Cúpula do CV ordena torturas e execuções e controla hierarquia rígida por grupos de WhatsApp
Doca exerce liderança na região da Penha com ajuda de homens de confiança; estrutura funciona com papeis definidos
As investigações da Polícia Civil do Rio que levaram à denúncia do Ministério Público e à megaoperação da última terça-feira detalham como funciona a hierarquia do Comando Vermelho (CV). Os documentos descrevem a participação de 69 pessoas, acusados de associação para o tráfico de drogas, no organograma. O chefão é Edgar Alves de Andrade, o Doca, que comanda a facção nos complexos da Penha e Alemão e também em outras comunidades do Rio, como Gardênia Azul, Cesar Maia, Juramento e Quitungo. Ele, que segue foragido, tem abaixo uma organizada estrutura formada por traficantes com diferentes funções. Um dos seus braços direitos, que também escapou do cerco policial, é Carlos Costa Neves, o Gardenal, que atua como gerente-geral do tráfico na região da Penha. A cúpula encabeçada por Doca hoje executa o plano de expandir o CV na direção da Grande Jacarepaguá, em disputas sangrentas com a milícia.
São ainda de confiança do líder Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, Juan Breno Malta Ramos, o BMW, e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão. Uma troca de mensagens incluída no inquérito mostra que Doca e alguns comparsas exercem grande controle sobre toda a organização. Execuções só ocorrem com autorização de alguns chefes: “Bagulho não é com nós. Vamos monitorar apenas, meus amigos. Ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala. Vamos pegar a visão”, afirma Grandão, que era quem cuidava das propinas a policiais, mantendo até uma linha exclusiva para tratar com agentes corruptos.
Torturas gravadas
As ordens de Doca e seus principais comparsas são transmitidas entre eles e ao terceiro escalão – basicamente gerentes de pontos de venda de drogas – por meio de grupos de WhatsApp. Elas incluem as divisões de plantões nas bocas de fumo, nos pontos monitoramento e de segurança armada e outras informações, como sobre contabilidade, copiando o modelo de uma estrutura empresarial. Por mensagens, também são repassados os nomes, incluindo de moradores, que devem ser torturados e de pessoas que serão executadas. A operação do chamado “tribunal do tráfico” fica a cargo de BMW, também gerente da venda de drogas na Gardênia Azul. Ele é apontado como responsável pela ordem de castigar uma mulher que teria brigado num baile funk a mergulhando numa banheira de gelo, ficando apenas com a cabeça de fora.
Outra imagem chocante que faz parte da documentação é a de um homem amordaçado e algemado sendo arrastado por um carro. A vítima, também alvo de BMW, pedia perdão enquanto era torturada. Há suspeita de que tenha sido morta. A brutalidade é compartilhada ainda com outras figuras do CV, como Fagner Campos Marinho, o Bafo, que teria gravado uma pessoa sendo torturada por ele próprio. O bandido chamava a ação de “massagem” e perguntava ao homem, todo ensanguentado, se queria “morrer logo”.
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