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Datas: as despedidas que marcaram 2025

A galeria de personalidades que nos deixaram no ano, ávidas por mudar o mundo

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 dez 2025, 06h00 •
  • OLHAR ILUMINADO

    Sebastião Salgado
    Fotógrafo
    As câmeras de Sebastião Salgado ensinaram a civilização a enxergar as belezas e os horrores de nosso tempo, em contraste iluminado quase sempre em preto e branco. Não se tratava de recurso dramático, como se a ausência de cores fosse um truque para emocionar. A escolha era um manifesto. “A cor, para mim, era um momento de grande desconcentração quando ia fotografar. As pessoas têm uma ligação muito mais forte com o preto e branco do que com a cor”, disse. O trabalho do mineiro de Aimorés, radicado em Paris havia mais de quarenta anos, ecoará ainda por muito tempo. Tem a dimensão de monstros sagrados como W. Eugene Smith e Henri Cartier-Bresson. Pode ser comparado à obra dos muralistas mexicanos da primeira metade do século XX, como Alfaro Siqueiros e Diego Rivera, registro da miséria e heroísmo de seu povo. Em viagens para 120 países, Salgado registrou o mundo natural e a condição humana, a natureza e o trabalho, indissociáveis. Ele morreu em 23 de maio, aos 81 anos.

    MUITO ALÉM DAS TELAS

    Robert Redford
    Robert Redford (Oscar Abolafia/TPLP/Getty Images)

    Robert Redford
    Ator, Diretor e Produtor
    O mundo sem Robert Redford teria menos graça — e certamente perderia boa parte de sua beleza. Um dos grandes personagens de nosso tempo, ele foi de tudo: o galã lindo e de interpretação refinada de Descalços no Parque (1967), Todos os Homens do Presidente (1976) e Entre Dois Amores (1985); dirigiu Gente como a Gente (1980), pelo qual recebeu o Oscar; em 2002, ganharia uma outra estatueta honorária por sua contribuição ao desenvolvimento do cinema, em constante casamento de militância com bom gosto. Ao criar o Festival de Sundance, na década de 1980, abriu as portas para trabalhos independentes, cultuados todos os anos — e que forçaram a engrenagem clássica de Hollywood a se mexer, deixando o lugar-comum. Pioneiro na defesa das questões ambientais, preocupado com os indígenas americanos, Redford soube conciliar, como poucos, a atividade meramente artística com a postura política, de modo que uma enriquecesse a outra. Avesso à ribalta, nos últimos anos decidiu se recolher a um rancho na cidade natal de Utah. Morreu em 16 de setembro, aos 89 anos.

    Diane Keaton
    Diane Keaton (London Entertainment/Getty Images)

    Diane Keaton
    Atriz
    Filha de um engenheiro civil e uma dona de casa que cantava e tocava piano, Diane Keaton começou a fazer sucesso em 1969 com uma montagem teatral de Woody Allen, Play It Again, Sam, atalho para a fama delicada, construída nas telas do cinema. Ganharia notoriedade com os dois primeiros filmes da trilogia O Poderoso Chefão, na qual interpretou Kay Adams, a mulher de Michael Corleone, vivido por Al Pacino — com quem ela faria um par na vida real. Em 1978, ganharia o Oscar de melhor atriz em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, o título risível para Annie Hall, a obra-prima de Allen — Hall, aliás, era o sobrenome do pai de Diane, que preferiu tocar em frente com a alcunha da mãe. O diretor — com quem ela também viveria um romance — nunca escondeu ter se inspirado na companheira ao escrever o argumento do longa. Nas telas e fora delas, revolucionou o modo pelo qual as mulheres eram retratadas por Hollywood. Desde o início, desdenhou do estilo de moças como princesas, trocou as saias por calças compridas, o vestuário feminino por toques masculinos, sempre com firme doçura. Recusava-se a fazer cirurgias plásticas. Morreu em 11 de outubro, aos 79 anos.

    Claudia Cardinale
    Claudia Cardinale (Sunset Boulevard/Corbis/Getty Images)
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    Claudia Cardinale
    Atriz
    De prostituta a santa, a italiana Claudia Cardinale parecia mover o ar quando se deslocava nos estúdios de cinema, ou então quando as câmeras focavam o olhar inigualável, a um só tempo ingênuo e lascivo. Foi um dos rostos e corpos mais conhecidos dos anos 1960. La Cardinale, como era conhecida, filmou com Federico Fellini, Sergio Leone, Abel Gance, Werner Herzog e Blake Edwards. Um dos diretores que a tinha como estrela atávica, Luchino Visconti, com quem fez clássicos como Rocco e Seus Irmãos (1960), O Leopardo (1963) e Vagas Estrelas da Ursa (1965), foi direto ao ponto: “Era uma gata em busca de carícias para se transformar numa tigresa e acabar com quem se aproximasse dela”. Morreu em 23 de setembro, aos 87 anos.

