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Datas: Newton Cruz

O general morreu em 15 de abril, aos 97 anos, no Rio

Por Da Redação Atualizado em 22 abr 2022, 18h27 - Publicado em 22 abr 2022, 06h00

Sempre que a verdade incomodava, o general Newton Cruz, chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações, o SNI, entre 1977 e 1983, tinha duas respostas: a agressividade e o silêncio na marra. Ficou tristemente célebre — e facilmente encontrável no YouTube — uma cena de 1983. Cruz, indagado por um repórter a respeito da decretação do estado de emergência à véspera da votação da emenda Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas, partiu para o destempero. “Então cale a boca!”, gritou o militar, ao receber o consentimento do jornalista para continuar a responder às perguntas. Não bastasse o berro, deu-lhe um empurrão. Se a violência não surtia efeito, apelava para sua segunda estratégia, a borracha afeita a apagar a realidade. Ao fim de sua trajetória no SNI, pouco antes da abertura política, tratou de mandar queimar mais de 19 000 documentos secretos produzidos pelo SNI durante a ditadura. “Vão achar papéis esparsos, se houver alguma coisa ainda, o que conduzirá a coisas erradas e generalizações”, disse em 2014. “Se aparecer alguma coisa, não vão esclarecer a história, vai confundir a história.”

O trabalho incansável do jornalismo profissional, contudo, sempre tratou de revelar o que ele gostaria de esconder. Cruz foi um dos acusados pela morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, sua mulher, Jeanette Hansen e o barqueiro Manoel Valente, ocorrida em 1982. Em reportagem de VEJA, publicada em fevereiro de 1983, revelou-se que Baumgarten tinha produzido um dossiê com informações sobre um esquema de lavagem de dinheiro que envolvia o SNI — e a denúncia de ter sido jurado de morte pelo general. Cruz seria absolvido. Ele esteve envolvido em outro conhecido episódio, o atentado a bomba no Riocentro, em 1981. A ação foi tramada pela chamada linha dura do regime para causar pânico em um show pelo Dia do Trabalhador que reuniu mais de 20 000 pessoas no centro de convenções da Zona Oeste do Rio. O plano fracassou — e uma bomba explodiu no colo do sargento Guilherme do Rosário, morto no local. O inquérito encaminhado pela Justiça Militar quis culpar organizações de esquerda pelo ataque, numa vergonhosa farsa rapidamente desmontada. Até hoje, contudo, ninguém foi punido. O processo contra Cruz seria depois trancado pela Justiça.

Já aposentado, ao ser perguntado a respeito do período de chumbo que representou como poucos, ele diria, com desfaçatez: “Ditadura, propriamente, não era. Era um regime autoritário forte. Agora, que não era uma democracia, não era. Não existe democracia em que o presidente pode editar ato institucional. Eu acho que a revolução escolheu bem a hora de entrar, mas não a de sair. Com o passar do tempo, o cachimbo entortou a boca. Por isso, saiu escorraçada”. Ele morreu em 15 de abril, aos 97 anos, no Rio. O presidente Bolsonaro mandou entregar uma coroa de flores no velório de Nini, como era conhecido. Nela se lia, no avesso da sensatez: “Tributo à democracia”.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

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