Datas: Claude Ruiz-Picasso, MC Marcinho e Geraldo Majella
O filho de Picasso, o funkeiro e o cardeal

A pintora francesa Françoise Gilot, que morreu em junho deste ano, fez história por ter sido a única das mulheres de Pablo Picasso a abandoná-lo — decisão corajosa, dado o histórico de machismo e estupidez do gênio espanhol. Com Picasso, ela teve dois filhos: Paloma Picasso, hoje com 74 anos, e Claude Ruiz-Picasso. Depois da ruidosa separação, embora nunca tivesse negado publicamente a paternidade, o pintor demorou a reconhecê-los legalmente. O processo na Justiça começou em 1972 e só foi encerrado em 1974, um ano depois da morte de Picasso.
Claude se tornaria o herdeiro e administrador da obra do pai, atividade que o faria mais conhecido do que com a profissão escolhida, a de fotógrafo. Sempre muito zeloso com a herança que lhe coube controlar, em 1998 ele se envolveu em polêmica ao vender os direitos do nome Picasso para a Peugeot-Citroën, que lançaria um veículo com a famosa grife. “Não posso aceitar que usem o nome de meu avô para vender algo tão banal quanto um carro”, disse uma das netas, que levou o caso aos tribunais (ela seria derrotada). Claude morreu em 24 de agosto, aos 76 anos.
O príncipe do funk

Em 1995, Márcio André Nepomuceno, o MC Marcinho, estourou nas paradas de sucesso das rádios do Rio de Janeiro — e, depois, pelo Brasil — com Rap do Solitário (“Amor, por que você me trata assim? Apenas quero te fazer feliz”). Era a gênese de uma modalidade mais romântica do funk, o melody. Nos anos 2000, com a ascensão de letras erotizadas e batidas mais fortes, Marcinho se afastou da ribalta, até voltar a explodir com Glamurosa, inspirada na apresentadora Xuxa (“Pretinha, moreninha, russa e loirinha / Me deixa doidinho quando dança tremidinha / O funk do meu Rio se espalhou pelo Brasil / Até quem não gostava, quando ouviu não resistiu”). Ele morreu em 26 de agosto, aos 45 anos. Em junho tivera um infarto e, em julho, recebeu um coração artificial.
O zelo pela infância perdida

O lema episcopal do cardeal mineiro Geraldo Majella, arcebispo emérito de Salvador e ex-presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), traduzia à perfeição toda a sua vida: “Caridade Com Fé”. Em 1983, Majella foi um dos criadores da Pastoral da Criança, de mãos dadas com a médica sanitarista Zilda Arns (1934-2010). A Pastoral cuida da alimentação, educação e saúde de menores de famílias pobres. O projeto teve início na cidade de Florestópolis, no Paraná. A localidade foi escolhida por ter, naquele tempo, uma taxa de mortalidade infantil vergonhosa, de 127 para cada 1 000 nascimentos. Um ano depois, a cifra tinha diminuído para 28 crianças mortas entre cada 1 000 que nasciam. “Minhas preces são também de gratidão a Deus pelos longos anos de seu dedicado serviço à Santa Mãe Igreja, sempre pautado pelo zelo apostólico, nas diversas missões que lhe foram confiadas”, disse o papa Francisco. Majella morreu em 26 de agosto, aos 89 anos, em Londrina.
Publicado em VEJA de 1º de setembro de 2023, edição nº 2857