    Gene Hackman
    Gene Hackman (Stanley Bielecki Movie Collection/Getty Images)

    Gene Hackman
    Ator
    Não havia nenhuma possibilidade de um filme com o americano Gene Hackman ser ruim ou desinteressante. Com uma carreira de quarenta anos no cinema, em mais de oitenta trabalhos, tinha faro para boas escolhas de temas e diretores. Por Operação França (1971) levou o Oscar de melhor ator. Já pela participação em Os Imperdoáveis (1992), venceu a estatueta de melhor ator coadjuvante. Alcançou o sucesso relativamente tarde, surgindo aos 30 anos depois de servir como fuzileiro naval. Seu semblante personificava como poucos o anti-herói de Hollywood dos anos 1970. Foi encontrado morto, ao lado da mulher, na residência do casal no Novo México, em 26 de fevereiro. Tinha 95 anos.

    Richard Chamberlain
    Richard Chamberlain (ABC Photo Archives/Disney/Getty Images)

    Richard Chamberlain
    Ator
    Antes do streaming, antes da onda de séries de inspiração médica, o americano Richard Chamberlain explodiu de sucesso em todo o mundo como o protagonista de Dr. Kildare, exibido entre 1961 e 1965 no Brasil pela extinta TV Excelsior. O seriado acompanhava os dramas de um jovem doutor idealista na lida com os pacientes e os corredores do hospital onde trabalhava, em ideia que seria depois repetida ao longo dos anos. Em 1983, Chamberlain trocaria o jaleco pela batina, nos quatro episódios de Pássaros Feridos, para viver a história do padre Ralph de Bricassart, que passa a vida no dilema de seguir na carreira religiosa ou abandoná-la por um amor impossível. Morreu em 29 de março, dois dias antes de completar 91 anos.

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    Cacá Diegues
    Cacá Diegues (Ernani D’Almeida/.)

    Cacá Diegues
    Diretor de Cinema
    A biografia do Brasil foi escrita por Cacá Diegues nas telas de cinema. Desde um dos segmentos de Cinco Vezes Favela, de 1962 — “Escola de Samba Alegria de Viver” —, um dos passos iniciais do chamado Cinema Novo, liderado por Glauber Rocha, até o derradeiro longa, em pós-produção, Deus Ainda É Brasileiro, o cineasta, nascido em Alagoas e radicado no Rio de Janeiro, acompanhou os humores de um país a um passo do precipício e em eterna contradição. Em 1980 dirigiu uma obra-prima, Bye Bye Brasil. O filme parece um road movie de uma trupe circense, mas é, de fato, a crônica da nação que tentava respirar ao sair da tragédia. A canção-título, de Chico Buarque de Hollanda, servia à perfeição às intenções do trabalho: “Eu penso em vocês night and day/ explica que tá tudo okay/ eu só ando dentro da lei/ eu quero voltar, podes crer/ eu vi um Brasil na tevê”. Morreu em 14 de fevereiro, aos 84 anos.

    Silvio Tendler
    Silvio Tendler (Caio Guatelli/Folhapress/.)

    Silvio Tendler
    Documentarista
    E a memória de um país desmemoriado, que de quinze em quinze anos esquece os últimos quinze anos, na perfeita definição do escritor Ivan Lessa (1935-2012)? Quem tratou de zelar para não esquecermos de relevantes passos históricos foi o cineasta carioca Silvio Tendler, documentarista que servia, em igual dimensão, à militância política, sempre à esquerda do espectro político, e ao rigor de pesquisas. Dirigiu clássicos seminais: Os Anos JK — Uma Trajetória Política, de 1980; Jango, de 1984; e Tancredo, a Travessia, de 2011, peças da chamada “trilogia presidencial”. Tinha especial apreço por personagens que tiveram suas vivências interrompidas por repressões ou pela morte — daí a bonita alcunha de “cineasta dos sonhos interrompidos” ou “cineasta dos vencidos”. Ele morreu em 5 de setembro, aos 75 anos.

