Cenário difícil em São Paulo e Minas acende alerta para plano de reeleição de Lula
Para piorar a situação, o governo vive mau momento, com popularidade ruim, e verá entraves para manter a base em torno do presidente

Durante a apuração do segundo turno da eleição presidencial de 2022, apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva ficaram apreensivos até que o petista, apenas duas horas depois do início da contagem de votos, superasse enfim Jair Bolsonaro na liderança da corrida pelo cargo mais alto da República. No fim, o petista conseguiu uma vitória difícil, por 2 milhões de eleitores a mais, atribuída em grande parte ao seu desempenho no Nordeste. Mas também foi fundamental a votação obtida nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais, que somados renderam 17,7 milhões de votos, quase um terço do total amealhado no país. Naquele ano, foi corrente a avaliação de que um desempenho um pouco pior nos dois estados teria lhe tirado o terceiro mandato. Por causa desse histórico, a pouco mais de um ano da próxima disputa, o atual panorama entre os eleitores mineiros e paulistas acende um alerta para os plano de reeleição do presidente.
Berço político do PT e de Lula, São Paulo tem um cenário difícil para o governo e a esquerda, que acumula derrotas no estado desde a redemocratização do país. O mais perto que o petismo chegou do Palácio dos Bandeirantes foi em 2002 e 2022, quando chegou ao segundo turno com, respectivamente, José Genoino e Fernando Haddad, ambos facilmente derrotados na rodada final. As pesquisas atuais, além de mostrarem o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como franco favorito caso tente a reeleição — ele é cotado para disputar o Planalto — , apontam um cenário de “terra arrasada” para o PT. Potenciais candidatos, como os ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Luiz Marinho (Trabalho), não conseguem nem dois dígitos. Outro ministro, Fernando Haddad (Fazenda), não quer e não vai para a disputa de novo. Apoiado pelo petismo na eleição de 2024 e deputado mais votado do estado em 2022, Guilherme Boulos (PSOL) deve aceitar o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência, ficando assim longe das urnas. O desespero é tamanho que uma ala do partido já cogita até recorrer à ex-prefeita Marta Suplicy, que terá 81 anos na eleição.

O caminho quase certo do PT será apoiar alguém de outro partido. O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), hoje vice-presidente, é o que se sai melhor nas pesquisas, mas mesmo assim perderia por muito para Tarcísio e, até por isso, não tem se mostrado disposto. O único que colocou seu nome para jogo por ora é o também ministro e também do PSB, Márcio França (Empreendedorismo). Segundo levantamento do Paraná Pesquisas divulgado no último dia 6, França, que também é ex-governador, aparece liderando um dos cenários, com 21,8%, desde que Tarcísio não participe. Com o governador no ringue, o socialista aparece com 11,9% e Tarcísio com 46,5%, o que dá uma dimensão do desafio. Apesar dos números, ele se diz otimista para 2026. “Quem debater com a gente vai ter que se preparar”, afirma.
Se em São Paulo o cenário é desanimador para o PT e Lula, em Minas Gerais é ainda pior. Enquanto opções fortes da direita, como o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e o deputado Nikolas Ferreira (PL), têm em torno de 40% do eleitorado, segundo Paraná Pesquisas de abril, o PT tem no deputado Reginaldo Lopes o nome com maior apoio eleitoral: míseros 3,8%. Por isso, o partido deve amargar a segunda eleição consecutiva sem candidato. Em 2022, apoiou Alexandre Kalil (PSD), derrotado por Romeu Zema (Novo) no primeiro turno — Lula, porém, venceu no estado. O presidente sabe da situação difícil, tanto que insiste na única candidatura que pode lhe dar um palanque competitivo, a do senador Rodrigo Pacheco (PSD) — que não demonstra a mesma empolgação. “O plano número 1, número 2, número 3, número 1 000 do PT é reeleger Lula, mesmo que amargue mais uma eleição sem candidatura majoritária no estado”, diz Eduardo Grin, cientista político da FGV.

Para piorar a situação, o governo vive mau momento, com popularidade ruim, e deverá ter muita dificuldade para manter a base em torno de Lula em 2026. Embora Bolsonaro esteja inelegível, a centro-direita e a direita têm se articulado com mais desenvoltura neste ano pré-eleitoral. O União Brasil e o PP formaram o maior agrupamento do Congresso, que nasceu pregando contra o petista. Governadores de oposição se movimentam para reforçar seus nomes para o ano que vem, como Romeu Zema (MG), Ratinho Junior (PR), Ronaldo Caiado (GO) e Eduardo Leite (RS). Com as primeiras trincas no eleitorado surgindo até na fortaleza nordestina, a situação precária em São Paulo e Minas cria perigoso estado de alerta a Lula.
Publicado em VEJA de 23 de maio de 2025, edição nº 2945