Datas: Mike Hynson, Marianne Faithfull e Marina Colasanti
As despedidas que marcaram a semana

Houve um tempo, antes de o surfe virar esporte olímpico e imenso negócio, antes do sucesso da turma do Brazilian Storm, a tempestade de Gabriel Medina e cia., que equilibrar-se em cima de uma prancha era ato de rebeldia. A construção de um estilo de vida avesso ao cotidiano de terno e gravata, embebido de cigarros não convencionais e natureza, pode ser atribuída, em parte, ao estouro de um documentário lançado em 1966, Endless Summer, ou Alegria de Verão. Nele, os surfistas americanos Mike Hynson e Robert August percorrem a Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Taiti e Havaí em busca da onda perfeita.
Hynson, para além do desempenho esportivo, em misto de ousadia e habilidade, era também um dos mais respeitados especialistas na confecção das peças de fibra de vidro e espuma de poliuretano. Depois da fama alcançada pelo cinema, celebrado nas praias por onde passava como um herói da contracultura, um tanto arrogante e indiferente, ele logo enveredou por um outro tipo de experiência na contramão: associou-se à Brotherhood of Eternal Love, um grupo californiano conhecido por seu envolvimento na cultura psicodélica e o consumo de LSD, com a ideia de promover paz e uma suposta tranquilidade espiritual. Hynson morreu em 10 de janeiro, em Encinitas, na Califórnia, aos 82 anos, mas a notícia só foi divulgada na semana passada.
A musa trágica do rock

Nenhuma artista feminina simbolizou os excessos da Swinging London, a cena musical londrina dos anos 1960, como Marianne Faithfull — e ela pagou um preço alto por isso. Beldade de voz marcante, Faithfull despontou em 1964, embalada pelo hit As Tears Go By, de Mick Jagger e Keith Richards. Além da parceria com os Stones, ela namorou Jagger, mas o sucesso desabou em razão do vício em heroína e de um escândalo sexual com a banda. Faithfull chegou a viver como mendiga, mas sobreviveu para mostrar que era mais que mero affair do roqueiro. A partir dos anos 1970, provou-se uma compositora e crooner essencial, além de atuar em uma série de filmes. Dia 30, de causa não divulgada, em Londres.
“O grandioso no pequeno”

Nascida em Asmara, capital da Eritreia, a escritora Marina Colasanti emigrou para o Brasil aos 11 anos, com a família, depois de um tempo na Líbia e Itália. O gosto pelas palavras a fez uma das mais interessantes autoras em português, em setenta livros para adultos e crianças — em volumes que ela mesmo ilustrava com capricho. Dois de seus trabalhos merecem sempre ser relidos: A Moça Tecelã, infantojuvenil em torno de uma mulher que tece sua vida, o que vai comer, o que vai vestir e até o marido com quem se casaria; e Hora de Alimentar Serpentes, coletânea de contos fantásticos. “Eu não sou pessoa do grandioso. Eu encontro o grandioso no pequeno. Sei que a mínima formiga tem tanta vida quanto as constelações”, disse certa vez, com a modéstia dos grandes. Marina morreu em 28 de janeiro, aos 87 anos, no Rio de Janeiro. Lidava havia anos com a doença de Parkinson.
Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2025, edição nº 2929