    Francisco Cuoco
    Francisco Cuoco (./TV Globo)
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    Francisco Cuoco
    Ator
    Ele não era um galã típico, de beleza indiscutível — mas o vozeirão e o olhar a um só tempo frio e romântico fizeram de Francisco Cuoco um dos grandes nomes da televisão brasileira, especialmente no território das novelas. Destacou-se por papéis inesquecíveis como o taxista Carlão de Pecado Capital, de 1975, e o charlatão Herculano Quintanilha de O Astro, de 1977. Controlava as cenas como muito poucos, herança de sua formação no teatro. Paulistano de quatro costados, nos anos 1950 entrou na Escola de Arte Dramática (EAD), hoje ligada à Universidade de São Paulo (USP). Sua estreia no palco ocorreu em 1958, ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto na peça A Muito Curiosa História da Virtuosa Matrona de Éfeso, em um papel sem falas. Foi convidado a fazer teleteatro na TV Tupi e então não parou mais de ganhar relevo. Sem falsa modéstia, definiu sua trajetória com precisão: “Foi baseado em empenho, em entrega, em busca de igualdade. Passaram-se anos e experiências foram acumuladas. Eu perdia tempo, mas depois obtinha resultado. Foi bom”. Foi bom mesmo. Morreu em 19 de junho, aos 91 anos.

    RIR É O MELHOR REMÉDIO

    Luis Fernando Verissimo
    Luis Fernando Verissimo (Liane Neves/.)

    Luis Fernando Verissimo
    Escritor, Humorista, Cartunista etc. etc.
    A comédia da vida privada do Brasil nos últimos cinquenta anos foi traduzida com elegância por Luis Fernando Verissimo, que começou tarde seu ofício, aos 33, talvez pelo receio de ser comparado ao pai, Erico Verissimo, autor de obras seminais, como O Tempo e o Vento. Ele publicou setenta livros, com mais de 5 milhões de exemplares vendidos, e criou personagens impagáveis: o Analista de Bagé (o psicanalista “mais ortodoxo do que rótulo de Maizena”); a Velhinha de Taubaté (“a única brasileira que ainda acreditava na política”) e o detetive trapalhão Ed Mort. Para o jornalista Sérgio Augusto, “tímido, taciturno, ele encarava o seu humor como um triunfo da técnica sobre a vocação”. Morreu em 30 de agosto, aos 88 anos.

    Jaguar
    Jaguar (ABI-Jaguar/.)

    Jaguar
    Humorista
    Não havia preconceito que Jaguar deixasse de alimentar, nos anos 1960 e início dos 1970 — contra as minorias todas. Defendia os abusos todos: de álcool, cigarro e sexo. Mesmo para um tempo em que as fronteiras do que podia ou não podia ser dito inexistiam, era abusado. Cartunista das revistas Senhor e Pif-Paf e dos jornais Última Hora e Tribuna da Imprensa, em 1968 faria sucesso com seu primeiro livro, Átila, Você É Bárbaro, irônico ataque contra as barbaridades do país cercado pela ditadura militar. Um ano depois, com Tarso de Castro e Sérgio Cabral, fundaria um semanário de humor, O Pasquim, que reinventaria o jornalismo e que durou 22 anos, até 1991. Morreu em 24 de agosto, aos 93 anos. Suas cinzas foram espalhados por bares onde bebia.

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    ACORDES DE CORAÇÃO

    Hermeto Pascoal
    Hermeto Pascoal (Irmo Celso/.)

    Hermeto Pascoal
    Compositor e Multi-instrumentista
    Conhecido como “o Bruxo”, por conseguir tirar harmonia e melodia onde se supunha apenas silêncio ou barulho desmedido, o compositor e multi-instrumentista Hermeto Pascoal era respeitado internacionalmente, adorado por mestres como Miles Davis. Já em 1965, com Em Som Maior, do grupo Sambrasa Trio, formado por ele no piano, Humberto Clayber no baixo e Airto Moreira na bateria, desnudara-se um artista diferente de tudo o que viera antes e do que viria depois. Contava ter começado a compor porque, albino, não podia trabalhar na roça por não poder pegar sol e, então, tratou de observar os sons. “Eu digo que sou 100% intuitivo, porque aprendi experimentando as coisas que me vinham à cabeça enquanto ouvia os pássaros cantando”, disse certa vez. Aos 10 anos começou a tocar acordeão — e como criança, embebido da ingenuidade das descobertas de uma criança, seguiu compondo e fazendo longos recitais, inclassificáveis. Morreu em 13 de setembro, aos 89 anos.

