
Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, José “Pepe” Mujica era um ícone da esquerda latino-americana. Antes de se interessar pela política, antes de ingressar no grupo guerrilheiro Tupamaros, no fim dos anos 1960, trabalhou como florista. Preso pela ditadura, ficou atrás das celas durante treze anos, de 1972 a 1985, sete dos quais isolado numa solitária, submetido a torturas, e longe dos livros, que tinha como melhores amigos. Diz ter suportado a solidão fazendo amizade com um sapo que o visitava na umidade entre quatro paredes.
Com a retomada da democracia, ele trilharia um interessante caminho. De fala mansa e pausada, Mujica se orgulhava de ostentar o título de dirigente mais pobre do mundo, o que supostamente lhe daria autoridade para cobrar dos mais ricos que fizessem mais pelos pobres. Havia, claro, um tantinho de demagogia, mas ele nunca pôde ser acusado de falsidade. Doava 90% de seu salário mensal, de 12 000 dólares, a instituições de caridade que beneficiam os mais vulneráveis e pequenos empresários. Como presidente, nunca abandonou o estilo franciscano, vivendo num sítio e dirigindo um Fusca azul de modelo 1982. Do ponto de vista comportamental, avançou na legalização do aborto e na descriminalização da maconha. Há meses lidava com um câncer no esôfago e doença autoimune. Morreu em 13 de maio, aos 89 anos.
Faça amor, não faça guerra

Com o fim da Guerra Fria, no fim dos anos 1980 e início dos 1990, a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, houve celebração porque o mundo caminhava para um suposto período de paz duradoura. Não demorou para o otimismo ser transformado em seu avesso, e havia pessimismo por brotarem com insistência conflitos em torno do petróleo, de posições estratégicas. Nesse bojo, o cientista político americano Joseph Nye, da Universidade Harvard, cunhou uma expressão para distinguir os países que brigavam com alguma ponderação daqueles que iam para a guerra: o soft power, o poder suave, de convencimento. Um exemplo recente: o uso da Copa do Mundo de 2022 pela autocracia do Catar. Nye morreu em 6 de maio, aos 88 anos.
A delicadeza do olhar

Ainda hoje, 46 anos depois do lançamento, o drama Kramer vs. Kramer faz rir e chorar. O relato das dores do divórcio de um casal na briga pela guarda do filho, interpretados por Meryl Streep e Dustin Hoffman, marcou o início dos anos 1980, tempo de mudanças fora e dentro dos lares. Vencedor de cinco estatuetas do Oscar de 1980 — melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, ator e atriz coadjuvante —, o longa iluminou a delicadeza e a inteligência do trabalho de Robert Benton, responsável pela direção e roteiro. Era o auge de uma carreira que ganhara destaque pela colaboração, também com o roteiro, em Bonnie e Clyde — Uma Rajada de Balas, de 1967, a obra que reinventou as produções em torno de crimes em Hollywood. Benton morreu em 13 de maio, aos 92 anos.
Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944