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Choro, esperança e medo dos policiais corruptos numa Rocinha ocupada

Por Por Laura Bonilla
13 nov 2011, 11h36

Armados até os dentes, centenas de policiais percorrem em plena madrugada pelo labirinto de vielas que formam a Rocinha, no controle do Estado pela primeira vez em décadas: alguns habitantes choram e temem a ação de policiais corruptos, outros esperam que o tráfico de drogas deixe de ser o dono e senhor da maior favela do Rio de Janeiro.

Apenas passadas as 04h00 da madrugada, um ruído surdo toma conta dos acessos da favela: são os 18 carros blindados da Marinha que apoiam as tropas de choque e o imponente Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da polícia militar. Uma mulher que se encontra num bar na entrada da favela começa a chorar.

Cerca de 2.000 policiais se espalham em segundos pelas dezenas de vielas dos 57 acessos à comunidade, privilegiando as pequenas passagens e apoiados por três helicópteros que dão voos rasantes junto aos telhados das casas e da floresta tropical que envolve a favela.

Sobem correndo centenas de escadas ziguezagueantes e atravessam longos corredores de apenas um metro de largura, iluminados apenas pela lua cheia. Apenas se ouve o latido de um cachorro e os gritos em código dos policiais, que param a cada esquina e cobrem as costas um dos outros.

Em uma megaoperação policial e militar quase cinematográfica, onde não se disparou um único tiro, a polícia retoma em pouco mais de duas horas o controle da Rocinha, uma favela encravada no coração de uma das áreas mais nobres do Rio, com uma população de mais 120.000 pessoas e dominada durante 30 anos pelo tráfico de drogas.

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Um dos poucos moradores que percorre as ruas é Francisco, de 45 anos, que esteve preso durante anos por tráfico de drogas, sequestro e assalto a mão armada e hoje, regenerado, trabalha como engraxate e é líder comunitário.

“Há muitos policiais corruptos, não sabemos o que vai acontecer. Tem moradores com medo. As pessoas também têm expectativas de que as coisas vão melhorar. Mas não precisávamos de todo esse aparato”, critica.

Francisco, que não quis dar o sobrenome, não acredita que a ocupação vá por fim ao tráfico. “Existem muitos policiais corruptos, que aceitam subornos. Enquanto houver consumidores, haverá tráfico de drogas”, assegura.

Amanhece na favela e os galos cantam. Alguns moradores descem a passo apertado, algumas mulheres choram, se esquivando das montanhas de lixo e motos queimadas pelos traficantes na véspera da ocupação, todos se negando a falar com os jornalistas.

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No alto do morro, na porta de sua funerária “Santa Casa da Rocinha”, Sérgio, outro morador, tira fotos dos blindados da Marinha que avançam.

“Isso é um começo. Mas o Estado não pode nos abandonar depois. Além de segurança, é preciso vir outras coisas de que a comunidade precisa: saneamento básico, melhor saúde”, opina.

“Nossa grande preocupação é a corrupção da polícia. O Rio de Janeiro é um lugar perigoso, ninguém sabem que é quem”, assinala.

Já Andrade, um homem de 32 anos que trabalha com uma moto-taxi, preferia que os traficantes continuassem no controle da favela. “Já estava acostumado, conhecia todo mundo e agora vai mudar tudo e outras pessoas vão administrar a favela”, lamenta.

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No entanto, alguns têm a esperança de uma vida melhor. Posicionada na janela de sua casa humilde, Renata, de 29 anos, observa o espetáculo. “Isso vai trazer melhorias e mais tranquilidade”, torce, enquanto acaricia os cabelos de seu filho de 11 anos.

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