    Angela Ro Ro
    Angela Ro Ro (Frederico Rozario/Folhapress/.)

    Angela Ro Ro
    Compositora e Cantora
    Foi um espanto quando ela despontou em programas de televisão e nas rádios. A voz rouca e áspera de Angela Maria Gonsalves, a Angela Ro Ro, logo ganhou espaço, apesar do desconforto que provocava, tão diferente que era. Em 1980, ao misturar blues, samba-canção, bolero e rock, influenciada por Ella Fitzgerald, Maysa e Elis Regina, ela explodiu com um sucesso ainda hoje ruidoso, Amor, Meu Grande Amor, sinônimo de uma mulher corajosa, que nunca teve medo de revelar a homossexualidade em um Brasil ainda mais conservador do que hoje: “Amor meu grande amor/Não chegue na hora marcada/Assim como as canções/Como as paixões e as palavras”. Ela morreu em 8 de setembro, aos 75 anos.

    Jards Macalé
    Jards Macalé (Ana Branco/Agencia O Globo/.)
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    Jards Macalé
    Compositor e Cantor
    Avesso a rótulos, para muitos o “anjo torto” da MPB, Jards Macalé foi personagem fundamental nos primórdios do Tropicalismo. Caetano Veloso, que sempre esteve à frente de todo mundo, ao enxergar influências e estradas que se abriam, convidou Macalé para fazer o álbum Transa, gravado em Londres, em 1971. O violão dos lindos acordes iniciais de Nine out of Ten é dele, assim com os demais arranjos do álbum que se tornou clássico. Compôs com o poeta Waly Salomão o hino afetivo de uma geração Vapor Barato: “Oh, sim, eu estou tão cansado/mas não pra dizer/que eu não acredito mais em você/com minhas calças vermelhas/meu casaco de general/cheio de anéis”. Ele morreu em 17 de novembro, aos 82 anos.

    Roberta Flack
    Roberta Flack (Jack Robinson/Hulton Archive/Getty Images)

    Roberta Flack
    Compositora, Cantora e Pianista
    Nos anos 1970, poucas artistas rivalizam em popularidade com a compositora, cantora e pianista americana Roberta Flack. Ao misturar soul, jazz e blues, criou um repertório inesquecível, ainda hoje executado em rádios — e, claro, acessado em serviços como o Spotify. O primeiro grande hit foi The First Time Ever I Saw Your Face, da trilha sonora do primeiro filme de Clint Eastwood como diretor, Perversa Paixão, de 1971. Em 1973, ela gravou Killing Me Softly With His Song, que chegou ao primeiro lugar da parada de sucessos da Billboard — e atire a primeira a pedra quem não se emociona aos primeiros acordes de Killing Me…: “Strumming my pain with his fingers/singing my life with his words”. Roberta morreu em 24 de fevereiro, aos 88 anos.

    Marianne Faithfull
    Marianne Faithfull (Sunset Boulevard/Corbis/Getty Images)

    Marianne Faithfull
    Cantora e Atriz
    Ela foi a inspiração para algumas das canções clássicas dos Rolling Stones na década de 1960. Mick Jagger, com quem teve longo romance, diz ter baseado a letra de Sympathy for the Devil, em parte, no romance russo O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgakov, que Marianne Faithfull lhe havia dado de presente. Ela também proferiu a frase enigmática que inspirou o refrão principal da balada selvagem Wild Horses (“Cavalos indomados não me arrastam para longe”). A jovem estrela de rosto angelical e voz suave do pop e do cinema depois mergulharia nas drogas, de onde sairia no fim dos anos 1970 como símbolo de ressurreição. Ouvi-la cantar As Tears Go By vale por uma vida inteira. Ela morreu em 30 de janeiro, aos 78 anos.

    Jimmy Cliff
    Jimmy Cliff (Christian Rose/Roger-Viollet/AFP)

    Jimmy Cliff
    Compositor e Cantor
    Antes de Bob Marley, como estrela nascida na Jamaica para ecoar pelo planeta, houve Jimmy Cliff. Em 1969 ele chegou às paradas britânicas com Wonderful World, Beautiful People. Em 1972, ao estrelar o filme Batalha Sangrenta, emplacou nas paradas de sucesso globais hits como The Harder They Come, o título original do filme em inglês, e Many Rivers to Cross. São dele também clássicos como I Can See Clearly Now e Reggae Night, acusadas de terem acento pop em demasia, na contramão do estilo jamaicano e da cultura rastafári. Cliff morreu em 24 de novembro, aos 81 anos.

