Datas: Matthew Perry, Antonio Tito Costa e Danilo Santos de Miranda
O ator, o defensor da democracia e o mecenas da cultura

Não foi preciso mais do que um minuto, no episódio inaugural do sitcom Friends, em setembro de 1994, para entender qual era o tom do personagem Chandler Bing, interpretado pelo ator Matthew Perry. Irônico, com cara de sonso, sua primeiríssima frase cutucava Monica (Courteney Cox), que acabara de marcar o primeiro encontro com um pretendente. “Ele é corcunda e usa peruca?”, indagou, sentado no braço esquerdo do sofá do café Central Perk, em Manhattan, ali onde a turma se reunia para falar da vida, rir e chorar. Friends — que foi ao ar ao longo de dez anos, em 236 episódios — foi o mais bem acabado retrato de uma geração, a de jovens adultos que tinham medo de amadurecer, se é que sabiam como fazê-lo. Perry, na pele de Chandler, era a voz que pontuava os diálogos, em comentários sardônicos que invariavelmente vinham acompanhado da clássica e irritante claque ao fundo — embora, no caso dele, a graça fosse automática.
Fora das telas, Perry levou sempre uma vida de desconforto como a dos amigos fictícios, mas multiplicada pelas dificuldades de enfrentar tão cedo a fama. Ele tinha 24 anos quando ficou conhecido, muito conhecido, adorado por fãs que não distinguiam a ficção da realidade. Viciado em opioides, foi internado para desintoxicação pelo menos 65 vezes. Em sua autobiografia, Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível, disse ter gasto pelo menos 9 milhões de dólares em tratamentos. Ele estava em uma de suas muitas internações para tratar o vício quando foi gravada a cena icônica do casamento entre Monica e Chandler. O ator foi levado ao set de Friends por um enfermeiro da clínica — para onde voltou depois das filmagens. “Não queriam mexer com aquela máquina de dinheiro”, disse ele, que chegou a receber 1 milhão de dólares por episódio. Em 28 de outubro, Perry foi encontrado morto numa banheira de hidromassagem em sua casa de Los Angeles. Tinha 54 anos. A polícia ainda investiga a causa da morte. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que estudou na adolescência com Perry comentou, em suas redes sociais: “Obrigado pelas risadas, Matthew; você foi amado e sua ausência será sentida”.
Voz pela democracia

Prefeito de São Bernardo do Campo entre 1977 e 1983, Antonio Tito Costa, do então MDB, teve papel relevante nas greves dos metalúrgicos do final dos anos 1970 e início dos 1980, liderado por um certo Luiz Inácio Lula da Silva. Ele liberou o uso do estádio municipal de Vila Euclides, em 1980, para uma assembleia que reuniria mais de 100 000 pessoas. Formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1950, Tito Costa foi sempre um destacado defensor dos direitos humanos e da democracia no país. Morreu em 28 de outubro, aos 100 anos, em São Bernardo do Campo.
O mecenas da cultura

Chamavam-no, não por acaso, de “a entidade dentro da entidade”. O sociólogo Danilo Santos de Miranda foi durante quatro décadas o responsável pelo crescimento e organização das unidades do Sesc em São Paulo — e o que seria uma entidade para atender os comerciários virou uma potência cultural, de preços baixos, aberta a camadas mais pobres da população. Ele foi muitas vezes cotado para ocupar o Ministério da Cultura — mas sempre preferiu o trabalho mais próximo dos cidadãos. Apaixonado por teatro, estudioso e dedicado, agia como mecenas. Disse dele o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa (1937-2023): “Se não tivesse Danilo Miranda, não tinha teatro em São Paulo, só teria musical”. Ele morreu em 29 de outubro, aos 80 anos.
Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866