Datas: Luiz Galvão, Olavo Monteiro de Carvalho e Lenny Lipton
O compositor dos Novos Baianos, o empresário e o criador do dragão mágico

E quem, pisando distraído nos astros, não cantarolou “enquanto eu corria, assim eu ia, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar”, de Preta Pretinha, ou “acabou chorare, ficou tudo lindo, de manhã cedinho”, de Acabou Chorare? As letras de alguns dos clássicos dos Novos Baianos, musicadas por Moraes Moreira (1947-2020), são de Luiz Galvão. Se soam impenetráveis, difíceis de entender, pouco importa — assim corria a barca no início dos anos 1970, no coração daquele grupo alegre, cabeludo e psicodélico que bebia de uma outra turma baiana, a de Caetano, Gil, Tom Zé, Bethânia e Gal. “Sentíamos uma grande admiração pela arte dos tropicalistas e percebíamos pontos de afinidades, como a vontade de fazer bonito, de ser ousado e, principalmente, o revolucionário”, escreveu Galvão em Novos Baianos — A História do Grupo que Mudou a MPB. No fim da vida, em dificuldade financeira, o letrista chegou a depender de apostas no jogo do bicho e de mesada depositada por um amigo de infância e juventude de Juazeiro, na Bahia: João Gilberto. Galvão morreu em 22 de outubro, aos 87 anos, de infarto, em São Paulo. Em tempo: “acabou chorare” era como a filha de João, Bebel, ainda muito criança, respondeu ao pai, preocupado com uma pancada que a menina tinha levado.
Amor pelo Rio e pelo Vasco

O empresário Olavo Monteiro de Carvalho sempre foi apaixonado pelo Rio de Janeiro. Nascido e criado na cidade, afastou-se do charmoso bairro de Santa Teresa apenas para estudar engenharia mecânica na Alemanha. De volta ao Brasil, presidiu o Grupo Monteiro Aranha entre 1978 e 1996. Com participações acionárias na Klabin e no Grupo Ultra, controlador de marcas como Ultragaz e Ipiranga, firmou-se ao longo dos anos como um titã empresarial brasileiro. Mas foi o amor pelo Rio que o moveu ao longo da vida. Muito comunicativo e alto-astral, tornou-se presidente do Conselho de Empresários do Projeto Rio-2016, que tinha como missão angariar recursos para que a cidade se tornasse sede da Olimpíada. No futebol, foi vice-presidente do Vasco em uma fase de grandes vitórias do clube. Admirado pelos seus pares (e por belas mulheres), Olavo viveu como um gentleman, contagiando positivamente todos os ambientes por onde passava. Estava internado no CopaStar, no Rio, e morreu no dia 20 de outubro, aos 80 anos, em razão de um acidente vascular cerebral.
O criador do dragão mágico

O nova-iorquino Lenny Lipton, de 19 anos, estudante de física na Universidade Cornell, gostava mesmo era de olhar para as estrelas e de poesia. Em 1959, ele pegou emprestada a máquina de escrever de um colega, Peter Yarrow — que depois faria parte do trio pop Peter, Paul and Mary —, e rascunhou um poema para crianças de pegada surrealista. Tratava-se de um dragão, Puff, que “brincava na névoa de outono num lugar chamado Honnah Lee”. A criação de Lipton adormeceu anos numa gaveta abarrotada do dormitório da faculdade até que, em 1963, o amigo Peter decidiu musicá-la. Nascia um dos mais queridos clássicos do cancioneiro infantil em inglês, a adorável Puff, the Magic Dragon. Durante muito tempo, houve quem considerasse a canção como um libelo em defesa da maconha — daí a névoa de outono. Seus autores sempre rechaçaram a ilação. Riam como Lennon & McCartney riam daqueles que associavam Lucy in the Sky with Diamonds, de 1967, com a droga alucinógena LSD. Lipton ganharia muito dinheiro com seu dragão — se dedicaria, ao longo da vida adulta, ao estudo e criação de patentes relacionadas à fotografia e aos filmes em 3D. Ele morreu em 5 de outubro, em Nova York, aos 82 anos, de câncer no cérebro, mas a notícia só foi anunciada na semana passada.
Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813