    Preta Gil
    Preta Gil (Lucas Lima/UOL/Folhapress/.)

    Preta Gil
    Cantora e Empresária
    Não é justo que um pai enterre seus filhos. Gilberto Gil foi forçado a essa desumanidade duas vezes: o baterista Pedro Gil, morto em um acidente de carro em 1990, aos 19 anos, e Preta Gil, vítima de um câncer colorretal. Afilhada de Gal Costa e sobrinha de Caetano Veloso e Maria Bethânia, ela renegou o canto por muito tempo, trabalhando como publicitária e produtora musical, até receber uma composição de Ana Carolina e estrear, aos 29 anos, com Sinais de Fogo, o maior hit de sua carreira e faixa do álbum Prêt-à-Porter, de 2003. O disco acabou chamando mais atenção pela nudez da cantora na capa que pelas canções, alvo de ataques preconceituosos. Ela faria sucesso também como empresária de famosos, de presença marcante nas redes sociais. Preta morreu em 20 de julho, aos 50 anos.

    Ozzy Osbourne
    Ozzy Osbourne (Mick Hutson/Redferns/Getty Images)

    Ozzy Osbourne
    Compositor e Cantor
    Apelidado de “o príncipe das trevas”, o cantor britânico Ozzy Osbourne fundou em 1968 a banda Black Sabbath. A trupe ajudou a definir um estilo (de visual gótico e escuro) e um som (foram pioneiros do heavy metal). O grupo foi um dos que mais levou a sério o lema sexo, drogas e rock’n’roll, tendo Osbourne à frente de todos nas mais variadas formas de loucura. Expulso da banda e afundado no vício da cocaína, era dado como acabado, mas conseguiu se reerguer em uma bem-sucedida carreira solo. Mais velho, viraria estrela de reality show, fazendo paródia de si próprio . Morreu em 22 de julho, aos 76 anos.

    Nana Caymmi
    Nana Caymmi (Christina Bocayuva/Ag. O Globo/.)

    Nana Caymmi
    Cantora
    Não seria fácil para uma filha de Dorival Caymmi fazer da música um modo de vida, em decorrência das inevitáveis comparações. Contudo, Nana Caymmi, com apenas 19 anos, em 1960, mostrou que não viera ao mundo para brincadeiras. Ao lado do pai, gravou Acalanto, uma linda canção de ninar que a mãe, Stella, desistiu de registrar horas antes de entrar no estúdio. A imensa capacidade de criar gravações inesquecíveis, de evidente bom gosto marcado pelo vozeirão incomparável, era o contraponto a um jeito de ser um tanto severo, pleno de certezas, muitas vezes agressivo — mas que a arte ajudava a deixar em segundo plano. Morreu em 1º de maio, aos 84 anos.

    Lô Borges
    Lô Borges (Auremar de Castro/.)

    Lô Borges
    Compositor e Cantor
    “Se eu morrer, não chore, não/ É só a lua/ É seu vestido cor de maravilha nua/ Ainda moro nesta mesma rua/ Como vai você?/ Você vem?/ Ou será que é tarde demais?” Os versos e o piano de Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, do álbum Clube da Esquina, lançado em 1972 pela turma mineira de Milton Nascimento, não param de emocionar. Lô Borges, o tímido compositor da linda balada, misturava poesia com rock, jazz com bossa nova, na criação de obras-primas dos anos 1970 — e que ainda hoje ecoam como retrato de um tempo feito de sonhos, de busca de liberdade e democracia no Brasil ferido pela ditadura militar imposta de 1964 a 1985. Ele morreu em 2 de novembro, aos 73 anos.

    Brian Wilson
    Brian Wilson (Harry Langdon/Getty Images)

    Brian Wilson
    Compositor e Cantor
    Em 1965, os californianos da banda The Beach Boys dominavam as paradas com canções bonitas, mas de letras pueris, que falavam sobre surfe, garotas e os dias de sol. Após uma viagem de LSD, o vocalista e compositor Brian Wilson ouviu o então recém-­lançado álbum dos Beatles, Rubber Soul — e tudo mudou. O resultado: Pet Sounds, disco que à época foi um fracasso comercial, mas com o tempo se mostrou um dos geniais e influentes da história. Paul McCartney já declarou que, sem Pet Sounds, o disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band jamais existiria. Bob Dylan chegou a dizer que o ouvido de Wilson era tão refinado que deveria “ser doado ao Smith­sonian”. Ele morreu em 11 de junho, aos 82 anos.

