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Carta ao Leitor: No banco dos réus

Depois de tantos atos irresponsáveis e com motivações duvidosas, Bolsonaro finalmente precisará prestar contas sobre seu comportamento

Por Redação Atualizado em 4 jun 2024, 10h27 - Publicado em 23 jun 2023, 06h00

Quem acompanha política de perto certamente já ouviu a expressão “chocar o ovo da serpente”, eternizada num filme do cineasta sueco Ingmar Bergman a respeito do contexto que facilitou o surgimento do nazismo na Alemanha. O termo simboliza o prenúncio da gestação do mal, as condições que levam um país a optar por uma solução absolutamente inaceitável em nome de um ilusório bem-estar no futuro. No universo político, tal imagem passou a ser usada para caracterizar movimentos que tentam tirar dos porões e trazer à luz a sanha golpista, com ambições de confrontar instituições até culminar na derrubada de governos democráticos. Desde os anos de trevas da ditadura militar, que tomou o país em 1964, o Brasil nunca havia flertado tão de perto com esse perigo sorrateiro e peçonhento quanto nos últimos tempos.

Se ainda havia alguma dúvida a respeito disso, duas capas de VEJA neste ano mostraram claramente a tentativa de gestação do “ovo da serpente” durante o apagar das luzes do governo passado. Em uma delas, o senador Marcos do Val relatou que, em uma reunião no início de dezembro com Jair Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira, o então mandatário teria lhe pedido para gravar conversas com Alexandre de Moraes, presidente do TSE, com o intuito de arrancar do ministro alguma indiscrição capaz de anular as eleições vencidas por Lula. Na edição da semana passada, o editor Robson Bonin revelou um relatório da PF sobre o conteúdo do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Havia ali o roteiro detalhado para um golpe de Estado e conversas conspiratórias com membros da alta cúpula militar destinadas também a melar o resultado do pleito vencido pelo petista.

Para além da proximidade de Bolsonaro com esses colaboradores, não surgiu até agora nenhuma prova cabal de seu envolvimento direto na tentativa de quartelada, mas é inegável que o ex-presidente ajudou a insuflar o espírito insurgente em alguns círculos militares, algo bastante grave por si só. Os atos de vandalismo de 8 de janeiro, vale destacar, são frutos diretos dessa catequização contínua. Entre outros episódios lamentáveis, Bolsonaro patrocinou desfiles de tanques na Esplanada dos Ministérios, bradou em cima de um palanque que não cumpriria decisões do STF e por diversas vezes colocou sob suspeita a lisura das eleições. O capitão perpetrou acusações sem provas até em uma reunião com embaixadores estrangeiros realizada no Palácio da Alvorada.

Esse episódio está no centro do julgamento iniciado na última quinta, 22, no TSE, que pode torná-lo inelegível. A acusação é de que houve abuso de poder, com uso de recursos do Estado para propagar notícias falsas. Os bastidores do caso e as implicações políticas de uma possível condenação são temas da reportagem na edição da semana. Depois de tantos atos irresponsáveis e com motivações duvidosas, Bolsonaro finalmente precisará prestar contas sobre seu comportamento. Ao contrário do que ele mesmo pregou, o ex-presidente terá pleno direito a fazer sua defesa em um julgamento justo e imparcial — prova da força de nossas instituições, as mesmas que foram firmes e decisivas para afastar o risco de um novo “ovo da serpente” no país.

Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847

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