Datas: Louise Glück, Martti Ahtisaari e João Américo Barros
A escritora premiada com o Nobel, o diplomata obcecado pela paz e um artista no desenho de revistas

“Vemos o mundo uma única vez, na infância. O resto é memória.” Com base em trechos de poemas como esse, a Academia Sueca concedeu em 2020 o Prêmio Nobel de Literatura à escritora americana Louise Glück. A justificativa, na concessão da láurea, foi cristalina, ao identificar uma “inconfundível voz poética que, com austera beleza, faz da existência individual universal”. Nascida em Nova York, em 1943, durante a II Guerra, filha de uma família de imigrantes húngaros de origem judaica, ela começou a carreira em 1968, com o lançamento da primeira de catorze coletâneas de poesias, Firstborn. Ganhou notoriedade e respeito nos meios acadêmicos, vivia quase no anonimato até ser internacionalmente reconhecida com a mais respeitada das premiações — embora já fosse cultuada como um dos grandes nomes dos versos em inglês. Seus poemas foram lançados no Brasil, em português, somente depois do Nobel. Ela morreu em 13 de outubro, em Cambridge, nos Estados Unidos, aos 80 anos, de causas não reveladas pela família.
Obcecado pela paz

O diplomata finlandês Martti Ahtisaari corria o mundo com um único objetivo: promover a paz. Inicialmente como embaixador na Tanzânia, Zâmbia e Somália e depois como representante de seu país na ONU. Entre as suas realizações mais notáveis, ajudou a alcançar acordos de cessar-fogo relacionados com a retirada da Sérvia do Kosovo no fim da década de 90; a independência da Namíbia, na África, em março de 1990; e a autonomia da Província de Aceh, na Indonésia, em 2005. Ele também esteve envolvido no processo de pacificação da Irlanda do Norte, no fim da década de 90, tendo sido o encarregado de monitorar o processo de desarmamento do grupo terrorista IRA. Cairia bem no mundo, hoje, uma figura calma e afeita a conversas como o mediador Ahtisaari, que em 1994 foi eleito presidente da Finlândia, cargo que ocupou até o ano 2000. Em 2008, ele ganhou o Nobel da Paz. Morreu em 16 de outubro, aos 86 anos, em Helsinque. Há anos convivia com o Alzheimer.
Da arte de desenhar revistas

A revista O Cruzeiro, criada em 1928 pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, teve seu auge nos anos 1950, no feliz casamento de texto com fotografias, de modo a um só tempo simples e elegante. Representou, naquele tempo, uma revolução editorial — que pavimentaria, inclusive, o lançamento posterior de duas revistas da Editora Abril, Realidade e VEJA. Um dos motivos para o sucesso era a elegância no desenho das páginas, trabalho coordenado por João Américo Barros. Ele começou a vida profissional como atendente de balcão numa padaria de Niterói, formou-se em direito, mas gostava mesmo era de diagramação no jornalismo. Seria também, depois, chefe de arte das revistas Manchete, Manchete Esportiva e Fatos&Fotos, da Editora Bloch. Bem-humorado, gabava-se por ter conhecido Pelé aos 17 anos e Brigitte Bardot numa de suas visitas ao Brasil. “Meu pai era um grande artista, capaz de desenhar o que quisesse com um lápis, desde a figura de um cavalo até um personagem histórico, e sempre em meio a gargalhadas”, diz o jornalista Guilherme, um de seus filhos. João Américo morreu em 12 de outubro, aos 92 anos, em Niterói.
Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864