    Arlindo Cruz
    Arlindo Cruz (Gustavo Azeredo/Extra/Ag. O Globo/.)

    Arlindo Cruz
    Sambista
    Filho de um policial que gostava de samba e de uma dona de casa que cantava muito bem, Arlindo Cruz respirou música desde cedo e aos 6 anos já dedilhava o cavaquinho. Com mais de 700 canções gravadas, era celebrado por seus pares — e pelo público que o ouvia — pelas composições melodiosas, o tom aveludado de voz e, claro, o ritmo inigualável. Entre seus maiores sucessos estão canções como Meu Lugar, do álbum Sambista Perfeito, em que exalta seu bairro do coração, Madureira, além de clássicos como Bagaço da Laranja e Camarão que Dorme a Onda Leva. Morreu em 8 de agosto, aos 66 anos.

    DISTÂNCIA IDEOLÓGICA

    José “Pepe” Mujica
    José “Pepe” Mujica (Ruben Gimenez/Pacific Press/Getty Images)

    José “Pepe” Mujica
    Político
    Presidente do Uruguai de 2010 a 2015, José “Pepe” Mujica era um ícone da esquerda latino-americana. Preso pela ditadura, ficou atrás das celas durante treze anos, de 1972 a 1985, sete dos quais isolado numa solitária, torturado, e longe dos livros, que tinha como melhores amigos. Com a retomada da democracia, trilharia um interessante caminho. De fala mansa Mujica se orgulhava de ostentar o título de dirigente mais pobre do mundo, o que supostamente lhe daria autoridade para cobrar dos mais ricos que fizessem mais pelos pobres. Na Presidência, nunca abandonou o estilo franciscano, vivendo num sítio e dirigindo um Fusca azul de modelo 1982. Do ponto de vista comportamental, avançou na legalização do aborto e na descriminalização da maconha. Morreu em 13 de maio, aos 89 anos.

    Jean-Marie Le Pen
    Jean-Marie Le Pen (Joel Saget/AFP)

    Jean-Marie Le Pen
    Político
    É possível que Jean-Marie Le Pen soasse hoje como um bufão. Em 1972, contudo, ele despontou na França, em postura xenófoba, racista e antissemita, de modo assustador. Mais assombroso ainda foi vê-lo levar seu partido, a Frente Nacional — hoje chamado de Reagrupamento Nacional, com a liderança da filha Marine, fingindo-se de decente —, a patamares inacreditáveis. Em 2002, Le Pen foi para o segundo turno da eleição presidencial, derrotado por Jacques Chirac. O tempo abranda disparates, mas convém não esquecer as posturas do líder radical. “Não digo que as câmaras de gás não tenham existido, mas são um detalhe da Segunda Guerra”, rugiu. Morreu em 7 de janeiro, aos 96 anos.

    AO INFINITO E ALÉM

    Jane Goodall
    Jane Goodall (CBS/Getty Images)

    Jane Goodall
    Primatóloga
    Foi uma linda aventura de vida. Em julho de 1960, a primatóloga e ambientalista britânica Jane Goodall desembarcava pela primeira vez no Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia. Desde a primeira incursão na selva, mergulhou a fundo no comportamento dos chimpanzés, tornando-se nos últimos 65 anos a principal referência mundial no estudo desses animais. Suas descobertas jogaram luz nas complexas relações sociais estabelecidas pelos macacos e ensinaram ao mundo haver menos diferenças entre homens e chimpanzés do que se imaginava. “Quando estudei em Cambridge, me falaram que só os humanos tinham personalidade. Por sorte, cresci com um cachorro e ele me ensinou o contrário”, disse às Páginas Amarelas de VEJA, em 2020. Goodall morreu em 1º de outubro, aos 91 anos.

    Jim Lovell
    Jim Lovell (Bettmann Archive/Getty Images)

    Jim Lovell
    Astronauta
    Os três americanos da missão espacial Apollo 13, lançada em abril de 1970, foram ao espaço como astronautas e voltaram para a Terra como heróis. O plano de Jack Swigert (1931-1982), Fred Haise e Jim Lovell era pousar na Lua — a terceira vez de uma trupe dos EUA. Contudo, a explosão dos tanques de oxigênio do módulo de comando e serviço abortou a operação, a 320 000 quilômetros de distância de nosso planeta azul. “Houston, tivemos um problema”, disse Swigert aos engenheiros da Nasa. O dramático retorno seria acompanhado por milhões de pessoas, em todo o mundo, pela televisão, e depois transformado em filme de sucesso. Tom Hanks interpretou Lovell, o calmo líder responsável pela volta, que estivera também na aventura da Apollo 8, de 1968. Foi ele quem, naquele 24 de dezembro, véspera de Natal, encerrou as transmissões lendo um trecho do Gênesis: “E Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite”. Ele morreu em 7 de agosto, aos 97 anos.

