
Há um modo de entender a história do Japão depois da II Guerra: lendo a obra do escritor Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de Literatura de 1994. A um só tempo intimista e universal, em textos prenhes de esperança e desilusão, ele traçou o caminho de um país — e, a partir dele, do mundo — que brigava simultaneamente para esquecer o passado e pavimentar o futuro. “A única, a verdadeira questão que interessa a um intelectual é o sofrimento humano”, disse. Seu romance mais conhecido no Brasil, de evidente cunho autobiográfico, é Uma Questão Pessoal. Em 1963, Oe teve um filho com uma anomalia cerebral. Bird, o personagem central da trama, um professor de cursinho que afoga as dores na bebida, atravessa situação similar — e de seu drama brota uma bela narrativa entre o devaneio e o desespero.
Mestre ao criar fantasia, Oe nunca se desconectou do cotidiano político, em permanente contradição. Era um pacifista fascinado pela violência, um homem de esquerda banhado de nacionalismo. Foi uma das vozes mais destacadas de um movimento ruidoso para os japoneses: sugeria que o governo pagasse compensações a cidadãos de China e Coreia do Sul atacados pelo Japão. Era também defensor da ideia de reduzir o poderio militar do país. Mais de uma vez recebeu ameaças de morte de militantes de extrema direita. Em 2005, venceu uma ação judicial motivada pelo seu livro Notas de Okinawa, de 1970, no qual descreveu como o Exército japonês induziu a população civil ao suicídio na Ilha de Okinawa, durante a II Guerra. Um ex-oficial e a família de um soldado pediam indenização e recolhimento do livro — o que, em nome da liberdade e da boa arte, não ocorreu. Afeito a bate-boca, apesar do comportamento tímido emoldurado por óculos de lentes grossas, pouco depois do Nobel ele recusou a Ordem de Cultura, distinção concedida pelo imperador. “Não reconhecerei nenhuma autoridade, nenhum valor superior à democracia”, disse. Oe morreu em 3 de março, aos 88 anos, de causas não reveladas pela família, mas a notícia só foi divulgada no dia 13.
Coadjuvante na ribalta

O ator carioca Antônio Pedro era craque em criar personagens coadjuvantes que, em pouco tempo, caíam no gosto popular. Ele participou de novelas como Sassaricando (1987), na Globo. Trabalhou também nos infantojuvenis Sítio do Picapau Amarelo e Malhação. Mas deu um salto como o Bicalho, de Chico Anysio Show, em 1989, e depois como o Celso Piquete, de A Escolinha do Professor Raimundo, em 1990. Egresso do teatro, ia do riso ao choro com facilidade. Morreu no dia 12, aos 88 anos, no Rio, de insuficiência renal e cardíaca.
Publicado em VEJA de 22 de março de 2023, edição nº 2833