Datas: Cláudio Hummes, Arnold Skolnick e Sergio Paulo Rouanet
O cardeal arcebispo, o ícone do paz & amor e o diplomata que deu nome à Lei Rouanet

Sentado ao lado de Jorge Mario Bergoglio em 13 de março de 2013, na contagem dos derradeiros votos do conclave que escolheria o sucessor de Bento XVI, o cardeal arcebispo de São Paulo, Cláudio Hummes, aproximou-se ao pé do ouvido do amigo argentino, ambos emoldurados pela beleza de Michelangelo na Capela Sistina. O próprio papa Francisco relataria o que houve, depois da fumaça branca: “Quando o caso começava a tornar-se um ‘pouco perigoso’, ele animava-me. E quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque fora eleito o papa. Ele me abraçou, me beijou e disse: ‘Não te esqueça dos pobres’. E aquela palavra ficou na minha cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis”. E foi assim, por inspiração do gaúcho Hummes, que nasceu a alcunha do pontífice jesuíta. Não por acaso, o lema do brasileiro, ele sim da ordem dos franciscanos, era Omnes vos fratres —“Somos todos irmãos”. Em Fortaleza — onde também foi arcebispo — e depois em São Paulo, sempre teve zelo pelos desvalidos. Depois, de 2006 a 2011, com Bento XVI, assumiu o cargo de prefeito da Congregação para o Clero, órgão da Santa Sé destinado à formação de padres. Hummes morreu em 4 de julho, em São Paulo, aos 87 anos, de câncer no pulmão.
O ícone do paz & amor

O pedido foi feito numa quinta-feira e na segunda estava pronto. Em apenas cinco dias, o artista plástico americano Arnold Skolnick desenhou o mais duradouro símbolo de uma época, os anos 1960 do Paz & Amor contra a Guerra do Vietnã regido pela música. O pôster do Festival de Woodstock, realizado em 1969, com um pássaro pousado no braço de uma guitarra, era ao mesmo tempo ingênuo e ruidoso. Foi infinitamente reproduzido e copiado. “Pensei inicialmente em um pássaro e uma flauta, mas flauta é jazz, guitarra é que é rock”, disse o desenhista. Skolnick morreu em 15 de junho, aos 85 anos, em Amherst, Massachusetts.
Cultura é civilização

Em 1991, como titular da pasta da Cultura do governo do presidente Fernando Collor, o diplomata Sergio Paulo Rouanet elaborou um projeto de lei que levaria seu nome — a Lei Rouanet autorizava empresas e pessoas físicas a descontar do imposto de renda valores diretamente repassados a iniciativas culturais, como shows de música, exposições de arte, preservação do patrimônio histórico, livros etc. Ela ajudou a alimentar a produção artística brasileira, apesar das falhas, apesar dos defeitos que pediam frequente reformulação, como a exagerada concentração de projetos no eixo Rio-São Paulo e a ajuda a criadores que, a rigor, não precisariam de apoio. Mas era um bem. Durante o governo de Jair Bolsonaro, virou moda atacar a lei — como se ela fosse um problema, ímã de atração de ideias na contramão da obtusidade intelectual do governo. Mudou de nome — virou apenas Lei de Incentivo à Cultura — e teve os aportes reduzidos em 50%, entre outros entraves. Rouanet comemorou o novo batismo. “Achei uma ótima ideia a troca de nome, até pelo momento político em que vivemos”, disse em entrevista ao jornal O Globo, em 2019. “É um enorme alívio.” Ele era membro da Academia Brasileira de Letras. Morreu em 3 de julho, aos 88 anos, no Rio, depois de longo período lutando contra a doença de Parkinson.
Publicado em VEJA de 13 de julho de 2022, edição nº 2797