O atacante inglês Bobby Charlton parecia vestir no gramado, de chuteiras, o terno de lã azul que costumava usar quando não praticava esporte. Altivo, elegante, dono de uma visão de jogo inigualável e com faro de gol comparado ao do húngaro Puskás, seu contemporâneo, era considerado um dos grandes, se não o maior, jogador da história do Manchester United e da seleção da Inglaterra. Em 1966, em Wembley, palco da final da Copa do Mundo vencida pelos inventores do futebol, o capitão do time era Bobby Moore — mas a rainha da Inglaterra, Elizabeth, fez questão de oferecer a taça Jules Rimet também a Charlton. Em 1974, ela o condecoraria como sir. Era a celebração de um atleta que atravessou as décadas, campeão em tudo, autor de 249 gols, como se cumprisse uma missão: homenagear os companheiros do Manchester que tinham morrido em um acidente de avião em 1958.
O elenco retornava de uma partida de quartas de final da Copa dos Campeões da Europa contra o Estrela Vermelha (empate por 3 a 3, com dois gols de Charlton), disputada em Belgrado. A escala em Munique, com a pista coberta de gelo, foi o palco da tragédia. Havia 44 pessoas a bordo do voo 609 da British European Airways — vinte morreram na hora, outros três, no hospital. Houve 21 sobreviventes — entre os quais Charlton e o treinador Matt Busby, que montara a extraordinária equipe. Busby — como comprovação de seu sucesso — seria citado pelos Beatles na canção Dig It, do álbum Let it Be, de 1970. Instado a lembrar do acidente, o que acontecia com frequência indesejada, Charlton resumia seu sentimento com sinceridade comovente. “Penso nisso todos os dias da minha vida. Eu não acho que tive sorte ou algo assim. Nunca pensei desse jeito. Como posso estar bem e todos os outros terem ido embora? Você se sente um pouco culpado.” Ele morreu em 21 de outubro, aos 86 anos. Sofria de demência desde 2020. “Amo a Inglaterra por vários motivos, mas um deles é o carinho que dedicam a seus mitos”, disse o treinador catalão Pep Guardiola, do Manchester City. “Sir Bobby Charlton representa o Manchester United e o futebol inglês como ninguém.”
Roqueiro brasileiro
Eles são do tempo em que roqueiro brasileiro tinha cara de bandido. A banda Made in Brazil foi criada em 1967 pelos irmãos Oswaldo Vecchione, baixista, e Celso “Kim” Vecchione, o guitarrista. De batida forte e vocais (de Cornelius Lucifer) que não tinham vergonha de beber do que se fazia fora do Brasil, como os Rolling Stones, o grupo influenciou a geração dos anos 1970 e 1980. Em tempo: tanto o Made in Brazil quanto os Stones, com formações diferentes da original, ainda existem. Celso morreu em 21 de outubro, em São Paulo, aos 74 anos, de causas não reveladas.
Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865