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Crime na Amazônia: Quem é o capo do Comando Vermelho na região da Tríplice Fronteira

Facção carioca tem o monopólio da rota fluvial por onde passam toneladas de cocaína rumo à Europa

Por Laryssa Borges, de Tabatinga
12 abr 2025, 10h51

As forças de segurança na região da Tríplice Fronteira Amazônica entre Brasil, Peru e Colômbia tiveram dimensão do poderio das facções criminosas que há anos tomaram a região quando o último líder do antigo grupo criminoso conhecido como Os Crias foi abatido. Em um vídeo apreendido, DG, expoente do bando recém-alçado ao posto de chefe após a morte do antecessor, aparece traficando drogas de dentro de um helicóptero e exibe, com orgulho, um fuzil que faz a escolta da carga.

Apenas um ano depois de terem sido criados com financiamento do PCC para rivalizar com a hoje extinta facção Família do Norte, Os Crias chegaram a estabelecer bases na delicada região do Vale do Javari, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram mortos em 2022, mas hoje praticamente não existem mais. O monopólio da chamada Rota Solimões, um imenso conjunto de rios utilizados como corredor para transporte de cocaína da região andina, é do grupo criminoso carioca Comando Vermelho.

Com ramificações em 24 estados da federação, estima-se que movimente cerca de 30 bilhões de reais por ano. Na região de fronteira, o capo da facção é Kellison Rego da Silva, conhecido como Loirinho ou Itália. Jurado de morte por grupos criminosos, no faroeste que se transformou a região formada pelas cidades de Tabatinga, no Brasil, Letícia, na Colômbia, e Santa Rosa, no Peru, ele está com a cabeça a prêmio por 500.000 reais – vivo ou morto.

Para as autoridades colombianas, ele usa a identidade falsa de Emilio Gonzales da Silva e vive com relativa discrição em Letícia, a poucos passos do Brasil. Em todo o Amazonas, 13 conselheiros do Comando Vermelho coordenam as ações criminosas no estado e se reportam à cúpula no Rio de Janeiro. Além de partilhar os rendimentos do tráfico internacional, a facção recolhe pedágios das embarcações que trafegam pelo Solimões e por seus afluentes, alicia indígenas e comunidades ribeirinhas para armazenar e transportar drogas e elimina com requintes de crueldade quem atravessar o caminho. “Precisamos ter clareza que a presença das facções e o tráfico de drogas se instalou ali de uma forma tão abrangente não só porque os rios são muito estratégicos para se transportar aquele ilícito, mas também porque tem uma população que está muito vulnerável economicamente e que fica completamente exposta a esse aliciamento”, disse a VEJA Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em Tabatinga, para evitar chamar a atenção da polícia, não há sinais de riqueza aparente entre os cerca de 70.000 habitantes. Na esquina do condomínio mais sensível do município, onde moram delegados, policiais militares, o juiz e o representante do Ministério Público, uma pichação com a sigla CV os faz lembrar diariamente da presença do inimigo. A polícia mapeia cotidianamente, além de Kellison e de comparsas já identificados, lojas varejistas que, com estrutura física opulenta e desproporcional para uma cidade de médio porte, são tratadas como potenciais focos de lavagem de dinheiro.

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Como são transportadas as drogas pela Rota Solimões?

Embora desde 2013 quase 5.000 apreensões de cocaína tenham sido feitas em portos e aeroportos de todo o país, são nas rotas fluviais as descobertas de maior monta na região cortada pela Rota Solimões – e ainda assim, estima a polícia do Amazonas, são confiscados apenas 10% do que se acredita que passe todos os anos pelas hidrovias do crime.

Nas últimas semanas, policiais brasileiros e colombianos começaram a reconstituir o que é considerada a maior apreensão de cocaína da história da Europa. No final de março, forças de segurança de Portugal identificaram um submersível a cerca de 1000 km do arquipélago de Açores com 6,5 toneladas de cocaína a bordo. Pelas características da embarcação e da tripulação que escoltava o entorpecente – três brasileiros, um colombiano e um espanhol – Brasil e Colômbia acreditam que a montanha de pó muito provavelmente foi transportada, pouco a pouco, por afluentes do Solimões antes de chegar a Macapá, de onde partiu rumo à Península Ibérica.

“A maneira como a droga sai do Brasil é infinita. Temos que pensar que o crime organizado é capaz de qualquer coisa”, diz o comandante do comandante do 9º Distrito Naval da Marinha João Alberto Lampert. “Praticamente toda a cocaína que abastece a Europa passa pelo Alto Solimões. Os traficantes utilizam de tudo: desde embarcações, helicópteros e até submarinos, como este descoberto pela polícia portuguesa”, completa o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar em Tabatinga Jonatas Soares.

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