
Nos anos 1970, poucas artistas rivalizavam em popularidade com a cantora e pianista americana Roberta Flack. Ao misturar soul, jazz e blues, ela criou um repertório inesquecível, ainda hoje executado em rádios — e, claro, acessado em serviços como o Spotify. O primeiro grande hit foi The First Time Ever I Saw Your Face, da trilha sonora do primeiro filme de Clint Eastwood como diretor, Perversa Paixão, de 1971. A canção emoldura uma das cenas mais queridas do longa, a caminhada na praia de David Garver (papel de Eastwood) e Evelyn (Jessica Walter). E, então, em 1973, ela gravou Killing Me Softly with His Song, que chegou ao primeiro lugar da parada de sucessos da Billboard e está na posição de número 273 das melhores canções de todos os tempos, montada pela revista americana Rolling Stone — e atire a primeira a pedra quem não se emociona aos primeiros acordes de Killing Me… (“Strumming my pain with his fingers / singing my life with his words”). Roberta morreu em 24 de fevereiro, aos 88 anos.
A frieza em pessoa

A escolha era difícil: qual das duas atrizes francesas, Catherine Deneuve ou Geneviève Page, era mais fria e classuda no mercurial clássico A Bela da Tarde, obra-prima de Luis Buñuel de 1967? Deneuve, a partir dali, ganharia o mundo como símbolo de beleza e qualidade do cinema produzido na França. Um olhar mais atento, contudo, não deixa dúvida: a madame Anaïs interpretada por Geneviève, a dona do bordel das visitas vespertinas da Belle de Jour, parece gelada. Ela seria aplaudida também por filmes em Hollywood, dirigidos por Billy Wilder (A Vida Íntima de Sherlock Holmes, de 1970) e Robert Altman (Além da Terapia, de 1987). Morreu em 14 de fevereiro, aos 97 anos, mas a notícia só foi divulgada na semana passada.
A cara da Jovem Guarda

Para os mais velhos, que atravessaram a mocidade nos anos 1960, é impossível dissociar a expressão “jovem guarda” da dupla Leno & Lilian, intérpretes de sucessos aderentes. Sou Rebelde (“Eu sou rebelde porque o mundo quis assim / porque nunca me trataram com amor”), Pobre Menina (“Pobre menina, não tem ninguém / Tão pobrezinha, ela mora em um barracão”) e Devolva-me (“Rasgue as minhas cartas e não me procures mais / assim será melhor, meu bem”) tocavam nas rádios e nos programas de auditório de televisão sem parar. Soavam um tanto contraditórias, estranhas mesmo, ao narrar dramas em pegada suave, com as vozes calmas, quase sussurros, da dupla, nascida em 1965 e desfeita em 1974. Lilian Knapp chegou a gravar mais de 300 canções, mas não voltou a atingir o ápice de popularidade dos primeiros anos. Leno morreu em 2022. Lilian, em 23 de fevereiro, aos 76 anos, em decorrência de um tumor na pelve.
Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933