    Étienne-Émile Baulieu
    Étienne-Émile Baulieu (Eric Legouhy/Gamma-Rapho/Getty Images)

    Étienne-Émile Baulieu
    Bioquímico
    Ele foi severamente criticado pela Igreja e pelos conservadores. O bioquímico francês Étienne-Émile Baulieu desenvolveu, no início dos anos 1980, o medicamento RU-486, a “pílula do aborto”. O remédio induz a interrupção da gravidez. A dose só pode ser tomada até no máximo dez semanas de gestação. A pílula neutraliza os efeitos da progesterona, hormônio que, durante o embaraço, faz cessarem as contrações uterinas normais fora do período de gestação — e permite que o feto se desenvolva em paz dentro do útero. Sem a ação da progesterona, o processo de contração não para e o organismo expulsa o embrião. Morreu em 30 de maio, aos 98 anos.

    Niède Guidon
    Niède Guidon (FUMDHAM/.)

    Niède Guidon
    Antropóloga
    A antropóloga Niède Guidon ajudou a mudar a narrativa corrente em torno da ocupação das Américas. A Teoria de Clóvis, tradicionalmente aceita, afirma que o homem chegou ao continente americano durante a época em que o Estreito de Bering esteve congelado, criando uma passagem entre a Sibéria e o Alasca, há cerca de 13 000 anos — as pesquisas de Niède apontam vestígios da presença humana no Piauí que datam de 60 000 anos ou mais, embora muitos tenham refutado sua conclusão. Ela assegurava que os indícios poderiam chegar a até 105 000 anos na Serra da Capivara, onde, aliás, ergueu um fabuloso e visitadíssimo parque para pesquisa e turismo. Morreu em 4 de junho, aos 92 anos.

    James Watson
    James Watson (Bettmann Archive/Getty Images)

    James Watson
    Biólogo
    Em 1953, os biólogos Francis Crick (1916-2004) e James Watson, de mãos dadas com Maurice Wilkins, reinventaram a vida. Eles propuseram o modelo da dupla hélice, uma estrutura em forma de escada retorcida que explicava como a informação genética é armazenada e replicada pela molécula das moléculas, o DNA. A descoberta rendeu-lhes o Nobel de Medicina de 1962. Porém, uma cientista crucial, que andou junto com o trio na aventura de laboratório, Rosalind Franklin, o quarto pilar da descoberta, morreu em 1958, tendo sido, portanto, alijada da láurea sueca. Watson passaria os derradeiros anos de vida no ostracismo, depois de comentários racistas. Morreu em 6 de novembro, aos 97 anos.

    CRIADORES DE REALIDADES

    Mario Vargas Llosa
    Mario Vargas Llosa (Christopher Pillitz/Getty Images)

    Mario Vargas Llosa
    Escritor
    As páginas do peruano Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura de 2010, refletiam as dores e amores do cotidiano de mãos dadas com a pobreza ao redor e ridículos tiranos, combustível para uma coleção de obras-primas, a exemplo de A Cidade e os Cachorros, de 1963, romance de formação em torno de um colégio militar de Lima; Conversa no Catedral; Tia Julia e o Escrevinhador; Pantaleão e as Visitadoras; A Guerra do Fim do Mundo; e A Festa do Bode.

    Depois de tanta invenção, houve um momento em que decidiu voltar ao chão do cotidiano e ingressou na política. Em 1990, candidatou-se à Presidência do Peru com uma pauta liberal e conservadora, no avesso das ideias da juventude, de apoio a Fidel Castro e Cuba. Morreu em 13 de abril, aos 89 anos.

