Datas: José Gregori, Jimmy Buffett e Mohamed Al-Fayed
O ex-ministro da Justiça, o cantor americano e o empresário egípcio

O Brasil seria um lugar pior sem a coragem e a inteligência do advogado José Gregori. Ministro da Justiça entre 2000 e 2001, na Presidência de Fernando Henrique Cardoso, ele foi sempre uma das vozes mais influentes na luta pela democracia, especialmente na transição depois de 21 anos de ditadura militar. Corajoso, defendeu presos políticos e integrou a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, que nos anos 1970 apoiou familiares de torturados. Foi também um dos fundadores da Comissão Arns, criada em 2019 para acompanhar e denunciar violações de direitos humanos. Seguia, firme e convicto, uma trajetória pessoal e profissional de bela e comovente coerência.
Em 1977, das arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde se formou, fez o discurso que antecedeu o do jurista Goffredo da Silva Telles no anúncio da Carta aos Brasileiros, documento que ajudaria a acelerar a democratização. No ano passado, em ambiente de ameaças golpistas de Bolsonaro, pôs seu nome em outro documento seminal, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito. Membro histórico do PSDB desde a fundação do partido, rapidamente declarou voto a Lula na disputa com Bolsonaro. Gregori morreu em 3 de setembro, aos 92 anos. Estava internado havia dois meses em decorrência de uma pneumonia.
Sombra e água fresca

Ele fez do limão uma limonada. Ou melhor, de um único estrondoso sucesso, um negócio de centenas de milhões de dólares. O cantor e compositor americano Jimmy Buffett alcançou o topo das paradas de sucessos em todo o mundo em 1977 com um soft rock, Margaritaville. A balada conta a história de um homem solitário que da varanda de um resort praiano lamenta o amor perdido. Caiu no gosto popular a ponto de virar símbolo de um estilo de vida feito de sol e dolce far niente. Não demorou para que a aventura fosse adotada por uma coleção de bares e restaurantes inspirados na canção. E, então, Buffett — cuja fortuna chegou a 550 milhões de dólares — mudou de carreira, em torno de cifras e não mais de notas musicais. No Brasil ele é mais conhecido pela também adesiva Survive, da trilha sonora da novela Coração Alado, de 1980. Buffett morreu em 1º de setembro, aos 76 anos.
A obsessão de um pai

O egípcio Mohamed Al-Fayed esteve intimamente ligado à paisagem de duas grandes capitais do mundo, Londres e Paris. Nem sempre, ressalve-se, com olhar amistoso — ao contrário, era visto como o predador que, ancorado em imensa fortuna, comprou dois ícones de um lado e outro do Canal da Mancha. Em 1979 levou para seu portfólio de negócios o Hotel Ritz parisiense. Em seguida, em 1985, anunciou com estardalhaço a aquisição da Harrods, incontornável símbolo londrino.
Foi das instalações luxuosas do Ritz, na Place Vendôme, que seu filho Dodi, de braços dados com a princesa Diana, saiu para ser perseguido pelos paparazzi a caminho da morte, em agosto de 1997. Desde então, Mohamed colou sua vida a uma única obsessão: alimentar teorias de conspiração para explicar o acidente, culpando inclusive a família real, os serviços secretos britânicos e franceses e até a CIA americana. Em vão. Ele morreu em 30 de agosto, aos 94 anos, em Londres, de causas não reveladas pela família.
Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858