Em 1953, os biólogos Francis Crick (1916-2004) e James Watson, de mãos dadas com Maurice Wilkins, reinventaram a vida. Eles propuseram o modelo da dupla-hélice, uma estrutura em forma de escada retorcida que explicava com elegância como a informação genética é armazenada e replicada pela molécula das moléculas, o DNA. A descoberta rendeu-lhes o Prêmio Nobel de Medicina de 1962. Contudo, uma cientista fundamental, que andou junto com o trio na aventura de laboratório, Rosalind Franklin, o quarto pilar da descoberta, morreu em 1958, tendo sido, portanto, alijada da láurea sueca. Depois, em gesto reconhecido pelo próprio Watson, ela seria apagada das páginas da história, em narrativa evidentemente misógina — e que apenas muito recentemente foi reconstruída.
Watson, tido como um dos grandes nomes do século XX, cobiçado para palestras e encontros, sinônimo de persistência e investigação, passaria os derradeiros anos de vida no ostracismo, aplaudido apenas pelos conservadores. Em evidente e vergonhoso passo em falso, em 2007 ele foi forçado a se aposentar do prestigioso laboratório Cold Spring Harbor, no estado de Nova York, depois de declarar à imprensa que era “pessimista em relação às perspectivas para a África” porque “todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que sua inteligência é a mesma que a nossa — enquanto todos os testes dizem que não é realmente assim”. Essas afirmações, que equiparavam inteligência a raça, foram universalmente condenadas pela comunidade científica, que rejeita veementemente o uso da genética para justificar o racismo. Foi como se Watson renegasse a história que o fez louvado, em triste e constrangedora reviravolta. Ele morreu em 6 de novembro, aos 97 anos.
O Rei Lear do cinema japonês
Foi espantoso — e celebrado mundialmente. Na releitura do Rei Lear de Shakespeare em Ran, obra-prima do diretor Akira Kurosawa, de 1985, o ator Tatsuya Nakadai deu ao personagem densidade inigualável. Os movimentos estilizados e a teatralidade evocam as peças kabuki, da tradição japonesa. E, então, o mundo descobriu Nakadai, que no Japão era já muito celebrado, dada a infinita capacidade de ir do drama ao humor como se fosse fácil. Atuou em mais de 100 filmes. Orgulhava-se de ter desenvolvido o ofício ao trabalhar com uma outra lenda nipônica, Toshiro Mifune, formando par de personalidades antagônicas. O que Mifune tinha de solar, Nakadai tinha de contido. Não por acaso, interpretaram adversários, como em Yojimbo, de 1961, e Sanjuro, de 1962, ambos de Kurosawa. Ele morreu em 8 de novembro, aos 92 anos, em Tóquio.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970
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