
Discreta, afastada da ribalta como se a luz dos palcos a incomodasse, Cristina Buarque, irmã de Chico e Miúcha, era uma artista que preferia a reclusão à fama. Contudo, ao gravar em 1974 a canção Quantas Lágrimas, de Manacéia, ela se tornou nacionalmente conhecida. Antes, já havia dividido com o irmão a interpretação de Sem Fantasia, no terceiro álbum do cantor, de 1968. Em 1980, Chico compôs para ela Bastidores, que acabou sendo gravada por Cauby Peixoto e virou marca registrada daquele imenso vozeirão. A timidez escondia uma cantora respeitadíssima. Ela era chamada pela turma do samba de “Chefia”, tida como uma enciclopédia do gênero musical, pescadora de pérolas da música brasileira, estudiosa a não mais poder. As colegas Marisa Monte e Mônica Salmaso a têm como farol.
De humor afiado, em permanente ironia, ela comandava no Rio de Janeiro uma roda de samba na Ilha de Paquetá, onde morava, tradução de um Brasil que pode dar certo ao rir das alegrias e de si mesmo. Cristina morreu em 20 de abril, aos 74 anos. Depois da cremação, foi marcada em homenagem a ela um gurufim, despedida regada a samba.
As manhas de El Loco

Não por acaso, no fim dos anos 1960 e nos anos 1970, ele era conhecido como El Loco. O goleiro argentino Hugo Gatti era da pá virada, no modo de vestir, nos longos cabelos presos a uma tiara, em tempo ainda prenhe de preconceito, e sobretudo pelo modo como jogava. Sem medo ou pudor, com as cores do River Plate, mas sobretudo do Boca Junior, cujas cores defendeu mais de 400 vezes, ele saía da grande área para desafiar os atacantes adversários, sempre espalhafatoso, mas seguro. Arrogante, porque sabia ser bom e diferente, bem acima da média, se apresentava como o melhor arqueiro de um país que já teve nomes fenomenais como Ubaldo Fillol e, agora, Dibu Martínez. Contudo, teve atuação apenas burocrática, apagada mesmo, na seleção albiceleste. Gatti morreu em 20 de abril, aos 80 anos, de problemas respiratórios.
Um ícone da imprensa

Nascido no Espírito Santo, o jornalista Wilson Figueiredo formou-se profissionalmente em Minas Gerais. Amigo de gente da pesada como Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende, tinha prosa elegante — e informações exclusivas como ninguém. No Jornal do Brasil carioca atuou por quase cinco décadas como editorialista, redator, colunista e comentarista político, participando da reforma editorial que consolidou o veículo como uma das vozes mais influentes da imprensa brasileira no século XX. Foi um dos primeiros a antever a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Figueiró, como era conhecido, morreu em 20 de abril, aos 100 anos.
Publicado em VEJA de 25 de abril de 2025, edição nº 2941