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Com queda nos dízimos, pastor Valdemiro vende colchão em live da igreja

Slogan da peça publicitária transmitida pela Igreja Mundial do Poder de Deus diz que o colchão da marca é uma 'dádiva de Deus'

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 Maio 2020, 15h35 - Publicado em 19 Maio 2020, 14h22

O bispo Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, está se virando como pode para pagar as contas da instituição neopentecostal em meio à pandemia de coronavírus. Durante os programas religiosos online, passou a circular entre os cultos e os louvores uma peça publicitária para vender colchão protagonizada pelo próprio bispo.

“Estou aqui para falar de um assunto diferente, do colchão Sono Quality. Eu morava na infância num chão batido, numa esteira de taboa. Olha o que Deus fez na minha vida. Hoje eu posso dormir num Sono Quality”, anuncia ele. “É o que tem de mais avançado em tecnologia em matéria de colchão. E ele te proporciona uma sensação de bem-estar (…) Eu posso falar, porque eu tenho em casa, na minha suíte na igreja. Olha o que Deus faz na vida das pessoas. Ele vai te dar condição para você ter um também, principalmente nesse mês das mães”, prossegue, com o número da central de vendas aparecendo embaixo. No fim, aparece a imagem da marca, com o slogan: “É uma dádiva de Deus”.

A empresa de colchões é conhecida no mercado por investir pesado em marketing televisivo. O produto já foi oferecido em programas de TV como os de Luciana Gimenez, Raul Gil e Ratinho. Mas um pastor neopentecostal como garoto-propaganda não é muito comum. Geralmente, os religiosos desse segmento evangélico aproveitam a visibilidade para anunciar produtos da igreja, como livros, CDs, DVDs, palestras, eventos e outros. “Isso é novidade para mim, até para o Valdemiro”, comentou um pastor que faz a articulação entre lideranças religiosas e políticos em São Paulo.

As igrejas de todas as religiões, no entanto, estão passando por dificuldades financeiras nesse período de pandemia, com a queda na arrecadação de dízimos e ofertas. A Mundial, de Valdemiro, ainda tem um problema a mais por sustentar um verdadeiro conglomerado de mídia com canais de TV e rádio, além dos mais de 6000 templos espalhados pelo Brasil e o mundo.

A estratégia desenfreada do pastor em recolher ofertas também lhe trouxe preocupações na Justiça. O Ministério Público Federal entrou com um pedido para que o MP estadual o investigue por suposta prática de estelionato por oferecer “sementes milagrosas” de feijão contra o coronavírus. Segundo o procurador Wellington Cabral Saraiva, ficou claro na pregação que o pastor “usa de influência religiosa e da mística da religião para obter vantagem pessoal (ou em benefício da igreja), induzindo vítimas em erro, pois não há evidência conhecida de cura da Covid-19 por meio de alguma divindade nem por ingestão ou plantação de feijões mágicos”. Na última semana, o MPF deu cinco dias para que o vídeo do culto fosse retirado do Youtube.

Nesta semana, os pastores da Mundial recorreram aos métodos tradicionais para conseguir fundos para a igreja. “São muitos os recursos que nós estamos precisando. (…) Agora, imagina, televisão custa caro”, indagou o bispo Andrade durante uma live.  Ele frisou que as muitas  horas que eles transmitem pregando custam “milhões”. “As pessoas não têm ideia da fortuna. É muito dinheiro. Então, vamos ajudar que outras famílias que estão com nódulo [doença] possam ser alcançadas pelo poder do Deus vivo”, completou.

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