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“Conheço pessoas que ainda estão sem ter onde morar”, conta vítima de tragédia no RS, que completa um ano

Diretor de Transição Energética do Instituto Internacional Arayara lembra momentos de desespero durante as enchentes que atingiram a região em 2024

Por Valentina Rocha Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 abr 2025, 22h42 - Publicado em 30 abr 2025, 18h50

“Era dia 29 de abril, eu estava na casa da minha avó, no município de Guaíba, e comecei a ficar muito impressionado com o volume de chuvas”, essa é a memória que o diretor de Transição Energética do Instituto Internacional Arayara, o técnico em Meio Ambiente e Engenharia Ambiental John Würdig, tem do início das enchentes no Rio Grande do Sul, que completam um ano nesta semana.

A quantidade alarmante de água precipitada no curto período de tempo em que John observou indicava que o cenário mudaria drasticamente nas próximas horas. No final daquela segunda-feira, mais de 470 municípios já haviam sido afetados pelas tempestades e impactado não só ele, mas milhares de pessoas pelo estado.

“Estava com um parente internado e minha família se revezava para cuidar da minha avó (Jacilda Würdig). No mesmo dia eu consegui voltar para a minha casa, em Barra do Ribeiro, que foi a maior sorte, porque em seguida começaram todas as inundações”, lembra.

Entre o final de abril e o início de maio de 2024, várias cidades chegaram a receber de 500 a 700 mm de chuva, o equivalente a um terço da média histórica de precipitação para um ano inteiro.

O município de Barra do Ribeiro é o último da bacia do Lago Guaíba antes de encontrar a Lagoa dos Patos. Não é incomum que a região sofra com enchentes de dois pontos: a jusante, que ocorre no sentido de fluxo de água do rio, pela cheia, e inunda a orla, e a montante, que sobe o arroio Ribeiro, proveniente da chuva que vem da zona serrana.

“A gente começou a ver o rio subindo, a enchente vindo, a água descendo o arroio. Foi desesperador”, lembra.

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Ele conta que precisou voltar para buscar a avó em Guaíba, que estava sem água e sem energia. Outros familiares também precisaram ser resgatados por meio de uma estrada vicinal. A esta altura, o acesso à capital, Porto Alegre, já estava bloqueado. Posteriormente, a cidade de Barra do Ribeiro teve o acesso ao gás afetado.

“Eu notei uma ausência da Defesa Civil. Houve uma atuação muito forte em conduzir as pessoas aos ginásios, mas não tínhamos boletins de alerta, monitoramento e informações sobre o quanto choveu”, relata John, que, diante da situação, fundou o Centro Climático e Ambiental de Barra do Ribeiro, uma iniciativa comunitária para realizar o cercamento e monitoramento da cidade durante o período.

A Centro contou com a participação de mais de 50 pessoas e teve apoio do Instituto Internacional Arayara. A ação foi fundamental para a emissão de alertas independentes, que ajudaram a população a se situar em meio ao caos.

Ele relata que houve, inclusive, a tentativa de fazer uma parceria com a prefeitura da cidade na época, mas a sugestão foi declinada pelo então prefeito. Procurada pela reportagem, até o momento desta publicação, a Defesa Civil ainda não havia se posicionado.

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Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) após as enchentes mapeou cerca de 18 mil km² e identificou 16.862 movimentos de massa. Boa parte desta terra foi parar dentro dos rios, o que gerou o aspecto de lama das enchentes.

Pai do ativista e engenheiro ambiental John Würdig, na época, Paulo Würdig tinha um barco de pesca, que foi utilizado para ajudar no resgate e monitoramento de casas no período das tragédias. Tempos antes das enchentes, ele tinha comprado um casarão antigo, de 1911, que tinha relação com a família e ficava à beira do rio. Ele foi completamente inundado.

Casarão da família Würdig inundado
Casarão da família Würdig inundado (John Würdig/Arquivo pessoal)

“Todo mundo tinha muito medo de ser roubado, assaltado ou ter a casa depredada. Foram tempos muito difíceis, havia um clima de desconfiança enorme de todo mundo”, conta Paulo. “Gente bem de vida conseguiu se reerguer, difícil é ver a população que sofre com isso até hoje. Conheço pessoas que ainda estão sem ter onde morar”, completa.

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Paulo Würdig, pai do ambientalista John Würdig, com seu barco durante as enchentes
Paulo Würdig, pai do ambientalista John Würdig, com seu barco durante as enchentes (John Würdig/Arquivo pessoal)

O Instituto

O Instituto Internacional Arayara é a maior organização da América Latina no que tange à mitigação e redução de danos decorrentes de questões climáticas e ambientais, e atua especialmente em ações civis públicas ou processos judiciais para efetivar compromissos climáticos no Brasil.

Além do âmbito político e social, Arayara oferece proteção a ativistas climáticos, como é o caso do programa Defensores dos Defensores, que presta assistência a ambientalistas no Brasil inteiro.

Com atuação marcada por campanhas contra exploração e uso de combustíveis fósseis e emissões de gases poluentes, como o CO2, o Instituto tem como principais eixos de trabalho energia e clima, direitos humanos, saúde, democracia, liberdade e segurança.

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