“Noite chegou outra vez / de novo na esquina os homens estão / todos se acham mortais / dividem a noite, a lua e até a solidão.” Milton Nascimento conta que Clube da Esquina, a clássica balada da MPB que marcaria uma geração de geniais músicos de Minas Gerais, nasceu na casa da família Borges em Santa Tereza, em Belo Horizonte. “Lô me mostrou uma harmonia, eu peguei meu violão e comecei a improvisar”, disse o cantor. “Fechei os olhos e não via mais nada do que acontecia no mundo.” Quando voltou a si, a mãe dos irmãos Lô e Márcio chorava enquanto segurava uma vela, porque faltava luz.
Aquele clima, aquele ambiente de amor e arte, cercou Lô Borges desde a adolescência, ao se aproximar da trupe de Milton, que em Belo Horizonte se reunia na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis. Tímido, no violão e no piano, sempre com papel em mãos, misturava poesia com rock, jazz com bossa nova, na criação de obras-primas dos anos 1970 — e que ainda hoje ecoam como retrato de um tempo feito de sonhos, de busca de liberdade e democracia no Brasil ferido pelo regime militar. Lô é autor ou coautor de Para Lennon e McCartney, O Trem Azul e Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, do álbum Clube da Esquina, lançado em 1972, cujos versos sempre emocionam, associados ao lindo arranjo e ao piano inesquecível: “Se eu morrer, não chore, não / É só a lua / É seu vestido cor de maravilha nua, / Ainda moro nesta mesma rua / Como vai você? / Você vem? / Ou será que ainda é tarde demais?”. Lô morreu em 2 de novembro, aos 73 anos, em decorrência de uma intoxicação provocada por medicamentos. Estava internado havia duas semanas.
Um século de militância
Filha de judeus russos que fugiram da perseguição antissemita no Leste Europeu, Clara Charf foi criada no Recife e, desde a meninice, teve contato com militantes comunistas. Comissária de bordo por profissão, de inglês fluente, preferia a lida com a política a ficar no ar. No início dos anos 1940, em atividades do Partido Comunista Brasileiro, conheceu o militante Carlos Marighella, com quem se casaria em 1947 e viveria até a morte dele, em 1969, assassinado pela ditadura. Forçada ao exílio, foi para Cuba, onde permaneceria até a anistia de 1979.
De volta ao Brasil, Clara atuou de modo firme na luta pelos direitos das mulheres. Candidata a deputada estadual em 1982, pelo PT, teve cerca de 20 000 votos, mas não conseguiu se eleger. A derrota não a afastou do tema que a fascinava, e que até o fim da vida mantinha aceso, como mantra: a lembrança do legado de Marighella. Morreu em 3 de novembro, aos 100 anos, completados em julho.
O vice mais influente
Para muitos analistas da política americana, Dick Cheney foi o mais poderoso vice-presidente da história dos Estados Unidos. Conselheiro mais próximo de George Bush, como secretário de Defesa, orquestrou a Guerra do Golfo, que expulsou os invasores iraquianos do Kuwait em 1991, e, uma década depois, já como vice-presidente, assumiu um papel de liderança na resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Cheney morreu em 4 de novembro, aos 84 anos, de problemas cardíacos.
Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2025, edição nº 2969
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