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Congresso Nacional Africano festeja seu centenário e os líderes pós-apartheid

Por Gianluigi Guercia
5 jan 2012, 10h10

O Congresso Nacional Africano (CNA) festeja seu centenário nesta semana ostentando uma estatística exclusiva: na África do Sul, três dos quatro chefes de Estado que assumiram o poder depois do fim do apartheid e advento da democracia passaram pelo menos 10 anos de suas vidas na prisão.

Os militantes sul-africanos do CNA, presos, exilados e tratados como “terroristas” por décadas, em alguns casos se tornaram políticos ou empresários importantes, mas em sua maioria sobrevivem com dificuldade após 17 anos de democracia.

Nelson Mandela, presidente de 1994 a 1999, passou 27 anos encarcerado. Kgalema Motlanthe (2008-2009) e Jacob Zuma, o atual chefe de Estado, ficaram 10 anos nos calabouços do apartheid. A única exceção, Thabo Mbeki (1999-2008), viveu por sua vez 28 anos no exílio.

Atualmente, a maioria dos membros do governo são homens e mulheres que foram perseguidos ou detidos na infame “Terrorism Act” (a lei anti-terrorista), que proibia qualquer atividade que tinha o objetivo de derrubar o regime racista do apartheid.

Alguns, particularmente espertos, combinaram a política com os negócios e se tornaram riquíssimos empresários.

As duas figuras emblemáticas desta geração do novo “poder econômico negro” são Tokyo Sexwale, de 58 anos, e Cyril Ramaphosa, de 59 anos.

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O primeiro (que tirou seu nome de sua paixão pelo caratê) recebeu treinamento militar na União Soviética no início dos anos 1970, antes de ser preso ao voltar para a África do Sul em 1976.

Libertado junto com Mandela em 1990, assumiu de início tarefas políticas: “Para muita gente ainda éramos terroristas e ex-prisioneiros sem nenhuma experiência para liderar o país”, contou à AFP.

Lançou-se nos negócios em 1998 -quando não conseguiu suceder Nelson Mandela como presidente do país- e rapidamente fez fortuna, associando-se a empresas públicas. Como outros, Sexwale foi acusado de se aproveitar de suas conexões políticas.

“O CNA caiu na mesma armadilha” que outros partidos africanos de libertação, afirmou Andrew Feinstein, ex-deputado do CNA, “particularmente (…) pelo uso dos meios do Estado para enriquecer pessoas de dentro do partido”.

“O governo do CNA ainda tem muito que fazer para acabar com o nepotismo e a corrupção”, ressaltou o analista independente Joe Mavuso.

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O riquíssimo Ramaphosa, por sua vez, é visto como alguém que enriqueceu sem necessidade de usar seus vínculos políticos.

Sua carreira é paradoxal: líder sindicalista durante o apartheid, com tendências “socialistas” e membro da equipe que negociou a queda do regime na década de 1990, optou tardiamente pelos negócios, mesmo sendo um dos favoritos para substituir Mandela na presidência.

“Ao ficar politicamente exilado, no tempo de Mbeki, ressurgiu como homem de negócios”, explicou Joe Mavuso.

Estes líderes, políticos ou econômicos, que hoje são a elite da nova África do Sul, deixaram para trás décadas de dificuldades e sofrimentos do tempo da luta, mas muitos de seus companheiros não podem dizer o mesmo.

Kebby Maphatsoe, presidente da associação de veteranos do CNA não esconde a dura realidade: “ao ser desmobilizado, não havia nada planejado para os soldados treinados e os líderes distribuídos em vários países (…). A pobreza de nossos membros é uma fonte de profundo descontentamento, alguns vivem na rua, sem ajuda”, disse.

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O passado de luta, que pesa sobre a África do Sul moderna, às vezes ressurge de modo inesperado: em 2002, negaram a Tokyo Sexwale o visto para entrar em Nova York para negócios. Seu nome continuava na lista de terroristas identificados pelo serviço de inteligência americano.

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