Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Delfim Netto: o último de sua geração

“A democracia é o único mecanismo durável, porque não há poder que não se corrompa”, disse

Por Da Redação Atualizado em 16 ago 2024, 11h35 - Publicado em 16 ago 2024, 06h00

Grande chefe da economia quando o Brasil passou pelo “milagre econômico”, período de 1968 a 1973 em que o país crescia mais de 10% ao ano, o então ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, nunca gostou da expressão. “Milagre é um efeito sem causa, e o nosso crescimento tem causa”, dizia, numa das demonstrações diárias de seu humor elegante e irresistível. “Ele nunca estava irritado ou aflito; estava sempre de bom humor e não perdia uma piada”, conta o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, que integrou a equipe econômica do governo de João Figueiredo, nos anos de 1980, ao lado de Delfim.

Delfim Netto nasceu em 1º de maio de 1928 em São Paulo. Formou-se na terceira turma da faculdade de economia da Universidade de São Paulo, a FEA, em 1951, onde lecionaria por anos e se tornaria uma espécie de patrono da casa. Voraz leitor e colecionador de livros, doou para a faculdade, em 2014, todo o seu acervo de mais de 100 000 títulos. Foi o ministro da Fazenda mais longevo do regime militar, tendo comandado a pasta de 1967 a 1974, nos governos de Costa e Silva e de Emílio Médici. Era o fiador da máxima econômica que defende fazer o bolo crescer para depois distribuir, e foi um dos dezesseis ministros que assinaram o Ato Institucional nº 5, medida de 1968 que endureceu a ditadura militar. Esses são alguns dos traços que compõem a figura polêmica e paradoxal deste que foi um dos mais ativos, brilhantes e carismáticos economistas brasileiros. “É difícil colocá-lo em caixinhas”, diz o coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em História Econômica da FEA, Guilherme Grandi. “Delfim é o Delfim. Ele é uma linhagem própria, um camaleão político.”

Voltaria para o governo de Figueiredo, em 1979, como ministro da Agricultura e, depois, do Planejamento, cargo em que ficou até 1985 com a missão de manejar alguns dos problemas herdados da década anterior, caso da insustentável dívida externa e da crescente hiperinflação. O rastro de pobreza deixado por anos de desvalorização dos salários, além de uma desigualdade social que disparou, são outros “legados” do regime de que participou e que serão sempre cobrados por quem o critica. Questionado diversas vezes por seu apoio à ditadura, Delfim sempre respondeu não se arrepender, mas dizia que a apoiar, hoje, é ser “idiota”. “A democracia é o único mecanismo durável, porque não há poder que não se corrompa”, disse em uma entrevista em 2021 ao UOL. Faz parte da profícua geração de economistas que dominou os debates e a política econômica nos anos de 1960 e que inclui Roberto Campos (1917-2001), Celso Furtado (1920-2004) e Mário Henrique Simonsen (1935-1997). É o que mais viveu de todos eles, e o último a partir. Delfim morreu na madrugada de segunda-feira, 12, aos 96 anos, em São Paulo.

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2024, edição nº 2906

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.