    Frederick Forsyth
    Frederick Forsyth (Ulf Andersen/Aurimages/AFP)

    Frederick Forsyth
    Escritor
    É lugar-comum dizer que a arte imita a vida, mas é expressão óbvia porque é assim que funciona, muitas vezes. O correspondente de guerra britânico Frederick Forsyth fez de sua experiência jornalística durante os anos 1960, especialmente na Nigéria, embebida de espionagem, o pano de fundo para alguns dos mais populares e precisos livros de suspense histórico, em aventuras sem fronteiras. É dele o mercurial O Dia do Chacal, publicado em 1971 e depois transformado em filme, em torno de uma tentativa de assassinato do presidente francês Charles de Gaulle, em 1963. São dele também O Dossiê de Odessa, de 1972, e Cães de Guerra, de 1974. Forsyth escreveu mais de 25 livros que, juntos, venderam mais de 75 milhões de exemplares em todo o mundo. Ele morreu em 9 de junho, aos 86 anos.

    Frank Gehry
    Frank Gehry (Jay L. Clendenin/L.A. Times/Getty Images)

    Frank Gehry
    Arquiteto
    O canadense radicado nos Estados Unidos Frank Gehry fez da arquitetura uma prodigiosa brincadeira urbana. Ao dobrar o metal como quem fazia origamis com folhas de papel, ele ergueu em Bilbao, no País Basco, no norte da Espanha, um dos mais festejados edifícios de nosso tempo, o Museu Guggenheim, inaugurado em 1997. Coberto por superfícies de titânio curvadas em vários pontos, que lembram escamas de um peixe, do ponto de vista do Rio Nervión tem o desenho de um navio atracado no cais. São dele ainda a sede da Filarmônica de Los Angeles e o Walt Disney Concert Hall, também na capital do cinema; e a Fundação Louis Vuitton, em Paris. Morreu em 5 de dezembro, aos 96 anos.

    O JOGO DA GLÓRIA

    Wlamir Marques
    Wlamir Marques (Wilson Santos/Folhapress/.)

    Wlamir Marques
    Basquetebolista
    Não por acaso, dados os infinitos recursos, ele era conhecido no basquete como o “diabo loiro”. Wlamir Marques, ídolo do Corinthians e da seleção, vestia a camisa 5, mas era capaz de atuar em qualquer posição em quadra, como pivô, ala e armador. Foi um dos protagonistas do Brasil bicampeão mundial, em 1959 e 1963, e medalhista de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960, e Tóquio, em 1964. Membro do Hall da Fama internacional, celebrado nos Estados Unidos e na Europa, Wlamir tem um busto na sede da equipe alvinegra, o Parque São Jorge, aplaudido como um dos mais queridos jogadores de futebol, a exemplo de Neco e Zé Maria. Morreu em 18 de março, aos 87 anos.

    George Foreman
    George Foreman (UPI/Bettmann Archive/Getty Images)

    George Foreman
    Lutador de Boxe
    Foi um tempo glorioso, quando as lutas de boxe entre pesos-pesados americanos eram tão indissociáveis da cultura dos Estados Unidos quanto a Guerra do Vietnã. Muhammad Ali, Joe Frazier e George Foreman, numa combinação de combates entre eles, tiravam o fôlego do mundo, em transmissões pela televisão de audiência recorde. Cada um deles tinha uma imagem atrelada à figura pública: Ali era o herói das causas civis e contra o racismo, uma espécie de Malcom X de luvas; Frazier, que ficou com o título surrupiado de Ali quando este se recusou a servir o Exército, era o “Pai Tomás”, referência a A Cabana do Pai Tomás, livro sobre o escravagismo, como se ele fosse subserviente aos brancos (não era); Foreman era o gigante invencível, uma massa de músculos de 1,92 metro. Morreu em 21 de março, aos 76 anos.

    Manga
    Manga (SCR/Divulgação)

    Manga
    Goleiro de Futebol
    Ele não usava luvas, por achá-las incômodas. Os dedos tortos eram a marca registrada do goleiro pernambucano Manga, um dos grandes ídolos do Botafogo, time pelo qual conquistou os bicampeonatos carioca de 1961 e 1962 e de 1967 e 1968. Era a garantia debaixo do travessão de uma equipe de ataque fenomenal, com Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Nos anos 1970, brilhou também pelo Internacional de Falcão e Cia., bicampeão brasileiro de 1975 e 1976. Fora do Brasil, atuou pelo Nacional do Uruguai, campeão da Libertadores de 1971. Na seleção, contudo, teve passagem apagada — titular da Copa do Mundo de 1966, na qual a canarinho foi eliminada ainda na fase de grupos, falhou nos três gols na derrota por 3 a 1 para Portugal de Eusébio. Morreu em 8 de abril, aos 87 anos.

    Publicado em VEJA de 24 de dezembro de 2025, edição nº 2976

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