Carta ao Leitor: O grande salto verde
Com ações urgentes, Brasil pode subir de patamar na escala do desenvolvimento, fazendo uso de seus recursos com sabedoria e eficácia
Nesta temporada de temperatura planetária em elevação inédita, a Floresta Amazônica, maior reserva natural do mundo, nunca frequentou tanto os holofotes globais. A cada novo périplo internacional do presidente Lula, líderes de toda parte trazem o tema à mesa, não apenas sob o ângulo da inadiável proteção da exuberante paisagem, como também o da exploração sustentável de tamanha riqueza. É um bem-vindo sinal de que o debate ambiental vem superando a falsa ideia de que prospectar possibilidades de ganho financeiro em um cenário como esse é o mesmo que rasgar a cartilha da sustentabilidade. Definitivamente, não é — e os números estão aí para mostrar que o capitalismo verde já é uma realidade possível, capaz de fazer o Brasil, detentor de 60% da floresta, subir de patamar na escala do desenvolvimento fazendo uso de seus recursos com sabedoria e eficácia. Segundo a Associação Brasileira de Bioinovação, atividades na região em setores como agronegócio, alimentação, farmacêutica e genética podem render ao país quase 1,3 trilhão de reais até 2050. “Estamos muito bem posicionados para nos beneficiar da economia verde”, diz Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central.
Historicamente, sucessivos governos não têm conseguido atingir o equilíbrio necessário a uma economia sustentável e moderna. E os níveis de devastação, entre altos e baixos, avançaram de forma preocupante. Recordes negativos foram batidos na gestão de Jair Bolsonaro, que deu as costas ao progresso registrado na área mundo afora. O então presidente chegou a estufar o peito para falar: “Sou o campeão da motosserra”. Em capa de 21 de agosto de 2019, VEJA alertou sobre o fato de que os ataques ao ambiente feriam a natureza e afastavam vultosos investimentos. Na presente edição, a revista volta ao assunto, em uma reportagem conduzida in loco pelo repórter Ernesto Neves, 38 anos, com especialização em economia ambiental pela Universidade Thompson Rivers, no Canadá. Ernesto embarcou para a Ilha de Marajó, no Pará, para conhecer projetos que envolvem produção de cacau, extração de madeira e o mercado de carbono, já bem estabelecido nos Estados Unidos e na Europa, que premia financeiramente os que preservam o verde. “A floresta de pé passa a ter valor de mercado e muita gente está ganhando dinheiro com isso”, diz ele.
Com tão vasto potencial, o Brasil não pode se dar ao luxo de frear seu avanço nesse lucrativo terreno. Falta de regulamentação e travas burocráticas precisam ser enfrentadas de uma vez por todas. Nesse sentido, surge um amanhecer alvissareiro no horizonte. Está nas mãos do ministro Fernando Haddad a elaboração do Plano de Transição Ecológica, previsto para ser lançado nas próximas semanas, composto de ações com o objetivo de ajudar o país a virar a página rumo a uma vigorosa economia verde. Não será fácil, já que impõe uma mudança essencial de mentalidade, mas sua implementação, que vai na direção certa, deve ser atentamente observada. Também nos próximos dias, em 8 e 9 de agosto, presidentes de oito países se reunirão na Cúpula da Amazônia, em Belém, para debater os caminhos trilhados pela rica região — bem conduzidos, representam esperança de crescimento econômico sem danos. É o mundo olhando com atenção para o Brasil.
Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852