia do Estado de Minas (2024). Nas duas últimas eleições, por meio da sua irmã, Francine Kallas, o grupo doou mais de 2 milhões de reais ao PSD, partido do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Em 2024, Kallas chegou a apresentar queixa-crime contra o candidato a prefeito Bruno Engler (PL), que disse que as doações seriam para garantir a “leniência” da gestão municipal com a exploração na Serra do Curral. Em 2008, Kallas, que era dono de uma construtora, foi preso na Operação João de Barro, da PF, que investigou o desvio de recursos do PAC — o empresário ainda responde a duas ações de improbidade administrativa por conta dessa investigação.

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PROXIMIDADE - Lula e o empresário em evento: elogios do presidente ao assinar concessão do Porto de Itaguaí
PROXIMIDADE - Lula e o empresário em evento: elogios do presidente ao assinar concessão do Porto de Itaguaí (@cedroparticipacoes/Instagram)

Procurada por VEJA, a assessoria de Lucas Kallas disse que o empresário nunca foi dono da Empabra e que sua relação foi indireta, como sócio investidor na Ferro Phoenix — que celebrou com a mineradora contratos de compra e venda de minério —, e que se desligou formalmente do negócio em maio de 2018. “Em todo o tempo que figurou como investidor, as atividades se mostraram regulares”, diz a nota da assessoria. Ela afirma, ainda, que Kallas “nunca teve qualquer relação com os servidores da ANM citados” (leia a íntegra ao final).

Para os investigadores, no entanto, a saída dele da companhia em 2018 não serve como justificativa, pois as irregularidades coincidem com o período de entrada de Kallas nos negócios da Empabra. A história continua sendo apurada pela PF e ainda não houve denúncia — portanto, Kallas e outros personagens encontram-se na condição de investigados. Apesar disso, o relatório da PF é bastante contundente em relação ao envolvimento deles. O material apreendido na operação de março pode trazer novos elementos que permitam à Justiça avançar no caso da polêmica em torno da exploração de minério de ferro na Serra do Curral.

Colaborou Pedro Jordão

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Leia a íntegra da nota enviada pela assessoria de Lucas Kallas à reportagem

Sobre a Operação Parcours, Lucas Kallas esclarece que não é “sócio proprietário” da mineradora EMPABRA. Apenas foi sócio investidor em uma empresa que celebrou com a EMPABRA contratos de compra e venda de finos de minério. Lucas se desligou desse negócio formalmente em maio de 2018.

Em todo o tempo que figurou como investidor, as atividades se mostraram regulares em seus aspectos minerários e ambientais, com diversos relatórios de fiscalização de órgãos federais, estaduais e municipais. Lucas nunca ocupou cargos de diretoria da Empabra ou atuou como responsável técnico nos documentos apresentados.

Todos os fatos anteriores a 2021 já foram objeto de outra investigação da Polícia Federal (nº judicial 1010003-43.2021.4.01.3800), que se encontra arquivada e baixada, com a concordância do Ministério Público Federal, que não vislumbrou nem sequer indícios de irregularidades para o oferecimento de uma denúncia. Lucas Kallas nunca teve qualquer relação com os servidores da ANM citados.

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Lucas foi indevidamente incluído nessa nova investigação relacionada a fatos ocorridos principalmente nos anos de 2023 a 2025, quando já estava afastado há 8 anos do quadro de investidores, mas confia que tudo será oportunamente esclarecido nas vias adequadas.

Sobre a operação João de Barros, de 2008, os fatos já foram devidamente esclarecidos nas vias judiciais. As ações criminais foram encerradas, com total reconhecimento de inocência.

Lucas Kallas é um empresário brasileiro e, como qualquer grande empreendedor, possui relações de caráter estritamente profissional com personalidades públicas, de todos os espectros ideológicos. O interesse de Lucas sempre será o desenvolvimento do país e, para isso, ele tem feito investimentos importantes para o Brasil.

Lucas não tem nada a comentar sobre as doações da Francine Prado Kallas. Foram de cunho pessoal, de acordo com as convicções políticas dela.

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Publicado em VEJA de 25 de abril de 2025,edição nº 2941

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