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Deputado: lei do abuso de autoridade é ‘sobrevivência da espécie’

João Carlos Bacelar (PR-BA) defendeu o projeto que pune juízes e procuradores como uma forma de conter o avanço de investigações

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 out 2017, 19h11 - Publicado em 6 out 2017, 19h06

Em conversa com o empresário Joesley Batista, obtida por VEJA, o deputado federal João Carlos Bacelar (PR-BA) traduziu como o projeto sobre abuso de autoridade, que pune juízes e procuradores, pode beneficiar as excelências enroladas com a Justiça: para ele, a medida representa nada menos que a “sobrevivência da espécie”. Ao longo de mais de uma hora, o dono da JBS e o parlamentar demonstram preocupação com o avanço da Lava-Jato e de outras operações da Polícia Federal, criticam a atuação do Ministério Público e defendem uma “consequência” para os investigadores.

O diálogo teria acontecido em março deste ano, quando os executivos do frigorífico se preparavam para firmar um acordo de delação premiada e recorriam às gravações para entregar políticos. Na colaboração, Joesley afirmou que Bacelar propôs a ele a compra de deputados em troca do voto favorável a Dilma Rousseff na votação do impeachment. O parlamentar baiano chegou a apresentar uma lista com 30 nomes. O voto pró-Dilma custaria 5 milhões de reais cada.

Com o gravador ligado, Joesley, já no encalço da Polícia Federal, afirmou que estava “sem saída” e questionou Bacelar sobre como “acabar com isso”. “Tem que votar o abuso de autoridade. É a sobrevivência da espécie”, respondeu, de pronto, o congressista. “Tem que acabar com isso, matar isso no peito”, acrescentou.

Joesley Batista, então, lamentou a saída de Geddel Vieira Lima do alto escalão do governo de Michel Temer e afirmou que, enquanto Geddel ocupava a Secretaria de Governo, a agenda era “a do caixa dois” – ou seja, a que anistiava os crimes de recebimento de recursos de campanha não oficiais -, e a da lei do abuso de autoridade. No âmbito do Congresso, Bacelar relatou a situação dos principais caciques, todos alvos da Lava-Jato – Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Eunício Oliveira – e apontou para uma fragilidade das lideranças.

A conversa indica ainda que João Bacelar conseguiu dar alguma ajuda a Joesley Batista em um momento anterior. O empresário afirma ter ganhado “fôlego” com o “movimento”, mas pondera que não aguentaria muito tempo. “Esse caminho em paralelo com aquele que eu te entreguei não está garantido?”, questiona o congressista. “Em tese, sim”, confirmou o empresário.

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Mostrando a intenção de novamente ajudar, o deputado baiano questiona se Joesley estaria enrolado também nas operações de Silval Barbosa, ex-governador de Mato Grosso que foi preso e, depois, firmou acordo de delação, e propôs apresentar a ele um conselheiro do Ministério Público que seria seu amigo e que o ajudou em outras apurações. O nome do conselheiro não é pronunciado na gravação.

“João, tem que achar saída, meu tempo está acabando. Essa conversa que eu estou tendo com você eu tive com o Eduardo Cunha durante todo o ano de 2015. Na realidade, ela começou no fim de 2014 ainda na eleição dele. ‘Eduardo, vai dar errado isso. Eduardo, vai dar problema’. Passou 2015, nada, derrubamos. Dois mil e dezesseis passou, ele caiu, preso, e estamos em 2017. A mesma conversa. Tem dois anos que eu estou aqui sentado falando que tem que achar uma saída”, disse Joesley.

O projeto que endurece as punições para os crimes de abuso de autoridade foi aprovado pelo Senado em abril deste ano em uma tramitação a toque de caixa. O texto aguarda votação na Câmara dos Deputados.

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