Datas: Val Kilmer, Richard Chamberlain, Alfredo Mostarda e Heloisa Teixeira
As despedidas que marcaram a semana

O filme não era lá aquelas coisas, mas fez sucesso em 1991 ao invadir a intimidade de uma das bandas de rock mais celebradas do fim dos anos 1960 e início dos 1970. The Doors, de Oliver Stone, contudo, apresentou a força de interpretação de Val Kilmer na pele do tristonho e genial compositor e vocalista Jim Morrison. E, então, Kilmer, aplaudidíssimo, virou Morrison. De formação teatral, ele conferia a seus papéis tudo menos a obviedade.
Alto, forte e bonito, de olhar enigmático, tinha o dom de atuar tanto em dramas quanto em aventuras e comédias. Antes do The Doors, ganhara destaque em Top Gun — Ases Indomáveis, de 1986, como rival de Tom Cruise. Impressionaria também na figura improvável do lendário super-herói em Batman Eternamente, de 1995. Em 2014, já afastado das telas, foi diagnosticado com câncer na garganta. Kilmer morreu em 1º de abril, aos 65 anos.
De médico a padre

Antes dos canais de streaming, antes da explosão de séries que reinventaram a indústria do entretenimento e forçaram Hollywood a se mexer, dos anos 1960 aos 1990, havia uma certeza: bastava ter no elenco o ator americano Richard Chamberlain para garantia de sucesso. Ele foi o protagonista de Dr. Kildare, exibido entre 1961 e 1965 no Brasil pela extinta TV Excelsior. O seriado acompanhava os dramas de um jovem médico idealista na lida com os pacientes e os corredores do hospital onde trabalhava, em ideia que seria depois repetida ao longo dos anos. Em 1983, Chamberlain trocaria o jaleco pela batina nos quatro episódios de Pássaros Feridos para viver a história do padre Ralph de Bricassart, que passa a vida no dilema de seguir na carreira religiosa ou abandoná-la por um amor impossível. Chamberlain morreu em 29 de março, no Havaí, dois dias antes de completar 91 anos.
Tranquilidade na zaga
Formado na base do Palmeiras, o zagueiro Alfredo Mostarda, de bigode inconfundível, foi um dos destaques da chamada Segunda Academia, nos anos 1970, ao lado de Ademir da Guia, Dudu, Leivinha e Luís Pereira, com quem dividia a firmeza e a tranquilidade na frente da grande área. Fez 312 partidas pela equipe esmeraldina paulista e aparece na estatística do clube com um dado interessante: o atleta que mais jogos demorou para sofrer a primeira derrota, depois de 43 partidas. Bicampeão brasileiro (1972 e 1973), disputou a Copa do Mundo de 1974 com a camisa canarinho. Morreu em 28 de março, aos 78 anos, em São Paulo.
Uma ideia de brasil

O réveillon carioca de 1967 para 1968 na casa do Jardim Botânico da professora Heloisa Buarque de Hollanda, a Helô, casada com o colecionador Luiz Buarque de Hollanda, foi do balacobaco. Aquela festa, na qual foi pedido aos convidados que levassem duas garrafas de uísque, inaugurou o ano que nunca terminaria, na linda definição do jornalista Zuenir Ventura. A anfitriã, aos 28 anos, ensaísta e crítica literária, sabia de tudo e de todos, dos filmes de Glauber, da Tropicália de Caetano e Gil que nascia, dos porões da ditadura. Com a democracia, a partir dos anos 1980, dedicou-se à cultura da periferia e à luta feminista. Passou a assinar Heloisa Teixeira, nome de batismo, sempre respeitada, a ponto de ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Morreu em 28 de março, aos 85 anos.
Publicado em VEJA de 4 de abril de 2025, edição nº 2938