
Há no inconsciente coletivo brasileiro — e não apenas entre os que gostam de futebol — uma fotografia fundadora do país que desejávamos ser, em meados do século passado. Nem é preciso mostrá-la, dada a força arrebatadora da imagem que, nas palavras do dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, enterraria nosso vira-latismo atávico. Ela mostra Pelé, aos 17 anos, no final da Copa de 1958, na Suécia, em prantos, chorando como menino, encostado no peito do goleiro Gylmar e ao lado de Didi. É comovente. A França também tem um retrato esportivo para chamar de seu, feito na véspera do registro do novíssimo rei do futebol. Ele mostra o atacante Just Fontaine de sorriso aberto, erguido por companheiros e por jornalistas de terno e gravata. “Justo”, como era conhecido, tinha 24 anos. Celebrava a conquista do terceiro lugar, na vitória contra a Alemanha por 6 a 3, e um marco que nunca mais se repetiria: os treze gols feitos numa única Copa. Os franceses não chegaram à final porque perderam a semi para o escrete de… Pelé, que marcou três vezes — embora, ressalve-se, a França tenha jogado com apenas dez homens quase toda a partida, porque um zagueiro se machucou logo no começo do confronto e não havia direito a substituição naquele tempo.
O recorde de Fontaine — habilidoso com as duas pernas e excelente cabeceador, apesar da estatura mediana, 1,74 metro — foi, e continua sendo, um colosso. A título de comparação: Messi também fez treze, mas ao longo de cinco Mundiais. Mbappé tem espetaculares doze em duas Copas. Quem chegou mais perto do francês nascido no Marrocos foi o alemão Gerd Müller, com dez tentos em 1970. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 1997, Fontaine relembraria o feito que o faria mito, apesar da curta carreira entre os bleus, encerrada em 1962. “Estava em plena forma, mesmo tendo feito uma operação de meniscos”, lembrou. “Dois dias antes da Copa, minhas chuteiras arrebentaram. Meu reserva me emprestou as dele. Foi com ela que eu marquei os treze gols. Depois eu devolvi as chuteiras. Um verdadeiro artilheiro marca gols até descalço.” Fontaine morreu em 1º de março, em Paris, aos 89 anos, de causas não reveladas pela família.
Um século de cinema

A Mirisch Company, fundada por Walter Mirisch e seus dois irmãos, Marvin e Harold, em 1957, rapidamente se transformou numa das mais influentes e poderosas produtoras de cinema de Hollywood. Atrelada a diretores como John Ford, John Huston e Billy Wilder, concorreu a 87 prêmios da Academia — e conseguiu 28 estatuetas do Oscar. Alguns dos filmes mais celebrados dos Mirisch: Se Meu Apartamento Falasse, de 1960; West Side Story — Amor, Sublime Amor, de 1961; e No Calor da Noite, de 1967. Walter, o irmão com mais pendor para as artes, teve papel relevante em momento-chave da tela grande, que perdia espaço para o sucesso avassalador da televisão dentro dos lares. Era preciso levar às salas de cinema produções espetaculares e incontidas, que representassem arrasa-quarteirões. Deu certo. Ele morreu em 24 de fevereiro, aos 101 anos, em Los Angeles, de causas não reveladas.
Publicado em VEJA de 8 de março de 2023, edição nº 2831